Visitação de Prima!

IMG_20160530_142517014_HDRFui buscar essa história numa estradinha quase deserta que liga a rodovia Presidente Dutra a Serra da Bocaina. Seguia de carro com meu filho tirando uma soneca no banco de trás, quando passei por uma senhora caminhando na beira da estrada com um saco imenso e aparentemente pesado nas costas. Compadecido com a cena, que passava pelo pára-brisa do carro, mas que ficara gravada na memória, resolvi voltar atrás daquela pobre senhora. Quando me aproximava dela, percebi o semblante cansado, pés em cima de uma sandália “Havaianas” bem surradinha e o saco de estopa, daqueles de 60kg, com quase metade preenchido. Perguntei se queria uma carona e imediatamente ela aceitou. Sentou com dificuIMG_20160530_142506818ldades no banco do carro e deu um belo suspiro de alívio. Ajeitou o saco no piso do carro, fechou a porta e abriu o livro de sua vida pra mim. “Meu nome é Vera, moro lá pra cima da Bocaina, mas onde o sr. me deixar já vai ajudar bastante!” Dona Vera já tinha caminhado quase 10 km com todo aquele peso nas costas. Vinha de um lugarejo chamado Embauzinho, passado pelo Centro de Cachoeira Paulista-SP, e seguia para sua casinha numa estradinha de chão próxima ao pé da Serra da Bocaina. Minha curiosidade de jornalista ficava aguçada e a primeira pergunta era: o que ela trazia naquele saco? “Meu filho eu trago aqui de tudo um pouco, e tem também um cachorrinho que ganhei, pra me fazer companhia. Tinha uma cadela, mas roubaram ela de mim.” Enquanto lamentava a perda da vira-latas, o filhote tentava escapar do saco. Então perguntei porque estava vindo de tão longe? Sua resposta me fez lembrar do esforço que Nossa Senhora fez para visitar a prima Santa Isabel. Dona Vera tinha ido visitar uma prima, que mora no Embauzinho. “Fiquei sabendo que minha prima estava acidentada e então resolvi ir fazer uma visitinha e ajudar um pouco nas coisas da casa. Agora ela tá melhor, e então tô voltandIMG_20160530_142624986_HDRo pra minha casinha meu filho… pra minha vidinha aqui!”, finalizava a senhora de 65 anos. Com olhos marejados, resolvi explorar um pouco mais aquele “livro” tão lindo e que certamente poucos tiveram a chance de lê-lo. Perguntei se ela vivia sozinha e a resposta foi surpreendente. “Tenho nove filhos e nenhum deles vem me visitar. Meu companheiro me deixou faz muitos anos porque não gostava de me ver na igreja. Ele bebia muito e então resolveu ir embora. Nunca mais eu vi.” E chegando no ponto combinado ela pediu pra parar o carro. A igrejinha é a única referência de Dona Vera, pra não errar o caminho de casa e nem do céu!  “Moço aqui tá bom. Muito obrigado por essa linda carona e que Deus acompanhe o sr. e seu filho!” Enquanto via dona Vera seguir sua trilha, fiquei imaginando quantos passaram por Nossa Senhora, a caminho da casa de Santa Isabel e perderam a chance de conhecer a mãe do menino Jesus. Agradeço ao Senhor, por esse presente me dado na véspera dessa festa da Igreja, chamada de Visitação de Nossa Senhora. Que possamos aprender que a falta de um veículo, uma condução, um cavalo ou camelo, nunca vai ser motivo para impedir que a misericórdia com o próximo aconteça. O único obstáculo que pode impedi-la de acontecer é a nossa falta de ânimo.. falta de vontade!. Quem anda precisando de uma visita minha? Que a Virgem Maria nos ensine a olhar o próximo, com a mesma precisão de quem olhou e viu que o vinho acabou!. De quem olhou a longa estrada e não teve medo de seguir a pé todo o trajeto para ajudar quem precisava muito, principalmente de sua presença!

Deus abençoe!  

Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova
wallace.andrade@cancaonova.com


Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.