A vida é sempre cheia de surpresas agradáveis ou nem tanto. Só que quanto mais caminhamos e avançamos na estrada dessa vida, mais acumulamos boas e más recordações em nossos corações. Aos que realmente estão vivos eu quero aqui chamar de “Corações Repletos”. Um coração aquecido e pulsante não se acostuma com cenas do dia a dia, como se nada tivesse acontecendo, bem ali, debaixo de nossos olhos. Como ser indiferente a uma criança que dorme e treme de frio no canto da calçada? Foi uma cena dessas, na maior cidade da América Latina, que vi como é possível existir tantos corações gélidos, que precisam ser depurados. Eu não digo isso aqui agora, pra vanglória, mas ao ver um menino tremendo de frio numa calçada de São Paulo, em 2008, eu não exitei em tirar meu casaco de frio e cobrir aquela criança, naquele finalzinho de madrugada. É claro que morar um ano naquela “Selva de Pedra” e cobrir tantas pessoas tremendo de frio todos os dias, iria exigir de mim pelo menos um casaco pra doar a cada dia, já que na capital paulista, naquela época, existiam mais de 20 mil moradores de rua enfrentando situação parecida com a do menino. Catorze anos depois esse coração aqui, agora mora no interior e longe de cenas mais intensas e doloridas, que revelam as mazelas desse mundo. Mas ainda sinto o músculo central do peito, ser preenchido por pequenas ações e atitudes que servem de combustível para me manter vivo com essa massa central a bater e a pulsar pela vida que realmente não vai passar. Dia desses recebi uma foto de minha afilhada, que hoje tem 25 anos. Esse “Frajolinha” aí do alto, (Personagem do desenho FRAJOLA E PIU-PIU, criado por Bob Clampett em 1940 e que fazia parte da série Looney Tunes) que dorme tranquilo sob um manto quentinho, foi resgatado por ela na rua e teve uma noite de gala. Foi lavado, alimentado e amado por minha afilhada, que no dia seguinte procurou e encontrou um belo destino para o gato recém-nascido. O Frajolinha foi levado a uma clínica veterinária, que providencialmente tinha uma mamãe gato, que acabara de parir outros filhotes. O bichano foi adotado para a alegria geral. E só depois de ler uma mensagem de minha sobrinha e afilhada de batismo, percebi como um coração repleto é capaz de preencher outros corações com atitudes do bem. Os órfãos de pais vivos não são capazes de ter atitudes como a desta menina, agora uma moça. Ela teve e tem sim pai, mãe, irmão, avós, padrinhos, tios e primos. E a mim coube, como padrinho, um dia salvar um pequeno pássaro em sua presença. Isso foi o suficiente para que ela abrisse a prateleira de tesouros do seu coraçãozinho de criança e guardasse essa simples, mas importante atitude do “Dindo” como recordação. E foi justamente isso que quase duas década depois ressoou de forma tão reluzente. “Dindo , consegui deixar o gatinho em uma clinica veterinária, uma gatinha acabou de ter filhotes, e vai adotar ele e amamentá-lo. Obrigada por orar por nós e por ter me ensinado a ajudar os animais!!” Não são e não serão todos que vão ler essa história real com o coração repleto. Existem sim muitas “carroças vazias” e barulhentas, preocupadas apenas com suas histórias ou estórias. Mas o que quero expressar aqui é uma única certeza. Um coração só é repleto de bons atos, quando cresce no seio de uma família, que acredita no amor, que acredita na ação de Deus e que pode sim ter a coragem e fazer toda a diferença nesse mundo. No caminho poderemos encontrar muitos “frajolas”, muitos meninos, muitos feridos por esse mundo. Mas só os corações repletos serão capazes de agir como o bom samaritano (Lucas 10, 25-37), que levou o homem agredido por ladrões a uma hospedaria, cuidou das feridas e pagou o dono da pousada para cuidar dele até sua volta. Só os corações repletos serão capazes de mudar o que parece não ter jeito neste mundo. Pense nisso.!!
Deus abençoe!
Wallace Andrade
Jornalista, Escritor e Missionário
Comunidade Canção Nova