Parto humanizado é possível
Os partos das mulheres das civilizações antigas aconteciam em casa, onde a parturiente contava com o apoio das mulheres da casa e era acompanhada por uma parteira experiente. Em caso de dificuldades, a falta de técnicas e aparelhos transformava o parto em um processo doloroso e perigoso para mãe e bebê. Com o passar dos anos e avanços no âmbito da medicina, os partos foram sendo transferidos para as “casas de parto” e hospitais e técnicas foram sendo implementadas nos nascimentos.
No ano de 1560, um cirurgião-barbeiro francês, Peter Chamberlen criou o instrumento “fórceps” que serviria como um auxílio para extrair o feto durante um parto difícil. No início ele foi tido como um privilégio para as mulheres, elas já esperavam que os médicos fossem usar o “fórceps” independente da necessidade do mesmo. Porém, muitas mulheres e crianças começaram a ser afetadas: infecções, danos ao cérebro, aos olhos, orelhas e nariz dos bebês, o que acabou gerando má fama entre as mulheres de gerações seguintes e esta perdura até os dias atuais.
No séc. XX com o avanço da medicina e com a medicalização do nascimento, os partos passaram por uma revolução quando as técnicas da cesariana avançaram de maneira significativa. O uso de anestesias, técnicas de esterilização, a incisão baixa (corte no abdômen) possibilitaram que partos que antes eram fatais pudessem ter um final satisfatório para mãe e bebê.
O medo de médicos e mães, em sentir dor e não resistir ao trabalho de parto, transformou um procedimento natural, parto normal, em um procedimento unicamente técnico, a cesariana. Com isso, houve um aumento significativo nos números de cesarianas praticados ao longo dos últimos 50 anos. Um procedimento que antes era usado apenas em casos de dificuldades. Hoje 52 % dos nascimentos no Brasil são realizados através de cesarianas, sendo que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde é que a taxa seja de 15 % de cesáreas.
Diante desse cenário obstétrico no Brasil, surgiu uma “nova” maneira de lidar com o nascimento: o chamado , que ao contrário do que pensam muitas pessoas, não se trata de um “tipo de parto”. O Parto Humanizado não constitui em um produto que lhe é entregue pronto, é algo construído individualmente, pois cada mulher carrega consigo uma história, seus processos culturais, psíquicos e emocionais vividos na sua infância, adolescência, na fase adulta e durante a gestação, que devem ser levados em conta no desenrolar do processo natural do parto. Nem mulheres e nem os partos podem ser tratados como iguais para todas.
Para que o Parto Humanizado aconteça, primeiramente a mulher deve acreditar na capacidade que seu corpo tem para gerar e parir naturalmente, crendo que são processos perfeitos e possíveis. O Parto Humanizado permite que a mulher participe ativamente no processo do nascimento do seu filho, dando ao bebê o respeito de também participar deste processo. Na evolução da gestação, o posicionamento, o encaixe e a expulsão são processos naturais que muitas vezes na cesárea não são esperados e nem respeitados. A mulher é protagonista naquele momento e não apenas um corpo anestesiado e cortado num ato cirúrgico.
Para auxiliar no processo do trabalho de parto, técnicas de alívio da dor, com caminhadas, uso da bola, banheira, massagem, banhos de chuveiro, são utilizadas conforme a necessidade da mãe.
Outro item que se deve levar em consideração é a posição para o parto. O parto horizontal, onde a mulher fica deitada na maca com as pernas levantadas e abertas, muitas vezes não favorece o nascimento, então a livre escolha da gestante para a posição do nascimento deve ser sugerida pela equipe que irá auxiliar nesse momento. Além disso, a equipe deve orientar os pais, dando-lhes informações de quais serão os procedimentos necessários a serem realizados nos recém- nascidos, bem como, como e em qual momento eles acontecerão. E além disso, a equipe deve estimular o contato imediato de recém-nascido e mãe nos primeiros minutos de vida.
Muitos benefícios para mãe e bebê são reconhecidos no processo natural, como: recuperação da mãe, evolução e facilidade de amamentação, que vão beneficiar também outros pontos como respiração e mastigação, excluindo futuros problemas respiratórios e alimentares.
Enfim, o Parto Humanizado é:
- Permitir a mulher e a família que eles adquiram conhecimento e possam escolher conscientemente de que maneira o filho nascerá.
- Acreditar e respeitar o processo natural do corpo para a gestação e o parto.
- Tornar a mulher protagonista do parto.
- Entender a mulher, o bebê e sua família como seres individuais e que merecem ser respeitados conforme essa individualidade.
Espero que esse texto ajude vocês a fazerem a melhor escolha para vocês e seus filhos.
Marília Machado Gut
Obstetriz