As origens de Jesus no Evangelho de João
A fé cristã professa que Jesus existe desde toda a eternidade ao lado do Pai. Ele é Deus, como o Pai é Deus. Contudo, a união entre os dois não os separa quanto à divindade. Não cremos em três deuses, mas em um só Deus formado por três pessoas divinas. Deus cria por meio de Jesus. A origem da vida está em Jesus, pois ele é o portador da vida.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (Jo 1,1-5).
Por que o apóstolo João afirmou que Jesus é criador, eterno, o portador da vida e a luz? A afirmação de João tem origem nas próprias palavras de Jesus. João narrou certa vez:
Dirigiu-se Jesus para o monte das Oliveiras. Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a ele. Assentou-se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes tu a isso? Perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra. Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra. Inclinando-se novamente, escrevia na terra. A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele. Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Disse-lhe então Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar (Jo 8,1-11).
Os escribas e os fariseus eram os mestres da Palavra de Deus em Israel. Eles eram os especialistas no conhecimento das leis e dos ensinamentos bíblicos. Eles levaram a Jesus uma mulher pega em adultério e disseram que segundo a lei de Moisés ela deveria ser apedrejada. Os escritos de Moisés representam a própria Palavra de Deus dada ao povo judeu, portanto gozam da máxima autoridade. Moisés profetizou que apenas o Messias seria capaz de dar continuidade à sua palavra: “O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir. Eu lhes suscitarei um profeta como tu dentre seus irmãos: pôr-lhe-ei minhas palavras na boca, e ele lhes fará conhecer as minhas. ordens. Mas ao que recusar ouvir o que ele disser de minha parte, pedir-lhe-ei contas disso” (Dt 18,15.18).
Os escribas e os fariseus sabiam que Jesus estava sendo aclamado como o Messias por muitos. Por isso, como não acreditavam nele resolveram armar-lhe uma armadilha para condená-lo. Jesus desconcertou os acusadores e ao perdoar a pecadora demonstrou que o mandamento “não matarás” com ele não é mudado, mas levado à plenitude.
:: Atitudes cristãs na sociedade
Jesus demonstrou por seus ensinamentos e atitudes que não veio para abolir a lei antiga, mas levá-la a plenitude (cf. Mt 5,17-19). O salmista exclamou: “Lâmpada para meus passos é a tua palavra e luz no meu caminho” (Sl 119,105). Jesus demonstrou que a luz de sua palavra dita no passado por meio de Moisés era a luz para iluminar os passos de Israel, mas que a sua palavra dita pessoalmente ilumina o mundo inteiro.
Falou-lhes outra vez Jesus: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida. A isso, os fariseus lhe disseram: Tu dás testemunho de ti mesmo; teu testemunho não é digno de fé. Respondeu-lhes Jesus: Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é digno de fé, porque sei de onde vim e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho nem para onde vou. Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso vos disse: morrereis no vosso pecado; porque, se não crerdes o que eu sou, morrereis no vosso pecado. Quem és tu?, perguntaram-lhe eles então. Jesus respondeu: Exatamente o que eu vos declaro. Tenho muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, mas o que me enviou é verdadeiro e o que dele ouvi eu o digo ao mundo (Jo 8,12-14;23-26).
Jesus disse que ele é a luz do mundo. Muitos não creram nele naquele tempo e muitos também não creem nos dias de hoje. Todavia, quem o segue experimenta que não anda no escuro, mas sob uma luz que dá vida. Não se trata de teoria e sim, de experiência. Os cristãos confiam na palavra de seu mestre, por isso afirmam que Jesus, a eterna luz, se encarnou, pois veio do alto. Trata-se de uma profissão de fé que o proclama como o “eu sou”, ou seja, ele é o “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro” como afirma o credo Niceno-Constantinopolitano. Jesus era puro espírito, antes de sua encarnação, mas assumindo a natureza humana, assumiu tudo o que somos sem deixar sua condição eterna, ou seja, ele é cem por cento Deus e cem por cento homem, exceto no pecado, pois não pode contradizer a si mesmo: “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).
A Palavra desejou conviver com os homens. O próximo passo será analisar como isso aconteceu de forma ordenada.
Convido você a acompanhar o estudo sobre as origens de Jesus no próximo artigo, o qual tratará do tema segundo o evangelho de Lucas.
Até a próxima!
Prof. Ms. Leandro César
Teólogo formado pelo Studium Theologicum Jerosomilitanum – Jerusalém, Israel
Mestre em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Brasil
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