Curso sobre Paulo e suas Cartas

Paulo, o missionário itinerante: dos 41 aos 53 anos

Paulo: escolhido para anunciar o Evangelho:
j Separado por Deus desde o ventre materno e por sua graça chamado, recebeu a revelação de seu Filho para evangelizar os gentios (cf. Gl 1,15-16);
k “Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes, necessidade que se me impõe: ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16).
Ler At 13,2-3. Já em At 13,9 mostra-se que Saulo/Paulo é o chefe da missão.

a) As viagens de Paulo.
At mostra três ou quatro grandes viagens: a primeira começou em 46 e a terceira terminou em 58 (a quarta, em 60). Mas Paulo deve ter feito outras viagens e outros missionários fizeram-nas muitas. Apresentando três ou quatro viagens do grande Paulo, Lucas tem um escopo preciso de mostrar o modelo de missionário e, através dessas viagens, oferecer um esquema que abranja a totalidade da missão.
2Cor 11,25-26.
Viajava-se: por terra (a pé, no lombo de animal, de carroça); por mar (barcos à vela ou remo).
Paulo chegou, assim, às grandes cidades do Império: Antioquia, Atenas, Corinto, Éfeso,… Roma. Ele viajava em companhia de outros missionários: Barnabé e João Marcos, na primeira viagem (At 13,3-5); Silas e Timóteo (At 15,1-3), Lucas (At 16,11), Priscila e Áquila (At 18,18), entre outros, na segunda viagem; Muita gente (At 19,22; 20,4-5;21,16) na terceira e quarta viagens.
Paulo falava hebraico (de família e por estudar em Jerusalém), Grego (Tarso), Aramaico (língua do povo, após o cativeiro) e, provavelmente, Latim (língua do Império). Mas confrontou-se com uma variedade notável de outras línguas e dialetos. Mas a língua não basta: Gl 3,1; At 14,11-18.
Para tantas viagens e em situações tais, Paulo devia dispor de boa saúde. A doença, porém, não o impedia de anunciar o Evangelho (Gl 4,13). Sem grandes recursos nem patrocinadores, Paulo garantia os fundos para si e sua comitiva com o próprio trabalho (At 20,33-34).
Paulo começa as comunidades e vai adiante. A partir da Segunda viagem escreve cartas que deviam ser lidas nas comunidades (1Ts 5,27) e trocadas entre as comunidades (Cl 4,16). Escreveu muitas cartas, mas nem todas foram conservadas e outras foram ajuntadas numa só.

b) Visão geral das três viagens: Paulo aprende e aprimora a evangelização.

Primeira Missão (At 13,1 – 14,28): “semeadura”

Permanece na Ásia, organiza as comunidades e segue adiante. É a “semeadura”.
* Partida de Antioquia da Síria, com Barnabé e João Marcos;
* Conflito com o mago Elimas;
* Desistência de João Marcos;
* Discurso aos judeus;
* Pregação aos gentios e reação violenta dos judeus;
* Retorno para Antioquia.

Intervalo: Concílio de Jerusalém, adesão de gentios ao Evangelho (At 15,3-22).

Segunda Missão (At 15,40 – 18,22): “cultivo”
Entra na Europa, demora-se mais nas comunidades. Trata-se de continuação da “semeadura” e já “cultivo”.
* Partida de Antioquia, com Barnabé e Silas (mais tarde, Timóteo, Lucas e outros);
* Faz-se acompanhar por Silas, Timóteo (Lucas?);
* Hospedagem em casa de Lídia;
* Discurso aos pagãos (fracasso no Areópago de Atenas);
* Estadia de 18 meses em Corinto, passagem por Éfeso e Jerusalém;
* Retorno à Antioquia.

Terceira Missão (At 18,23 – 21,26): “colheita”
Vai direto a Éfeso, donde evangeliza outros lugares. Consolida pólos de irradiação e já começa uma certa “colheita”.
* Partida de Antioquia; * Passagem pelas comunidades para confirmá-las; * Estadia de três anos em Éfeso; * Conflito com os ourives; * Discurso para as lideranças cristãs, em Mileto;
* Viagem a Jerusalém, onde é preso.

