Curso sobre Paulo e suas Cartas

2. Paulo, convertido fervoroso: dos 28 aos 41 anos

a) A queda no caminho de Damasco.

Com 28 anos Paulo tinha poder e prestígio. Conseguiu credenciais para perseguir a nova seita. No caminho de Damasco ouviu uma voz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4). Jesus se identifica com os perseguidos e Paulo “cai de cavalo”.

A Escritura vale-se de quatro imagens para descrever o sucedido, duas do próprio Paulo e duas de Lucas:

* A queda – Deus derrubou Paulo (At 9,4; 22,7; 26,14), experiência essa também feita por Jeremias (Jr 20,7);

* Ofuscamento e cegueira (At 9,8-9), como acontecera com Ezequiel (Ez 1,27-28);

* O próprio Paulo fala em aborto (1Cor 15,8) para explicar seu nascimento para Cristo, como algo surpreendente, violento;

* Ele via sua conversão qual despojamento (Fl 3,8), como Cristo que se despoja de tudo.

b) Ruptura e continuidade.

Sem dúvida houve uma grande ruptura na vida de Paulo:

* o inimigo torna-se discípulo;

* o perseguidor transforma-se em entusiasmado pregador;

* aquele que apostava na rigorosa observância da Lei e na Tradição dos antigos, para conseguir a salvação, agora sabe que ela é gratuidade, puro dom;

* o perseguidor blasfemo e insolente (1Tm 1,3) passa a ser o que mais trabalha pela causa de Jesus (1Cor 15,10);

* se antes procurava a observância da Lei para a própria justificação, agora consagra-se ao serviço dos outros, no amor que é a plenitude da Lei (Rm 13,10; Gl 5,14).

Mas houve também continuidade:

* no zelo e no ardor,

* na busca da justiça,

* no esforço, perseverança e entusiasmo.

Paulo continua querendo ser fiel a Deus e ao seu povo. Cristão, ele não deixa de ser judeu. Por ser fiel às esperanças de seu povo é que acaba reconhecendo em Jesus a realização das promessas de Deus (2Cor 1,20).

c) A lenta maturação: “É Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Mais do que um momento, também para Paulo a conversão foi um processo lento. Lucas oferece uma tríplice narração da experiência no caminho de Damasco (At 9,1-19; 22,4-16; 26,9-18), mas não apresenta a gradativa mudança que vinha acontecendo antes e a prolongada conversão que continuou até o fim de sua vida. É bom ler o próprio Paulo: Rm 6,8; 8,35; 1Cor 13,4-8.13; 2Cor 12,10; Gl 2,20; 6,14-15; Cl 1,24; 1Ts 5,16-17.

d) Nova fonte de espiritualidade: beber no próprio poço.

Pessoas bem concretas intermediaram a experiência que Paulo fez de Jesus:

* Estêvão (At 7,55-60);

* Ananias (At 9,17);

* Barnabé (At 9,27; 11,25; 13,2);

* Priscila e Aquila (At 18,2.18; Rm 16,13; 1Cor 16,19);

* Lídia (At 16,14-15.40);

* Pedro, Tiago e João (Gl 2,9);

* Timóteo (Rm 16,21; 1Ts 3,2-6; 1Cor 16,10; 1Tm 1,2);

* Eunice e Lóide (2Tm 1,5);

* Febe, a diaconisa (Rm 16,1);

* Tantas outras pessoas…

A espiritualidade passa pela cotidianidade, não pelos fios de alta tem-são, mas pelos fios da rede doméstica, na amizade e na solidariedade, no conflito e na luta, no amor e no serviço.

Pelo batismo fomos sepultados com Cristo, na morte” (Rm 6,3), pode muito bem ter sido fruto das experiências feitas: * no apedrejamento em Listra (At 14,19), * na prisão de Éfeso (2Cor 1,8-9), * na flagelação de Filipos (At 16,22-23).

e) Os lugares trilhados por Paulo

Afamado como opositor ferrenho dos cristãos, acaba passando para eles. Pode-se imaginar a decepção de seus antigos correligionários e as suspeitas dos que lhe seriam os novos companheiros. Por isso os judeus procuram eliminá-lo. A saída foi a fuga (At 9,20-25).

Viajou para Arábia, voltou a Damasco, foi a Jerusalém onde ficou com Pedro por 15 dias (Gl 1,18) seguindo, depois, para Síria e Cilícia (Gl 1,21). Conforme At 9,27 em Jerusalém Paulo foi acolhido com reservas e Barnabé o apadrinhou. Curiosamente, foram os helenistas que tramaram sua morte (At 9,29). Por isso foi retirado para Cesaréia e dali para Tarso (At 9,30).

Mais tarde Barnabé levou-o para Antioquia da Síria que se tornou uma comunidade muito viva e centro irradiador da Boa Nova (At 11,25-30). Assim foi sendo preparado o terreno missionário para Paulo.

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