Aprendi na dura realidade da vida que existem muitas mães a experimentarem dores que não passam. A dor de enterrar o próprio filho é algo que desatina e quebra toda a sequência natural desenhada pelo criador. O natural é sempre filhos sepultarem mães. Mas a dor que transpassa os corações maternos, que aperta a ponto de sufocar o peito de uma mãe que devolve seu filho ao leito da terra, essa não dá pra descrever com palavras.
Ainda lembro aquela noite de sexta-feira de 1992, quando dava meus primeiros passos como repórter de telejornalismo. Chegava na redação com uma reportagem de esportes e fui direcionado a deixar tudo e ir ao meu bairro de origem reportar a morte de um jovem num bar. E ao chegar me deparei com um colega de infância, que havia sido confundido e assassinado por engano. Nunca esqueci o semblante de sua mãe. Era como se ela estivesse morrido junto com ele.
E quando outra Mãe foi alertada de que uma espada transpassaria seu coração? Dá pra imaginar o que sentiu aquela que contava os dias para enfrentar tamanha dor e sofrimento? Mas em nenhum momento daquele calvário era possível descrever o que sentia essa Mãe admirável.
E neste tempo propício Ela nos convida a enxergar o sofrimento imposto pela humanidade como algo que precisa ser suportado. Em meio a tantos tormentos que o mundo tem gerado, desde o acesso às drogas, sexualidades invertidas e desregradas e distanciamento do sagrado em nossas vidas e famílias, a Mãe ensina que no fim é a vontade divina que vai prevalecer. Nenhuma dor, nenhum sofrimento, nenhuma angústia termina sem fazer os corações transpassados crescerem e se fortificarem.
Os dias podem parecer mais cinzas e o brilho das estrelas ofuscados pelas lágrimas de quem sofre a perda daquele que saiu de suas entranhas. Não estava programado, nunca foi imaginado e ninguém avisou que isso aconteceria. Mas a surpresa que causa dor insuportável, tem um dia pra acabar. A Mãe do filho pregado na cruz experimentou essa expectativa de dor absurda por 33 anos, antes que Ele fosse pregado no madeiro. E no terceiro dia o breu do luto deu lugar a luz da ressurreição.
Só as mães que se agarrarem à cruz da perda inesperada, sem se esquecer que é possível reencontrar suas crias no jardim eterno, vão conseguir atravessar o vale de aflição e lágrimas. Elas vão sim conseguir abrir as portas da certeza, onde nenhuma dor é para sempre, onde o amor de Deus sim, este é pra sempre! E por este motivo Ele prepara este reencontro que será o último, assim como foi entre a Mãe e o Filho Eterno. Porque será pra não mais deixar, porque a vida será eterna e a dor dará lugar a alegria plena!
Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova