A Família como vai?

“A família cristã é a capacidade de viver o amor e se caracteriza pela doação”, diz Dom Petrini


Por Rodrigo Luiz

“Não, não, mais de um filho não, porque não poderemos viajar de férias, ir a tal lugar ou comprar uma casa… Queremos seguir o Senhor, mas até certo ponto”. Esse trecho de uma das homilias diárias do Papa Francisco foi um puxão de orelhas nos casais cristãos com apenas um filho, por apego a uma vida cômoda. “O bem-estar nos anestesia, despe-nos da coragem forte que nos aproxima de Jesus”, denuncia o Pontífice.

Marcelo Moura e Andréia Cristina, e seus filhos. ( Revista CN Agosto/13 )

O apelo do Santo Padre nos faz questionar novamente: “A família como vai?”. Em 1994, essa pergunta foi lançada aos brasileiros durante a Campanha da Fraternidade promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Quase vinte anos depois, sinais alertam para mudanças familiares. Manchetes de jornais parecem comemorar a notícia de que “famílias tradicionais deixam de ser maioria no Brasil”. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a 2010, mostram que casas com pai, mãe e filhos somam 49,9% no país contra outros tipos de constituições domiciliares que representam 50,1%.

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“Antigamente, um jovem chegava aos 20 anos e espontaneamente pensava no casamento como caminho da maturidade”, recorda o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família da CNBB, Dom João Carlos Petrini. “Na modernidade, isso foi deixado de lado. Cada pessoa coloca como prioridade a própria felicidade”, destaca em entrevista concedida ao Canção Nova Notícias. “Alguns modelos apresentados são muito badalados, viram moda e, às vezes, revelam-se armadilhas porque não mantém a promessa de felicidade inicial”, enfatiza Dom Petrini.

“…a família é a célula original da sociedade”, YOUCAT

Por que as famílias são insubstituíveis? O catecismo em linguagem adaptada às novas gerações, YOUCAT, afirma que “a família é a célula original da sociedade. Valores e princípios vividos no âmbito familiar possibilitarão aos filhos uma vida social solidária quando eles crescerem”. O documento assinala que “cada criança provém de um pai e de uma mãe e deseja o calor e a segurança de uma família para crescer segura e feliz”.

Motivado pelo amor recebido dos pais, o baiano Marcelo Moura é um exemplo de quem acredita na família cristã. Casado com Andréia Cristina, há oito anos, o missionário, editor de imagem e universitário educa os três filhos com a mesma formação recebida. “Somos uma nova geração, mas a base é a mesma. A maior herança que recebi de meu pai foram valores como ser trabalhador e honestidade; é isso que passo para os meus filhos”, destaca.

“Somos uma nova geração, mas a base é a mesma.

Apesar das muitas tarefas diárias, Marcelo aproveita cada instante com os gêmeos, de seis anos, e o caçula, de três. “Minha presença também é algo que procuro dar para eles. Às vezes, mesmo na correria, estou junto em uma partida de vídeo game ou futebol, na lição de casa, na oração da noite. Isso faz uma diferença enorme e traz consequências que ficarão para sempre na vida deles”, ressalta. Os filhos encontram na figura paterna a referência de missão no mundo. De acordo com o psicólogo clínico, Élison Santos, o pai representa o caráter da vida no mundo, traz segurança e tem uma função determinante na educação do filho.

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Na família, cada membro é amado por ser quem é. No trabalho, vale-se pelo que se produz. Mas na família podemos ser quem somos e somos amados por isso. “A família cristã é a capacidade de viver o amor e se caracteriza pela doação, no amor vivido como dom total e sincero de si para o bem e a felicidade de outras pessoas”, conclui Dom Petrini. A família torna-se, portanto, uma escola de amor. A Igreja reconhece que “as crianças aprendem a amar na família, porque aí são amadas gratuitamente; aprendem a estimar os outros, porque aí são estimadas; aprendem a conhecer o rosto de Deus, porque recebem a primeira revelação d’Ele de um pai e uma mãe, que lhes prestam toda dedicação”.

Marcelo conta que a tendência dos três filhos é estar juntinhos da mãe. “Percebo um papel fundamental da Andréia na educação deles. Nas situações em que eles precisam de um direcionamento do pai ela deixa esse espaço para que eu como homem possa ensiná-los e corrigi-los”. A sintonia entre o casal é o segredo. “Na idade que eles estão não podemos de forma alguma deixar dúvidas sobre as regras de casa, a diferença entre menino e menina, como agir e se comportar na escola, na Igreja, nas festas”, diz o pai.

Talvez, muitas pessoas não se encaixem no modelo tradicional de família ou sofram com a ausência de pai, mãe ou filhos. “Quando falta o pai ou a mãe a vida não deixa de seguir”, esclarece o psicólogo. Ele acrescenta que “a vivência em um ambiente de amor é importante, seja ao lado de avós, tios e primos, um ambiente de paz e amor poderá sanar e muito a ausência de um dos pais”. Em uma mensagem publicada em 1981, o Beato João Paulo II deixou uma mensagem de consolo para todos: “ninguém está privado da família neste mundo: a Igreja é casa e família para todos, especialmente para quantos estão ‘cansados e oprimidos’”, afirma na Exortação Apostólica Familiaris Consortio.

Rodrigo Luiz dos Santos@rodrigosanluiz

Missionário é apresentador do Manhã Viva

Texto publicado na revista Canção Nova – agosto de 2013

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