Quarta Missão (At 21,27 – 28,31): “armazenamento”
Testemunho: Jerusalém, viagem, Roma…

c) Paulo e o trabalho manual.
Na época distinguiam-se dois tipos de trabalho: para os cidadãos livres, o liberal (cabeça) e para os escravos, o servil (manual). Com a conversão Paulo deixou o tipo de vida que lhe permitiria dedicar-se ao trabalho intelectual (dirigir a fábrica ou ser professor) para ocupar-se com a missão para cujo sustento necessitava do trabalho manual (1Cor 4,12).
Paulo reconhecia a si e aos missionários o direito de obter o sustento da comunidade (1Cor 9,4-14), mas fazia questão de anunciar o Evangelho gratuitamente, sem onerar a comunidade (1Cor 9,18; 2Cor 11,9.17). Isso era seu título de glória (1Cor 9,5).
Paulo, embora dispusesse de meios para a vida “mansa”, insere-se no ambiente das grandes massas humanas que não tinham outra alternativa que não a de trabalhar servilmente. Nesses meios surgiu a maioria das comunidades cristãs. Rompe com a ideologia dominante e opta pela fraternidade. Adota o estilo de vida dos pobres. Enquanto trabalha em Corinto, escreve sobre isso: 1Ts 4,11-12.
Na verdade, Paulo é um trabalhador que anuncia o Evangelho.

d) O Evangelho aos gentios.
Ao início, o Evangelho era só anunciado aos judeus, na Palestina. Curiosamente, a perseguição protagonizada por Paulo é que levou os discípulos a pregar aos não judeus, como aconteceu em Antioquia, terceira cidade do Império (depois de Roma e Alexandria). Para ali, onde os discípulos receberam o nome de cristãos, é que Barnabé levou o próprio Paulo (At 11,22-26).
Era normal que, na cabeça dos cristãos provenientes do judaísmo, quem quisesse entrar na comunidade deveria passar pelas exigências judaicas. Pedro fizera uma verdadeira conversão nesse sentido (At 10,11-18). Mas será Barnabé, e mais ainda Paulo que fará o grande passo: Rm 3,21-24. O gentio poderia ser cristão sem renunciar à sua identidade e cultura.

e) Os conflitos com o Império.
A atitude de Paulo, em relação ao trabalho, com o preparo que tinha, já era uma contestação à ideologia imperial. Um cidadão romano apresentar-se como exemplo, justamente ao assumir um trabalho servil, significava um sério protesto.
Mesmo que Lucas procure mostrar Paulo de bem com o Império, na prática ele sofreu muitas perseguições, tendo as instituições imperiais mobilizadas contra si. Por fim é o Império que o assassina por causa da sua fé em Jesus Cristo.
Em Damasco, as portas da cidade são vigiadas para matá-lo; em Jerusalém os helenistas querem tirar-lhe a vida; em Chipre, o mago Elimas procura afastar dele o cônsul; em Antioquia da Pisídia, mulheres da alta

sociedade e os chefes da cidade são instigados contra ele; em Listra , os judeus mobilizam a multidão contra Paulo; em Filipos é torturado; em Éfeso os ourives colocam a cidade contra ele; em Jerusalém a multidão amotinada quer matá-lo. Leia-se 2Cor 11,25.
Na sociedade greco-romana só conta a elite privilegiada. Paulo propõe uma sociedade alternativa: Gl 3,28; Cl 3,11.

f) Paulo e as mulheres.
Como toda pessoa, também Paulo é vítima de múltiplos condicionamentos. Ele é um homem do seu tempo, numa sociedade patriarcal, onde a mulher é relegada a um plano inferior. Isso, porém, não justifica a leitura forçadamente antifeminista que tem sido feita de Paulo:
1Cor 11,12-26; 1Cor 14,34-35; Ef 5,21-24; 1Tm 2,9-15. Mas é preciso ver também: Rm 16,1-17;
Cl 4,15; At 16,13-15 (Fl 4,10-18); 1Cor 9,5.
Paulo usa imagens femininas e maternas para descrever seu apostolado: 1Ts 2,7; Gl 4,19;
1Cor 3,2; Fl 1,8; Rm 8,22-23.

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