Profissão: como discernir?

Sempre que se pergunta às pessoas centenárias como fizeram para chegar aos 100 anos de idade, elas respondem a uma voz que tiveram de trabalhar a vida toda.

A busca da profissão, sem dúvida, pode ser uma descoberta maravilhosa para toda a vida, mas é preciso estar atento a duas coisas muito importantes:

1) não perder de vista o sentido da profissão e;
2) não limitar-se a ela como o único grande valor a ser cultivado.
Vamos a cada uma das dicas por parte. Uma vez considerando que o homem é um ser-em-busca-de-sentido, a profissão jamais deve ser considerada como um fim em si mesma, ou seja, o homem reduzido a uma máquina e completamente relativizado à pura eficácia dos seus talentos.

Ao contrário, deve servir a alguém, a um objetivo, a uma grande causa; deve tomar parte no crescimento do homem trabalhador (homo faber) e de todo e cada homem.
Deus não nos dá seus dons sem algum objetivo, Ele espera que os usemos para sua obra redentora. O trabalho que tem sentido, significa que realiza algo que tem sentido no mundo, ou que transforma algo que existe no mundo para melhor: visa o bem do mundo! Este trabalho que tem sentido causa uma profunda alegria, uma alegria maior que o cansaço, maior que as dificuldades e mais satisfatória que o retorno financeiro.

A experiência do trabalho para o homem permite a compreensão da criação e de como esta pode ser transformada em vista do Reino de Deus. Deus, em seu amor criativo, chama-nos para fazer de nós participantes e co-reveladores na sua obra contínua de criação e redenção. Certamente Deus não precisa de nós; mas, em sua infinita liberdade, criou-nos para sermos co-criadores, co-artistas, e não apenas meros executores, sem espírito, de sua vontade. Deus nos concede dons e talentos, capacita-nos e nos pede uma resposta criativa para enriquecer a história da salvação. Essa história é marcada pela interação entre Deus e o seu povo, entre uma pessoa e outra, num diálogo co-criativo.

Pensar o discernimento da profissão desta maneira nos põe em contato com Deus e com toda a humanidade, amplia nossa capacidade de amar, promove a partilha dos dons, gera fraternidade e unidade. Desta forma, a profissão escolhida está longe de ser um valor absoluto, ao contrário, é a possibilidade de nos elevar a um valor maior, ao caminho mais excelente de todos: a caridade. “Se me falta o amor, nada sou” (1Cor 13,2). A autodoação, a abertura para os outros – o amor – é a verdadeira realização da pessoa. “Procurai o amor”, exorta São Paulo aos coríntios. Procuremos o amor e encontraremos o nosso lugar e nossa profissão no mundo. Como profissionais do Reino de Deus, Ele mesmo se encarregará de providenciar para nós os meios necessários para melhor servi-lo.

Deus investe em nós abençoando-nos para que os dons concedidos sejam multiplicados. Desde cedo revela-nos sua vontade, dirige os nossos passos e concede-nos inteligência para que possamos encontrar nossa tarefa no mundo e dedicarmo-nos à verdade, assumindo um firme compromisso com ela. Mas, cuidado! nem sempre a escolha certa é a mais fácil. Muitos erraram completamente o alvo por considerar o caminho certo aquele mais rápido. A meu ver, as dificuldades podem ser belíssimas escolas de aperfeiçoamento e crescimento, mas acima de tudo, ajudam-nos a perseverar na opção fundamental, ou seja, na busca, feita de todo coração, do “Deus invisível” presente em toda criação.

O jovem decidido por Deus e que à sua luz deseja buscar sua vontade, não necessitará de longa reflexão e de muito esforço antes de tomar uma decisão coerente, pelo contrário, a escolha brotará de forma espontânea da profundeza interior onde Deus fez sua morada, pois é quando confiamos todo nosso ser a Ele que experimentamos a alegria e a paz de termos finalmente encontrado nossa verdadeira profissão. Quando conhecemos a vontade dele para nós, conhecemo-nos a nós mesmos e desejamos responder com toda a nossa vida. O homem amado por Deus é um feliz participante de sua obra redentora.

Shalom!

Juliana Lemos
Psicóloga e Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom
Retirado da Revista Shalom Maná – Ed. Shalom

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