Nunca fez parte dos meus planos ser sacerdote. Não o esperava sequer. Não tenho ninguém na família que seja religioso. Aos vinte anos não colocava sequer a vida religiosa como hipótese quando, por exemplo, em conversas entre amigos falávamos acerca dos nossos planos para o futuro.
Foi algo que me apanhou de surpresa que me custou a entender, justificando-me, ao início, que a “morada do destinatário” estava mal escrita. Não é para mim. – Pensei – É tarde demais, a proposta não deve ser para mim. É pedir demais, não me sinto preparado. É demasiada responsabilidade. Ainda por cima quando a minha situação profissional está solidificada e, emocionalmente, encontrei a rapariga dos meus sonhos. Não! Esta proposta não deve ser para mim. Não há dúvida que os “Correios” se enganaram no destinatário.
Mas não era engano! Era para mim! Era como que um presente e vinha de Deus. Custou-me a aceitá-lo, cerca de um ano de dúvidas… uma enorme vontade de não querer compreender, dei voltas e mais voltas, pensei… Mas tinha surgido de mim, de dentro de mim, ninguém me tinha feito essa proposta. Todos quantos se envolvem ativamente na Igreja já devem ter pensado assim, como eu. – Pensei. Mas essa proposta, que nascera de dentro de mim, foi crescendo ao ponto de já não conseguir contê-la cá dentro… tinha de extravasar.
Após um ano de discernimento, de muito pensar e amadurecer a proposta concluí finalmente que não estava a ficar louco, afinal vinha de Deus este chamamento, e não me sentiria bem comigo mesmo se continuasse a dizer “não”. No fim de contas, era o que Ele queria de mim…
Este aceitar deu-me muita paz. Mas as dúvidas continuaram, e as perguntas, e o assombro… Porquê a mim, se há gente tão mais competente que eu? Porquê?
Mas fora a mim que Deus chamara, e se Ele me tinha chamado é porque tinha… (tem) confiança em mim e nas minhas capacidades. É difícil dizer que não a um chamamento assim, feito com amor e confiança.
É com base nesse amor que hoje, sacerdote, me empenho a cada dia para espalhar o Seu amor, o mesmo amor com que fui arrebatado. É com essa força de vontade que sou uma ponte entre Ele e quem quer que necessite da sua ajuda, do seu conforto. Sinto-me privilegiado por ter seguido este caminho e tento sempre estar à altura das suas expectativas.
Disse sim a Deus mas disse sim (sobretudo) a mim mesmo, não é possível ser feliz ignorando as suas propostas, dizer sim a Deus é ter certeza que, bem lá no fundo, apesar de todas as dúvidas e dificuldades, haverá sempre uma pontinha de felicidade…
Um sacerdote
Fonte: Consolata Jovem (http://consolatajovem.blogspot.com/)