Dom Júlio Endi fala sobre a evangelização pelas redes sociais

Entrevista com Dom JulioNa coluna de tecnologia, dessa semana, entrevistamos o bispo auxiliar de São Paulo, Dom Júlio Endi Akamine. Ele, junto com o Conselho de Bispos da Arquidiocese de São Paulo, lançou um subsídio para o estudo dirigido do Catecismo da Igreja Católica nas redes sociais.

O prelado nos contou como surgiu a inspiração para o projeto e como está sendo a experiência de evangelizar por meio das redes sociais. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

De onde nasceu o desejo de conciliar o trabalho de formação do Catecismo com as redes sociais?

Na verdade, o desejo original foi de preparar um subsídio que auxiliasse e motivasse os fiéis aos estudo do Catecismo da Igreja Católica. Publicado há 20 anos, o Catecismo permanece, a meu ver, como uma pérola escondida, como uma mina pouco explorada. Na reunião dos Conselho de Bispos da Arquidiocese de São Paulo, em julho de 2012, estudamos o Motu Proprio Porta fidei. As reflexões levaram os bispos a idealizar um subsídio sobre o Catecismo. Pensamos em utilizar os meios virtuais para divulgar o material.

Primeiramente, ele seria disponibilizado no site da Arquidiocese para download e, depois, distribuído por e-mail. Não havíamos pensado em usar as redes sociais para a divulgação, mas a passagem foi quase espontânea. Digo “quase”, porque tenho de confessar que resisti para abrir uma conta no Facebook. Não consigo sequer gerenciar os meus e-mails, o Facebook, então, estava fora de cogitação; no entanto, tive de me render.

O Senhor acredita que as redes sociais são locais propícios para a nova evangelização?

As redes sociais não são propriamente um local. Mesmo assim, são espaços que podem se tornar denso de relações, partilha e informação. Por meio delas, as pessoas se encontram e também se desencontram; vínculos entre pessoas separadas pelo tempo, pela distância e outras circunstâncias podem ser reatados em nova amizade, de maneira quase imediata e instantânea. Assim como velhos e novos amigos estreitam relações, creio que as redes sociais possam ajudar as pessoas a reatar a relação com Deus.

A saudade do Senhor, a nostalgia de um amor verdadeiro, o anelo de uma entrega entre pessoas, a aspiração pela bondade radical e pela beleza autêntica podem levar muitas pessoas às redes sociais. É triste quando esse desejo do que é bom e belo é substituído pela alegria compulsiva e dispersiva das baladas, pela curiosidade indiscreta e obscena do que deveria ser guardado com pudor, pela feiura erigida em arte, pelos ídolos do dinheiro e do hedonismo. O mundo virtual é um continente a ser evangelizado e, ao mesmo tempo, um continente de evangelizadores.

Como tem sido o retorno em relação ao método de estudo do Catecismo? As pessoas já estão procurando o senhor pelo Facebook?

Muito pouco. Na verdade, também eu estou aprendendo aos poucos a usar a rede social. Espero poder ser mais proativo nesse sentido. Não ficar só esperando que alguém venha fazer perguntas ou comentários, mas propor e incentivar a reflexão sobre a fé.

Para finalizar, quais dicas o senhor dá para as pessoas que têm interesse em partilhar conteúdo formativo por meio das redes sociais?

O primeiro passo é estudar o Catecismo da Igreja Católica com assiduidade. Ao fazer isso, muitas perguntas surgirão, muitos temas reclamarão uma reflexão mais profunda e um inteligência mais rigorosa.

O segundo passo é ir atrás das respostas. Uma boa pergunta, às vezes, é mais importante do que a resposta, porque é ela que nos tira do comodismo e nos impele ao estudo, à reflexão e à oração. Se não experimentarmos a “angústia” da busca, nunca iremos encontrar nada. Se não exercitarmos o desejo de encontrar Deus, dificilmente nós O encontraremos.

O terceiro passo, não por ser menos importante, é rezar. O Catecismo nos remete a Deus. Ele não é uma teoria a ser aprendida, mas é Alguém a ser conhecido e amado. Sem relação pessoal com Deus cultivada na oração, o estudo do Catecismo se torna mero exercício de erudição livresca.

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