Utilidade do verdadeiro jejum

Por que teus discípulos não jejuam?
«Como os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando, vêm e lhe dizem: “Por que enquanto os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, teus discípulos não jejuam?”. Jesus lhes disse: “Podem acaso jejuar os convidados ao casamento enquanto o noivo está com eles? Enquanto tenham consigo o noivo não podem jejuar. Dias virão em que lhes será arrebatado o noivo; então jejuarão, naquele dia”».

Deste modo, Jesus não renega a prática do jejum, mas que a renova em suas formas, tempos e conteúdos. O jejum converteu-se em uma prática ambígua. Na antiguidade, não se conhecia mais que o jejum religioso; hoje existe o jejum político e social (golpes da fome!), um jejum saudável ou ideológico (vegetarianos), um jejum patológico (anorexia), um jejum estético (para manter a linha). Existe sobretudo um jejum imposto pela necessidade: o dos milhões de seres humanos que carecem do mínimo indispensável e morrem de fome.

Por si mesmos, estes jejuns nada têm a ver com razões religiosas e ascéticas. No jejum estético inclusive às vezes (não sempre) se «mortifica» o vício da gula só por obedecer a outro vício capital, o da soberba ou da vaidade.

É importante por isso tentar descobrir o genuíno ensinamento bíblico sobre o jejum. Na Bíblia encontramos, com respeito ao jejum, a atitude do «sim, mas», da aprovação e da reserva crítica. O jejum, por si, é algo bom e recomendável; traduz algumas atitudes religiosas fundamentais: reverência ante Deus, reconhecimento dos próprios pecados, resistência aos desejos da carne, solicitude e solidariedade para com os pobres… Como todas as coisas humanas, contudo, pode decair em «presunção da carne». Basta pensar na palavra do fariseu no templo: «Jejuo duas vezes por semana» (Lucas, 18, 12).

Se Jesus falasse aos discípulos de hoje, sobre o que insistiria mais? Sobre o «sim» ou sobre o «mas»? Somos muito sensíveis atualmente às razões do “mas” e da reserva crítica. Advertimos como mais importante a necessidade de «partir o pão com o faminto e vestir o desnudo»; temos justamente vergonha de chamar o nosso de «jejum», quando o que seria para nós o acumulo da austeridade –estar a pão e água– para milhões de pessoas seria já um luxo extraordinário, sobretudo se se trata de pão fresco e água limpa.

O que devemos descobrir são ao contrário as razões do «sim». A pergunta do Evangelho poderá ressoar, em nossos dias, de outra maneira: «por que os discípulos de Buda e de Maomé jejuam e teus discípulos não jejuam?» (é sabido com quanta seriedade os muçulmanos observam seu Ramadã).

Vivemos em uma cultura dominada pelo materialismo e por um consumismo extremo. O jejum ajuda-nos a não deixar-nos reduzir a simples «consumidores»; ajuda-nos a adquirir o precioso «fruto do Espírito», que é «o domínio de si», predispõe-nos ao encontro com Deus que é espírito, e nos faz mais atentos às necessidades dos pobres.

Mas não devemos esquecer que existem formas alternativas ao jejum e à abstinência de alimentos. Podemos praticar o jejum do tabaco, do álcool e bebidas alcoólicas (o que não só a alma, também beneficia o corpo), um jejum das imagens violentas e sexuais que televisão, espetáculos, revistas e internet nos lançam diariamente. Igualmente estas espécies de «demônios» modernos não se vencem senão «com o jejum e a oração».

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