Entendendo os reais perigos da gula e de suas “filhas”!
Como todos nós sabemos, a Gula se trata de um dos Pecados Capitais, e ela é tida como Pecado Capital, pois ela é um tipo de “cabeça”, caput, de que se derivam outros tipos de pecados.
As vezes não damos muita importância para o pecado da gula, e até mesmo o infantilizamos, dada as vezes que ouvimos quando éramos crianças que não deveríamos comer muito pois iríamos ser gulosos.
Isso com o passar do tempo acabou por diminuir em nossa concepção o verdadeiro perigo da gula para a nossa alma, mas mesmo assim, a gula continuou a fazer verdadeiros estragos em nossas vidas, e talvez ainda estejamos vivendo verdadeiros estragos por conta da gula e nem sabemos que ela é a mãe destes “estragos”.
Já adianto que a gula é tão perversa e maléfica para a nossa alma, que ela lança em nossas vidas não somente suas “filhas” – que são outros pecados que se derivam dela – mas também a gula é capaz de arrastar consigo e ganhar forças em nossas vidas lançando sobre nós mais dois pecados capitais (caput), que é a preguiça e a luxuria! Daí você já consegue imaginar o quão letal a gula pode ser para a nossa alma!
Entendendo a Gula:
A gula é um tipo de excesso, de abuso de um prazer que na verdade nos é lícito! Existem prazeres que nos são proibidos, que nos são ilícitos; mas não é o caso do comer e do beber; pois estes são também considerados prazeres, mas que realizados em sua normalidade, não nos causariam problemas maiores.
Quando falamos em abuso, podemos então classificar a natureza da gula como um tipo de “amor desordenado dos prazeres da mesa, da bebida ou comida“, assim dirá o Teólogo, Tanquerey.
É uma desordem na forma como buscamos estes alimentamos e o trazemos para o nosso interior, pois nos arranca da sobriedade e por vezes traz prejuízos a nossa saúde!
A gula faz com que a nossa alma se torne escrava do nosso corpo, nos torna mais sensíveis as realidades corpóreas, abrindo assim um caminho para a volúpia; pois carregam o mesmo gênero.
Entendam as semelhanças: o comer um alimento de que gostamos, que tem sabor, que nos dá prazer, excita em nós uma sensação de satisfação carnal do nosso apetite! Um bom churrasco, quando o colocamos em nossa boca, nos dá prazer, nos traz uma boa sensação! Quando comemos uma torta de chocolate, sentimos o doce, o sabor agradável, a nossa carne “vibra” com a doçura, com o sabor, com a textura…Até aqui não há problema, é assim mesmo!
Mas quando é que a gula se torna um problema?
Se torna um problema quando repetimos por diversas vezes este mesmo prazer de forma abusiva ou desordenada!
Exemplo:
Quando eu como em excesso ao ponto de não conseguir cumprir com algumas de minhas obrigações.
Quando este excesso coloca em risco a minha saúde, quando os gastos com este tipo de satisfação atinge a minha família ou se tornam incontroláveis, ou ainda quando não consigo cumprir os jejuns ou abstinências que a Igreja recomenda porque o desejo de comer é maior!
Conheci casos de pessoas que não conseguiam controlar seus gastos com a alimentação, com alimentos prazerosos, fast-food e etc…
A gula se torna um grande problema quando ela leva a cometermos outras faltas graves. Como a gula é o resultado de satisfazer a nossa carne, os excessos deste prazer nos tornam lentos e nos predispõem à incontinência, que é filha da gula! Incontinência é um tipo de falta de controle!
A gula nos leva a querer alimentarmos de forma prazerosa (é assim que ela faz no comer e beber) os nossos olhos, começaremos a perceber o desejo de alimentar os nossos olhos com o que é prazeroso; incontinência aos nossos ouvidos, que se satisfará com “alimentos” sensuais. A gula instigará a alimentar a nossa imaginação, que ficará perturbada; quererá alimentar a nossa memória, buscando coisas do passado, recordações e realidades que possam trazer um tipo de prazer.
A gula atinge diretamente a nossa vontade e capacidade de decidir, pois indispõe carne e espírito! Nos torna laxos com regras e leis, faz nossa carne mais sensível, nosso coração a buscar afeições carnais, por fim, tirará do nosso domínio os nossos sentidos que ficarão rendidos a escravidão do prazer carnal!
Rejeitaremos as mortificações e penitencias, pois nossa vontade estará “contaminada” pelo prazer e só por ele quererá ser movida! Por causa da embriagues da vontade, abriremos concessões mais facilmente àquilo que é pecaminoso mas que traz certa satisfação para os apetites concupiscíveis!
