Você é apegado ou desapegado?
“A vida não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15)
As páginas do Evangelho estão repletas de exortações de Jesus sobre o mal que as riquezas podem fazer. Ele sempre teve palavras de autoridade para com aqueles que acumulavam riquezas e se deixavam levar pela ganância (cf. Mt 19,16 ss). Entendemos que o Senhor não foi contra o dinheiro em si, mas sobre o mal que esse pode causar na vida do homem. Uma coisa é possuir bens, outra coisa é se deixar possuir por eles. Diante dessa realidade, temos uma bela oportunidade nesta quaresma: desapegarmo-nos de tudo que nos escraviza! Pois, se não consigo ter domínio sobre algo, é porque já sou escravo desse algo, que pode ser pessoas ou coisas, estruturas ou sentimentos. E não foi para a escravidão que fomos criados, mas para a liberdade (cf. Gl 5,13).
Diante da Palavra de Deus somos provocados com uma pergunta: Em que consiste HOJE a minha vida? Somos interpelados a olhar nossa condição frágil de homens e mulheres que devem sempre pensar na vida no hoje, e viver com dignidade, plenitude; enfim, uma vida feliz e tranquila.
Deus quer nos ajudar, Ele quer nos mostrar o quanto somos tendenciosos ao apego, ao acúmulo, aos excessos. E uma vida assim não faz bem. Por isso, devemos dar um basta a todo tipo de escravidão dos tempos modernos. Deixamo-nos escravizar por pequenas coisas: por aparelhos, por sentimentos, por medos, por pessoas, por nós mesmos!
É preciso parar, refletir e abrir mão de tudo que nos rouba a liberdade. É preciso preparar-nos bem para o amanhã, e fazemos isso vivendo bem o hoje. Pois a vida é um sopro, ou como disse Santa Teresinha do Menino Jesus: “A vida é apenas um sonho, e em breve acordaremos”! Precisamos estar preparados para algo de muito maior do que esse mundo cheio de apegos, precisamos estar bem prontos para a morte! Assim, convido você neste tempo propício de conversão a fazer um “retiro da boa morte”.
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Esse método é baseado na pedagogia de Dom Bosco, que dizia: “Temos de estar preparados, a todo instante, pois não sabemos o momento de nossa morte. E quando morrermos, como as pessoas vão encontrar nossas coisas? Vão achar tudo bagunçado? Encontrarão coisas vergonhosas?”.
Se hoje Jesus te chamasse, se hoje sua vida terminasse nesse mundo, como Jesus te encontraria? E como as pessoas encontrariam seu quarto, sua casa? Será que essas pessoas poderiam dizer que você foi uma pessoa desapegada, livre? Ou diriam o contrário?
Dom Divo Barsotti dizia que uma folha grudada à árvore não é levada pelo vento: pode até ser agitada para lá e para cá, mas não voa. Se quisermos ir para o Céu, precisamos desprender-nos das coisas terrenas, romper os laços que nos prendem a este mundo e que nos impedem de ser livres.
Embora a expressão “desapego” tenda a parecer dura demais, trata-se de um sinônimo para “liberdade interior”, já que o apego às coisas terrestres conduz-nos justamente à escravidão. Jesus é o nosso modelo, Ele, que era de condição divina, não quis fazer desse título motivo de orgulho, mas desapegou-se de sua glória, foi livre para dizer sim ao projeto do Pai. Viveu todos os seus dias, desde a pobreza de Belém até a nudez do Calvário, sem ter até mesmo um sepulcro seu para ser depositado… Viveu todos os dias como um retiro da “boa morte”, morreu para si mesmo para que todos nós pudéssemos hoje ter vida em abundância.
O dia da morte é chamado pelos santos como o “dia de dano” ou “dia da perda”, porque nesse dia se perdem as honras, riquezas, prazeres e todos os bens da terra. Por isso, dizia Santo Ambrósio que não deveríamos chamar — nossos — esses bens, pois não está em nosso poder levá-los conosco para o mundo ao qual nos acompanham nossas virtudes.
Preparemo-nos bem nesta quaresma para o momento de Ressurreição, vida nova, que passa pela coragem de deixar para trás a vida velha. Todo desapego traz a alegria da liberdade.
Deus abençoe você!
Padre Gevanildo Torres – Sacerdote e missionário da Comunidade Canção Nova. Atuação Missionária na Frente de Missão em São José dos Campos/SP.