A MORTE DA CORUJA

Um dia desses uma amiga me contava o drama que estava vivendo, por causa da visita exótica na sacada de seu apartamento. Uma coruja estava tirando o sono dela e de todos de sua casa. Hoje caminhava eu perto de sua casa e constatei a morte da ave. Creio eu que o óbito do animal foi provocado por uma descarga elétrica, pois vi seu corpo estendido no chão, próximo a um poste de alta tensão. E ao dar a notícia a minha amiga, percebi que seus olhos brilharam e deu até pra sentir um suspiro de alívio. Daí nasceu a inspiração para escrever esse post.

Sabia que uma parte da população brasileira não tem nenhuma admiração ou simpatia pelas corujas? E muitas dessas pessoas estão contribuindo para o fim de muitas dessas aves, exterminadas de forma covarde e injusta. Até hoje não se comprovou nenhuma das histórias associadas a tal ave de rapina. Só não existe coruja em algumas ilhas isoladas e em pontos extremamente frios da Terra.

Sabia também que existem registros de corujas retratadas em pinturas rupestres na França de 15 a 20 mil anos? O animal é associado a prosperidade, sabedoria e filosofia. Em muitas vezes também a coruja foi vinculada ao misterioso, desconhecido, associando-as a sinais de azar, morte e infortúnio e a entidades amaldiçoadas, como bruxas, magos e demônios.

Sabia que na Europa, o folclóre é tanto que esse tipo de ave é visto como bruxas disfarçadas? Algumas pessoas, para espantar o mal que supostamente as corujas pudessem causar, eram amarradas em árvores, pelos pés, e assim abandonadas até morrer.

Sabia que na Escócia e na Irlanda, muita gente acreditava que se uma coruja pousasse em uma janela três vezes em noites seguidas era um aviso de morte? Isso sem falar que na Roma antiga, as mortes de Júlio César, Augusto, Aurélio e Agripa são associadas ao o pio de uma coruja. Até porque a lenda dizia que ouvir o pio da coruja era presságio de morte iminente.

Na verdade estamos sempre preparados e armados contra tudo e todos. Supertições e inseguranças são sinais claros de que nossa fé não tem um nível elevado como a de santos como São Bento, por exemplo.

Sabia que durante as refeições, num penhasco onde viveu em solidão e oração por 3 anos, São Bento era visitado por um corvo? A ave de plumagem negra se alimentava das migalhas que o santo comia e foi esse corvo que pegou um pão envenenado, que o santo tinha recebido, e o levou para longe.

E as supertições associadas ao preconceito têm feito muitos recusarem ou se negarem aos dons que Deus nos concede. A ação de admirar a beleza de uma ave como a coruja, o colorido de sua plumagem, entender sua natureza e hábitos, não pode ser impedida pelo simples fato de algumas informações que chegam aos nossos ouvidos e impedem de escutar o pio único do animal. Temos medo de morrer ao ouví-lo, mas não temos medo de perder a sensibilidade para tudo que Deus criou, desde as aves e a natureza, aos dons de cura interior.

Seguimos nessa rota de colisão, abraçando tantos entulhos que os aparelhos eletrônicos vão nos fornecendo e trocamos os sons sinfônicos das matas pelos ruídos “bate-estaca” de trilhas que aceleram o pensamento, ensurdecem nossos ouvidos e cegam nossos olhos para a amplitude desse mundo criado por Deus e que tantos insistem em limitá-lo às janelas de pequenas polegadas ou supertelas da sala de estar.

“O jardim nos diz que a realidade em que Deus colocou o ser humano não é uma floresta selvagem, mas lugar que protege, alimenta e sustenta; e o homem deve reconhecer o mundo não como propriedade a ser saqueada e explorada, mas como dom do Criador, sinal de Sua vontade salvífica, dom a cultivar e proteger, de fazer crescer e desenvolver no respeito, na harmonia, seguindo os ritmos e a lógica, segundo o desígnio de Deus (cf. Gn 2,8-15)”.

Deus Abençoe! 

Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova
wallace.andrade@cancaonova.com


Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.