Deserto

O Egito Interior que Nos Impede de Avançar

O Egito Interior que Nos Impede de Avançar

A travessia do povo de Israel no deserto em direção à Terra Prometida nos remete ao nosso processo de conversão pessoal.
Precisamos nos lembrar que essa travessia dos israelitas se refere à travessia de um povo que viveu 400 anos na escravidão do Egito, e que agora, diante da intervenção e dos milagres de Deus, sendo conduzidos por Moisés, colocam-se a caminho de uma Terra que o próprio Deus lhes dará e lhes prometeu, uma terra que jorra leite e mel (Ex 3,8).
Sabemos que, diante de toda essa travessia do povo israelita, muitas coisas foram acontecendo, mas, de forma especial, neste artigo, quero me fixar em alguns pontos importantes narrados dentro do livro de Números, no capítulo 11.

Em determinado momento da caminhada no deserto, o povo começou a se queixar amargamente aos ouvidos do Senhor (cf. Nm 11, 1), e a Palavra diz que a ira do Senhor se inflamou sobre eles por conta dessas queixas, o que poderíamos também chamar de murmuração. O povo, esquecendo todas as intervenções do Senhor, começa agora a entrar num ciclo de “recordações do Egito“, mas um tipo de recordação que os remetia a prazeres vividos e não aos momentos de sofrimento e escravidão, apesar de terem enfrentado tudo isso nesse mesmo Egito.
– A primeira coisa importante que noto nesse processo é:
Em nossa caminhada de conversão, nesse processo de libertação do “nosso Egito”, corremos o risco de “olhar para trás” e nos recordarmos “das carnes“, “dos melões“, “dos peixes“, “das cebolas“, “dos alhos” e de tantas outras coisas que, de alguma forma, experimentamos e que nos deram uma certa satisfação e prazer; porém, acabamos não trazendo à nossa memória as lembranças dos açoites, dos sofrimentos, das feridas, e da morte que também experimentamos! É um processo de recordar a realidade vivida, porém, o que prevalece e ganha força nas lembranças são as experiências de “prazer” e não as de sofrimento!
Esse é um dos grandes erros que não percebemos, e posso também dizer que é uma estratégia do próprio Demônio para nos fazer cair! Se os nossos sofrimentos e feridas fossem recordados na mesma medida em que alimentamos as recordações dos prazeres, logo perceberíamos que os sofrimentos e dores nos ensinariam a lição de não mais voltar a cometer os mesmos erros do nosso passado.
Esse foi um dos erros daquele povo! Recordaram-se dos prazeres do comer, mas esqueceram-se da dor da escravidão!

Um fato interessante é narrado na Palavra de Deus:
Então, a mescla de gente que se juntara a eles inflamou-se de gula incontrolada, e os próprios israelitas tornaram a lamentar e a dizer: ‘Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça, dos pepinos, melões, verduras, cebolas e alhos! Agora a nossa garganta se resseca, nossos olhos nada veem, senão o maná’.” (Ex 11, 4-6)

Percebam o que a Palavra de Deus diz: “uma mescla de gente se juntara a eles“. No hebraico, o que aqui se destaca como “mescla de gente” se escreve como ‘asafsuf‘, que, em outras traduções, aparece como ‘cambada‘. Esse termo ‘asafsuf‘ não aparece mais em nenhum outro trecho da Bíblia.
Mas o que eu quero ressaltar nesse trecho é que, em meio ao povo dos israelitas, havia outros povos misturados! Alguns estudiosos dizem que essa ‘cambada’ de gente misturada poderia ser alguns egípcios que não quiseram permanecer no Egito, poderiam também ser povos de outras tribos que estavam como escravos no Egito, uma vez que o poderio dos egípcios era tamanho, ou ainda outros povos que se juntaram aos israelitas porque haviam ouvido falar da Terra Prometida.
A questão é que, sobre essa “mescla de gente“, inflamou-se uma “gula incontrolada“, e essa gula incontrolada os fez lembrar das “delícias da escravidão“, fazendo com que esse povo inflamasse os israelitas à murmuração! Essa ‘cambada’ de gente infiltrou-se no meio do povo escolhido, envenenou-os, corrompeu-os com os seus instintos inflamados pela escravidão! Levaram o povo de Israel a pecar ainda mais!

Aqui precisamos aprender uma lição importante: todos nós estamos enfrentando essa travessia em meio ao deserto! Mas todos nós sabemos que, em meio a essa travessia, Deus está a nos conduzir, a nos tomar pelas mãos, e a intervir com Seus milagres sobre nossas vidas. Portanto, atravessamos esse deserto sabendo a quem estamos seguindo!
O perigo está quando damos brechas para que ‘asafsuf ‘ adentrem o território do nosso coração e nos contaminem com suas paixões da escravidão do Egito! Eles não têm os mesmos propósitos que nós, não trazem as mesmas motivações que nós! Estão conosco, mas não são dos nossos! Aqueles “fugitivos” do Egito estavam em meio aos israelitas, mas não tinham as mesmas disposições de coração dos israelitas! Estavam marchando com os israelitas, mas não se importavam com o Deus que estava à frente os guiando! Logo, eles envenenariam com suas murmurações o coração daqueles israelitas!
Foram 400 anos de escravidão no Egito, e, para que os israelitas pudessem ter tempera e força para vencer o Egito que havia dentro deles ainda, era necessário que passassem pelo teste do tempo e das intervenções de Deus. Por isso, ainda estavam, de certo modo, vulneráveis às sugestões das “cebolas do Egito“.

Deixo algumas questões para nossa meditação pessoal e para rezarmos:

– Tenho consciência do meu processo de conversão pessoal e de que esse processo é uma travessia de deserto?
– Tenho consciência de que ainda existe um Egito dentro de mim que me chama a recordar suas “delícias”?
– Trago no coração os bons aprendizados que tirei da “escravidão do Egito”?
– Tenho o costume de murmurar e reclamar da forma como Deus conduz a minha travessia no deserto?
– Deixo-me levar e contaminar com as reclamações daqueles que me são próximos?
– Permito que entrem na minha vida pessoas que contrariam os meus propósitos de seguir a Deus?

Após essa breve leitura e reflexão, pode ser que você tenha matéria para se confessar; então, busque um sacerdote e faça uma boa confissão!

Deus abençoe você!

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