Natal: festa da simplicidade e pobreza

“Vamos, pois, até Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer” (Lc 2,15)

Com estas palavras, os pastores, logo após ter-lhes aparecido o anjo da Boa Notícia, dirigem-se, pressurosos, à cidade de Belém. Uma paz indizível enchia-lhes os corações. As palavras misteriosas daquele enviado divino deram-lhes um novo rumo, mudando completamente as suas vidas e história. Toda uma vida dedicada a proteger ovelhas, comtemplando estrelas e sentindo na pele o frio e o vento constante das montanhas que circundam a cidade de Belém, famosa somente por ter dado berço ao santo rei Davi. Porém, nessa noite de luz e de paz, não somente brilham as estrelas nos céus, mas, para completar tal brilho, anjos cantam “Glória a Deus nas alturas”, pois “nasceu para vós hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor!”. Eis o motivo da pressa! Esses simples homens, perdidos no meio da noite enquanto todos dormiam, eram os únicos disponíveis a ouvir a voz do anjo e testemunhar, por primeiro, a realização da promessa tão esperada. Eram os únicos acordados, prontos para deixar tudo e por-se em marcha para a cidade da luz.

Cheios de alegria, não se preocupam com as ovelhas que vão transcorrer a noite sozinhas, mas confiantes naquela misteriosa voz e, provavelmente, sem compreedê-la completamente, chegam até o lugar onde se encontravam Maria, José e o recém-nascido. Quanta surpreza! O menino se encontra deitado numa manjedoura. Nenhum palácio, nenhum berço dourado para acolher tão precioso dom. Como se nenhuma riqueza fosse capaz de conter o Filho de Deus, aquele presépio servia-lhe de berço e o apresentava pobre e indefeso no meio dos pobres e indefesos. Ao redor daquele présepio, os pastores se sentem em companhia de um igual. Não precisam se preocupar com as formalidades de corte para se aproximarem do Rei dos reis, pois também Ele quis desprezar o que aos homens era segurança para demonstrar-lhes que Deus “derruba dos tronos os poderosos, para exaltar os pobres e humildes”. Na pobreza do presépio, as palavras de Maria começam a se cumprir.

Essa belíssima cena do nascimento de Jesus, tão cuidadosamente descrita por São Lucas, quer nos ensinar o sentido do Natal e a maneira como devemos celebrá-lo. O Natal não é a festa do poder e da riqueza, mas da simplicidade e da pobreza. Corações orgulhosos e soberbos, confiantes no poder dos bens materiais, estão ainda muito distantes da manjedoura de Belém. Precisam cair dos tronos, dos tantos falsos tronos, e deixarem que Deus os levante humildes e confiantes somente na Sua graça. Celebra-se o Natal em vigília, pois aquele que quer ouvir Boas Novas precisa estar acordado, com os ouvidos bem abertos e pronto para deixar tudo no meio da noite, da escuridão, e, pressuroso, ir a Belém para encontrar e contemplar a luz do mundo.

Para nós que mais um ano temos a graça de celebrar o Natal aqui na gruta de Belém, delicado carinho do Pai, preparamo-nos com o coração cheio de esperança. Desejamos que, mais uma vez, o espírito natalino toque os corações dos povos que aqui vivem e os pacifique, destruindo todo espírito de guerra e revolta, para que Belém possa ser, realmente, a casa onde jorra a paz e atingir todo o universo com sua genuina mensagem do amor Deus que, para nos salvar, fez-se como um de nós. E o que eram os homens daquela e de todas as épocas, senão pobres e miseráveis, ansiosos por salvalção, sendo eles ricos ou pobres, morando em palácios ou guardando ovelhas? Se Cristo quis nascer assim, é porque, somente assim, Ele se assemelharia, completamente, aos homens de todos os tempos. Na sua humilhação, elevou-nos todos nós à antiga semelhança divina.

Caríssimos irmãos, vamos todos a Belém. Vamos aprender, mais uma vez, o sentido da pobreza que se manifesta no maior ato de generosidade de nosso Deus.

Feliz Natal e um santo Ano Novo!

Padre Luciano Zilli, amigo da Canção Nova Terra Santa
Arq. Palmas – TO
Jerusalém, 24 dezembro 2008
lucianozilli@hotmail.com