Por fim, a gula instalada, com estas “filhas” sugando as nossas forças vitais, apresentará de cheio a preguiça e a luxuria, fazendo assim da nossa vida um verdadeiro inferno!
A gula abre as portas da nossa alma aos assaltos de Demônio. Por isso a importância de ficarmos atento a questão da gula, pois como você pode ver, ela não é um “pecadinho qualquer”!
4 formas de pecar pela gula:
Alguns teólogos apontam diversas maneiras de pecar pela gula, escolhi estas 4 por serem as principais no meu ponto de vista. Lembrando que isso se obtém junto ao excesso e a repetição sem o autodomínio:
1) Praepropere (antes do tempo ou antecipadamente): comer antes de sentir a real necessidade, fora dos horários devidos, comer por comer, comer porque gosto de comer.
2) Laute et studiose (suntuosamente e com cuidado): É quando você busca de modo repetitivo somente pratos requintados, um tipo de delicadeza em excesso no preparo para causar um deleite maior.
Comer pratos saborosos não é o problema, mas quando você expõe o seu corpo de modo excessivo e repetitivo a este tipo de prazer, esta correndo o perigo de enfraquecer sua vontade e liberdade e fortalecer sua carne!
3) Nimis (demasiadamente): comer ou beber além da real necessidade para sobreviver e ter saúde, é o famoso “empanturrar-se”. Isso feito de modo repetitivo te levará ao vício da gula!
4) Ardenter (avidamente, ansiosamente): É quando você come com um tipo de desejo de sentir aquele prazer e sacia-lo rapidamente. Um tipo de reação “sem bons modos”.
Alguns remédios contra a gula:
A primeira coisa importante a saber é que o prazer ele não deve ser um fim, mas ele é apenas um meio para que alcancemos fins superiores. Sendo um meio, deve ser iluminado pela razão e pela inteligência, e jamais ser escravo dos excessos!
Tomando posse da faculdade da nossa razão, devemos sempre nos aproximar da mesa tendo a consciência de que devemos nos alimentar na quantidade necessária para sobrevivermos, para recobrar as nossas forças, para que cada um, na sua individualidade e na sua necessidade, se alimente o suficiente para os cumprir o seu dever de estado, e nada mais!
Alguns santos nos dão uma dica importantíssima para vencer a gula:
Jamais se levantar da mesa de modo que se sinta “empanturrado”, completamente saciado! Pois isso gera em nós um tipo de lentidão, preguiça; o que nos pré-dispõe a outros pecados e debilidades.
Sempre saia da mesa com a sensação de leveza, com a sensação de que caberia um pouquinho mais, porém você escolhe dizer não e se retira da mesa.
As mortificações e penitências nos ajudarão a manter a gula sob o nosso domínio e não o contrário.
Faça as vezes a seguinte escolha: rejeite comer por vezes os alimentos que muito te agradam e estão sobre a mesa ou estão dispostos num restaurante. Ao escolher não comer estes alimentos que alimentariam o seu prazer degustativo, você também impõe um certo domínio sobre a sua vontade e a sua sensualidade. Todas as vezes que de forma deliberada você escolhe não comer alimentos que muito te agradam, ou ainda comer alimentos que você não gostaria, com a consciência de que esta escolha é reta e sobrenatural, você vai sendo cada vez mais livre e cada vez forte para combater a sua carne com suas paixões.
Como modo também de mortificação e penitência, você pode oferecer se abster de algum tipo de alimento que gosta muito durante algum tempo. Por exemplo, ficar sem comer carne vermelha durante 1 mês, não comer arroz por 3 meses, não beber refrigerante ou bebida alcoólica por 1 ano, e assim por diante.
Não podemos esquecer que a Igreja nos pede que as Sextas Feiras sejam penitenciais e que nos abstenhamos de carne vermelha. Você pode se comprometer fielmente a isso e certamente te ajudará também em relação a concupiscência da carne. O jejum é um dos recursos mais excelentes para o autodomínio e para fortalecer a nossa vontade!
Não esqueçamos de algo bem importante em todo este processo de combate contra a nossa carne: nossa carne é traiçoeira e portanto jamais se orgulhe de tê-la vencido; pois ela é sorrateira e pode te enganar!
É por isso que a vida de oração é necessária para que todo este processo funcione bem, porque vence a sua carne e se fortificar, será sempre em primeiro lugar um dom, uma graça que Deus lhe concederá e não apenas mérito do seu esforço pessoal!
Que se diga de passagem que, por si só, somente com seus esforços pessoais, você não iria muito longe! É preciso a graça de Deus!
Deus abençoe você e sua decisão!
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