A conquista das virtudes

Como nos conhecermos?

A resposta para essa pergunta já deu origem a muitos livros. Agora, só vou apontar três pistas, dentre as sugeridas por Cristo, para que você procure ver a verdade no fundo do coração (Salmo 51,8).


A) Primeira: Onde está o teu tesouro, lá também está o teu coração (Mt 6,21).

“Tesouro” é aquilo que mais prezamos, que mais valorizamos. Pode ser uma pessoa querida, o nosso sucesso, o dinheiro ou o prazer. O “coração” – o mundo íntimo dos nossos pensamentos, sonhos, projetos e desejos – está centrado naquilo que mais estimamos e julgamos necessário para a nossa felicidade.

Qual é seu “ tesouro”? Qual o “rei” que reina em seu mundo íntimo?

– Para muitas pessoas, o “tesouro” são esses três: Sucesso, Satisfação e Sossego. Se você se enquadra aí, não duvide: precisa urgentemente começar a lutar contra o egoísmo.

– Para outras, o “tesouro” consiste em “acumular riquezas”, entrar na lista dos “mais”. Não entendem que, se os bens materiais são o seu Tesouro – assim, com maiúscula –, estão a caminho de um suicídio moral, e podem despedir-se da felicidade que Cristo promete: Felizes os pobres em espírito [os que são desprendidos e generosos, ainda que tenham bens], porque deles é o Reino dos céus (Mt 5,3).

─ Para outros é a liberdade. Por enquanto, vou limitar-me a perguntar: Liberdade para quê? Dependendo da resposta, você vai conhecer seu coração. Se é liberdade para “fazer o que eu quero”, você é um lamentável egoísta; se for liberdade para poder dar-se mais a Deus e dedicar-se a grandes ideais em favor dos outros, você tem a virtude da generosidade. Medite.

B) Segunda: A boca fala daquilo de que o coração está cheio (Lc 6,45)

─ De que fala mais você? De você mesmo? Fala demais e escuta pouco? Não precisa refletir muito: você tem que lutar contra a vaidade. Talvez o despertem estas palavras de Caminho: «Obstinas-te em ser o sal de todos os pratos… e – não te zangues se te falo claramente –tens pouca graça para ser sal… Falta-te espírito de sacrifício. E sobra-te espírito de curiosidade e de exibição» (cf. n. 48).
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─ Você critica muito os outros? Acha logo defeito em tudo o que dizem ou fazem? Precisa adquirir a virtude da compreensão. E, se curte mágoas e rancores, precisa – mais do que o ar que respira – aprender a virtude da misericórdia.
─ Você é boca-suja, que não para de falar de sexo e baixarias? Precisa descobrir e começar a praticar uma virtude que provavelmente ignora e até despreza, a castidade; e precisa também praticar a veracidade, isto é, lutar para não ficar enganando, traindo os compromissos de fidelidade que assumiu.
─ Você pensa até dormindo – como se fosse um ingrediente imprescindível da felicidade – em requintes de comida, em bebidas, em prazeres do gosto que não consegue largar? Também é urgente que aprenda como se adquire a virtude da temperança.

C) Terceira: Por que estais tristes? (Lc 24,17)

Essa é a primeira pergunta que Jesus ressuscitado fez aos discípulos de Emaús, quando voltavam para casa desesperançados, depois do “fracasso” de Jesus na Cruz. As alegrias e as tristezas (não falo das que procedem do amor a Deus aos outros) são excelentes radiografias das doenças do coração.
─ Causa-lhe alegria o que é “fácil”, ou o que é “certo”? Diz, todo feliz: “Consegui driblar um compromisso”? Então, no seu coração, há um buraco negro no lugar que deveria ocupar a virtude da responsabilidade.
─ Causa-lhe muito mais alegria o que recebe do que aquilo que dá? Há um vazio no lugar da caridade e da abnegação.
─ Quando se porta mal, entristecem-no as ofensas feitas a Deus e ao próximo, ou só a humilhação de se ver fraco e ruim? Precisa, então, ganhar as virtudes da humildade e do arrependimento.
─ Alegra-o o fracasso dos outros, quando faz brilhar mais o seu sucesso? Não demore a iniciar uma luta séria contra os feios vícios da inveja e da vanglória.
As perguntas poderiam prosseguir, e continuarão em outros capítulos. Mas vou terminar agora com palavras de um sermão de Quaresma de São Bernardo, que inspiraram as perguntas acima: «Examina com cuidado o que é que amas, o que é que temes, de que te alegras, com que te entristeces. Todo o coração consiste nestes quatro afetos» (Sermão no começo do jejum, n. 2, 3).

As virtudes que nos faltam são um cartaz luminoso. Cada uma delas nos lança um apelo: – Veja o caminho que ainda deve percorrer, e comece a andar.

Pense. Reze. Peça luz a Deus e procure ver a verdade no fundo do seu coração (Sl. 50[51], 8)

Fonte: Livro | A conquista das Virtudes – Francisco Faus


Missão da Canção Nova em Paulínia

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