Coração Missionário

O coração é algo mais do que aquele músculo vital que trazemos em nosso peito

Lembro muito bem daquele dia. Já se vão mais de 10 anos. Eu era estudante de teologia em Taubaté. Fui fazer uma visita à Canção Nova. A TV era um sonho. A comunidade reunia apenas um pequeno grupo. Havia uma casa onde moravam os seminaristas da diocese de Lorena. Pe. Jonas era o formador. Dentro de mim fervia uma inquietude: como é possível viver a espiritualidade da Renovação Carismática Católica e o carisma de uma congregação como a do Coração de Jesus? Será possível? Troquei algumas idéias com Pe. Jonas e outras pessoas da comunidade. Rezamos.

Voltei para Taubaté com o coração ardendo. De repente uma canção tomou conta de mim. Hoje tenho a impressão de que foi ela quem me compôs: ‘Jesus, manda teu Espírito, para transformar meu coração’. O refrão continuava insistente. Parei e deixei a canção soar. Lembro que não consegui compor as estrofes logo. O refrão parecia querer me dizer algumas coisas que ocupariam o resto de minha vida. Procurei meu refúgio na Sagrada Escritura. Fui percebendo que o Espírito Santo é derramado em nossos corações para nos tornar semelhantes ao próprio Cristo. Comecei a repetir com mais convicção a prece que aprendi no berço: Jesus, manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso’.

Depois de alguns dias a canção estava pronta. Hoje posso dizer que ‘Conheço um Coração’. Sei muito bem que uma Canção Nova precisa brotar de um Coração Novo. Meu coração continua ardendo. Entendi a mensagem do Mestre. Somos um só coração e uma só alma. Vivemos em comunhão e partilhamos a mesma missão. Não existe confusão entre as comunidades e congregações. Mas deve existir uma profunda solidariedade, pois somos a mesma Igreja, corpo místico de Cristo.

O Coração de Jesus é o modelo para todos nós. É claro que este coração é algo mais do que aquele músculo vital que trazemos em nosso peito. Quando falamos de coração entendemos o Cristo todo. Porém, até mesmo o coração biológico tem lições importantes para nos dar. Andei estudando um pouquinho e descobri que o coração bate cerca de dois bilhões e meio de vezes durante a vida, bombeando cerca de cento e cinquenta milhões de litros de sangue.

O sangue vai para todo o corpo por meio do sistema circulatório. Primeiro o coração bombeia o sangue para os pulmões onde é purificado por meio do oxigênio que respiramos. Depois este sangue vai pelas artérias para todos os cantos do corpo humano. Para realizar este milagre da vida o coração bate cem mil vezes por dia. As batidas do coração consistem em dois movimentos. O primeiro se chama sístole. É o estado de contração das fibras musculares do coração. O segundo é conhecido como diástole. É um movimento de dilatação do coração após a fase de contração.

Você deve estar pensando: será que o Pe. Joãozinho virou cardiologista? Nem tanto. Mas descobri algo de maravilhoso nestes dois movimentos cardíacos que ocupam cada segundo da nossa vida. Na diástole, o relaxamento do coração permite que o sangue venha de todo o corpo. Este sangue chega com toda espécie de impureza. A sístole empurra este sangue para frente. Sabe o que descobri? Que existe dentro de nós um movimento de comunhão (diástole) e de missão (sístole). Entendeu? O coração não pode ficar guardando o sangue. Ocorreria um infarte. É preciso enviar o sangue para todo o corpo. Este é um movimento missionário. O cristianismo é assim. Devemos nos reunir em comunhão. Porém precisamos sair em missão. Comunhão e missão garantem o ritmo da vida. Hoje posso cantar: ‘Jesus, manda teu Espírito, para enviar-nos em missão’.

Pe. Joãozinho, scj

Comments

comments