Portabilidade

[pra você que gostou do último post, eis aqui mais um do Geva]

Portabilidade, palavra tão comum em nossos tempos que logo entrará em nossos dicionários, como tantas outras que vagam por ai esperando aprovação.

Aprovação, ato de aceitar, autorizar. Com essas duas palavras fica fácil meditarmos sobre o relacionamento em nossos dias. Todos têm a experiência de relacionar-se, já que “o homem é um ser de relações”.

Nos relacionamos com nossos amigos, familiares, companheiros de trabalho, de estudo, de academia e outros… Mas o que tem a ver portabilidade com relacionamentos?

Descrevo aqui uma experiência que me ensinou muito esses dias atrás. Resolvi mudar a operadora de celular da qual usava. Parecia uma mudança muito difícil, até eu descobrir a tal portabilidade, e até ser decepcionado com a prestação de serviço da antiga operadora oferecido a mim há tanto tempo. Por um grande período fui fiel a ela, defendia-a, tinha orgulho de dizer qual era. Mas bastou apenas um momento de decepção para deixá-la de lado: Portabilidade!

A primeira promoção que apareceu numa outra operadora, me agradou, me encantei, resolvi me relacionar e aderir a ela. Eu a aprovei na minha vida: Aprovação!

Hoje tenho outra operadora! A antiga passou, sem dificuldade. Afinal de contas, ela já não me oferecia nada para que eu continuasse sendo-lhe fiel, nada mais me encantava nela. O último suspiro do meu antigo relacionamento foi um torpedo me oferecendo algumas vantagens e por fim um pedido desesperador: “Cancele seu pedido de portabilidade e fique na…!” Resolvi matar minha fidelidade de tantos anos, eliminar de uma vez por todas algo que há tanto tempo eu disse ser o melhor: Facilidade!

Mas o que isso tem a haver conosco? Acredito que já entendeu…

Em nome da portabilidade elimino facilmente as pessoas da minha vida, e sem dificuldade nenhuma aceito, autorizo outras. Elas acabam se tornando importantes enquanto têm algo a me oferecer, mas quando surge uma promoção melhor de amizade, de relacionamento, é fácil: Portabilidade!

Até o meu número eu levo comigo: Comodidade!

Nada deixo nada para trás! Às vezes só o pedido desesperador de quem ficou: “Fique aqui, não vá…”

Em nome da facilidade e da comodidade, cancelo as pessoas fazendo delas menores que um chip! O mais trágico de tudo isso é que a propaganda ainda diz: “Você é bem-vindo, seu número também!“. Mas, por quanto tempo? Até oferecerem a promoção que me agrade. Depois é só usar a portabilidade: simples, fácil como saudar alguém…

Por quanto tempo ainda trataremos nossos amigos, nossa família segundo as novas tecnologias, os novos conceitos em nome das facilidades?

Senti-me envergonhado, utilizador. Qual o verdadeiro sentimento que trago em relação aos meus queridos, meus próximos? Que tipo de relacionamento eu vivo?

A portabilidade pode me impedir de confiar e de acreditar quando o outro nada tem para me oferecer.

Atrás de qual promoção você está? Pense nisso!

Gevanildo Augusto Torres

Seminarista – Canção Nova

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