O mês de Outubro é na Igreja o mês missionário, por excelência. No dia 1 celebra-se a festa de Santa Teresa do Menino Jesus, que a Igreja proclamou padroeira dos missionários
Vale a pena relembrar algumas facetas desta jovem que aos 24 anos encerrou uma vida cheia de comunhão com Deus e com a humanidade.
Cada santo é um dom para a Igreja e para a humanidade. É como uma fotografia de Deus, de cuja plenitude colhe um aspecto ou um pormenor que ilumina toda a sua vida. Vem isto a propósito de Santa Teresa de Lisieux, proclamada por João Paulo II doutora da Igreja, em 1997.
Olhando para a sua vida, poderá causar admiração o facto de uma Carmelita, que viveu 9 anos num convento de rígida clausura, ter sido proclamada padroeira das Missões juntamente com o grande evangelizador S. Francisco Xavier. Pode igualmente maravilhar o facto de ela ter sido proclamada doutora da Igreja ao lado de S. Teresa de Ávila e de Santa Catarina de Sena, ela que apenas deixou uma sua autobiografia, algumas cartas e poesias. Não faltaram vozes de iminentes teólogos a louvar esta iniciativa.
Mas que terá acontecido no mundo interior desta jovem que aos 24 anos atinge o cume da santidade? Seria preciso ler ou reler a sua autobiográfica “História de uma alma” e outros escritos para entender as maravilhas que Deus realizou na sua tão breve existência. Compreenderíamos como é importante o ambiente familiar em que se cresce e se é evangelizado, mas também como são possíveis voos altíssimos de santidade em almas que no seu nada se oferecem totalmente a Deus para o bem da humanidade. Nunca vi ninguém tão consciente da sua pequenez. Mas também nunca vi ninguém com um coração tão largo capaz de abranger o mundo inteiro no desejo de salvar todos os homens.
“Apesar da minha pequenez, gostaria de iluminar as almas como fizeram os profetas e os doutores. Tenho vocação de apóstolo… Gostaria de percorrer o mundo, pregar o teu nome e plantar no solo infiel a tua cruz gloriosa, mas, meu Amado, não me bastaria uma só missão; gostaria ao mesmo tempo de anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo e até às ilhas mais remotas… Gostaria de ser missionária não só por um ano, mas sim desde a criação do mundo e até à consumação dos séculos… Gostaria de derramar o meu sangue por ti, até à última gota”.
Escrevendo ao missionário P. Roulland dirá: “Sentir-me-ei verdadeiramente feliz por trabalhar convosco na salvação das almas; foi com esta finalidade que me fiz Carmelita; não podendo ser missionária pela acção, quis sê-lo pelo amor”.
Um caminho completamente novo
Teresa de Lisieux ensinou um caminho de santidade acessível a todos: o caminho da pequenez evangélica e do abandono filial nos braços do Pai.
“Sempre desejei ser santa, mas comparando-me com os santos vi que entre eles e mim havia a mesma diferença que existe entre uma montanha, cujo cume se perde nos céus, e um grãozinho de areia perdida e pisada debaixo dos pés de quem passa. Em vez de desanimar, disse para mim mesma: Deus não inspira desejos que não se podem actuar, e por isso posso, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Tornar-me maior é-me impossível, devo aceitar-me assim como sou, com todas as minhas imperfeições, mas quero procurar o meio de ir para o céu por um caminho bem mais direito, muito breve, um pequeno caminho completamente novo.
Estamos num século de invenções, já não vale a pena subir pelas escadas; nas casas dos ricos há um ascensor que as substitui com vantagem. Queria também eu encontrar um ascensor para subir até Jesus, porque sou pequena demais para subir a dura escada da perfeição. Procurei nos Livros Santos a indicação do ascensor, objecto do meu desejo, e li estas palavras pronunciadas pela Sabedoria eterna: “Se alguém é pequeno venha até mim” (Prov 9,4). (…) Ser pequeno é reconhecer o próprio nada, esperar tudo de Deus misericordioso, como uma criancinha espera tudo do seu papá, e não se preocupar com coisa alguma, não ganhar riquezas”.
A chave da sua vocação
“Não obstante a minha pequenez, queria iluminar as almas como os Profetas, os Doutores, sentia a vocação de ser Apóstolo… Li no cap. 12 da 1ª Carta de S. Paulo aos Coríntios que nem todos podem ser ao mesmo tempo Apóstolos, Profetas, Doutores, etc. , que a Igreja é formada por membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos. A resposta era clara, mas não satisfazia completamente os meus desejos e não me trazia a paz. Continuei a ler e encontrei esta frase que me confortou profundamente: Procurai com ardor os dons mais perfeitos; eu vou mostrar-vos um caminho mais excelente. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos não são nada sem o amor e que a caridade é o caminho mais excelente que nos leva com segurança até Deus. Finalmente tinha encontrado a tranquilidade. A caridade ofereceu-me a chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia agir os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho, nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno… Encontrei finalmente a minha vocação. A minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor”.
Um alimento sólido e puro
Através da Palavra de Deus rezada e meditada, Teresa de Lisieux descobriu o amor de Deus como fonte de comunhão e de solidariedade com todos, santos e pecadores, crentes ou não crentes. O Evangelho foi para ela o alimento sólido que nunca abandonou, mesmo quando a sua fé foi atormentada por uma terrível escuridão. “Os livros deixavam-me na aridez; quando abro um livro de um autor espiritual, sinto o meu coração fechar-se e leio sem compreender, ou então compreendo sem pôr lá o meu coração. É nestas circunstâncias que a Escritura e a Imitação me vêm em socorro e aí encontro alimento sólido e puro. É sobretudo o Evangelho que me ocupa durante a oração: nele encontro alimento, para a minha pobre alma. Descubro sempre coisas novas, luzes novas… Compreendo e sei por experiência que o reino de Deus está entre nós”.
Qualquer pequenez pode ser estimada e transformada em missão permanente.
Aos olhos de Deus, é inestimável o valor da oração, do trabalho e do sacrifício oferecido pela missão da Igreja.
Escrever aos missionários, que se encontram no campo de trabalho, como ela fazia, não só manifesta interesse por uma causa que é de todos, mas é uma óptima forma de apoio e uma comunhão de fé, de oração e de oferta da própria vida.
Viver, como ela vivia, o momento presente dá intensidade e fecundidade a tudo aquilo que se faz como acto de amor a Deus e de amor a cada irmão: “Tu bem sabes, ó meu Deus, que para amar-te só tenho este momento”.
Fonte:http://www.fatimamissionaria.pt