O ciclo menstrual inicia-se com a perda sanguínea em fluxo(não em manchinhas), e esta é proveniente da descamação do endométrio (camada interna que reveste o útero). Em todos os ciclos o corpo da mulher prepara-se para acolher uma nova vida, e são as alterações hormonais ao longo do ciclo que estimulam o crescimento endometrial e o aumento do fluxo sanguíneo, tornando o útero apto para a implantação do embrião e formação da placenta. Logo, a menstruação é a causa fisiológica do processo ovulatório sem concepção.
Chamamos de “ovulação” ao processo em que o ovário libera um óvulo maduro. Trata-se de um evento único dentro do ciclo menstrual. Evento que depende de um trabalho de alta complexidade realizado pelos hormônios. Estes agem como mensageiros que passeiam pelo sangue – e cada tipo de hormônio é responsável por uma mensagem diferente. Os receptores dessas mensagens, de vários tipos, como o de estrogênio e progesterona, só compreendem as ordens dos hormônios se eles estiverem no sangue em quantidade adequada. Ou seja, o amadurecimento do óvulo, a liquefação do muco cervical e o crescimento do endométrio só acontecem se os hormônios trabalharem em perfeita harmonia para produzir a reação em cadeia na qual um comando estimulará cada elemento, cada etapa, até produzir a ovulação. Qualquer alteração nessa harmonia tornará o ciclo reprodutivo deficiente.
A ocorrência de ciclos deficientes é identificada em várias fases da vida reprodutiva da mulher, como na fase da amamentação, pré-menopausa, abandono da medicação hormonal e o início da vida reprodutiva. Segundo o Dr. James Brown estes ciclos fazem parte do “Continuum da Fertilidade”, isto é, ocorrem de forma esporádica. Nestas fases geralmente os hormônios estão alterados ou se reorganizando, e após um longo período de infertilidade por retardo da ovulação, inicia-se o período do retorno da fertilidade, que pode apresentar uma resposta rápida do processo ovulatório ou pode passar por várias tentativas de ovulação. Quando não há doenças associadas, o sangramento irregular é efeito direto da tentativa do retorno da fertilidade, porém não é este um sangramento menstrual pois a ovulação não ocorreu.
Sangramento de Rompimento ou Breakthrough.
O sangramento de Rompimento se dá em 2 circunstâncias específicas:
- na presença de altos níveis de estrogênio ou
- por estimulação estrogênica contínua.
Sangramento de Rompimento por altos níveis de estrogênio.
No período que antecede ovulação os folículos em crescimento produzem altos níveis de estrogênio, que estimulam o crescimento “excessivo do endométrio deixando-o muito espesso e irrigado de sangue. Quando o aumento dessa espessura “rompe o seu limite, o endométrio não suporta e descama, produzindo a perda de sangue.
Sangramento de Rompimento por estimulação de estrogênio contínuo.
O retorno da fertilidade e regularidade do ciclo, se inicia por estímulos hormonais provenientes do sistema neuroendócrino, que enviam uma mensagem para o amadurecimento dos folículos ovarianos. Porém pela falta de hormônios em quantidades adequadas, os folículos não se desenvolvem por completo permanecendo num estado de estimulação continua. A estimulação contínua dos folículos induz a uma produção crônica de estrogênio, que por sua vez estímula continuamente o endométrio. Com a estimulação continua de estrogênio o endométrio desenvolve-se excessivamente, alcançando o “limite de sua espessura”, que resulta na sua descamação e perda sanguínea.
As usuárias do MOB quando orientadas reconhecem a estimulação estrogênica contínua, pois observam na anotação de seu gráfico, dia após dia a presença da sensação escorregadia, que pode ser seguida da visualização de uma descarga de muco fino.
Sangramentos nestas condições podem indicar alta fertilidade e geralmente estão associados a outros sintomas como muco visível, sensação escorregadia e vulva edemaciada. Este sangramento pode se apresentar de forma leve com manchas de sangue, ou como fluxo sangue e períodos maiores.
Sangramento de Privação ou Withdrawal bleed.
O sangramento de Privação se dá pela retirada do estímulo do estrógeno sobre o endométrio, provocando sua rápida regressão e a alteração da sua complexa estrutura vascular. Se não há estrógenos para sustentar o endométrio este perderá o suporte e descamará.
Ao entender estes dois tipos de sangramento, torna-se mais fácil entender alguns sangramentos irregulares vivenciados pela mulher, além da compreensão do sangramento menstrual, que é um sangramento de Privação dos hormônios estrógeno e progesterona. Aproximadamente 7 dias após a ovulação sem concepção, o estímulo hormonal que mantém o endométrio começa a diminuir, devido a degeneração do corpo lúteo, produzindo alterações na sua estrutura até o fenômeno menstrual.
Sangramento de Nidação.
A Nidação é a fixação do bebê/embrião no endométrio. Este sangramento ocorre porque durante a fixação do embrião é necessário que este penetre profundamente o endométrio, é como um “cavar”, e este processo pode levar a descamação endometrial. Estima-se que 30% das mulheres apresentam sangramento de nidação.
Sua ocorrência se dá por volta do sétimo dia após a fecundação, ocasionando uma possível confusão com o início da menstruação. Suas características apresentam-se de forma variada, como um sangramento em borra ou rosado, ou vermelho claro ou escuro, porém sempre em pequena quantidade por no máximo 3 dias. Algumas mulheres o identificam uma única vez, e outras várias vezes durante a higiene pessoal ou na roupa íntima.
O Método de Ovulação Billings permite a mulher acompanhar a sua saúde reprodutiva e a reconhecer os diferentes tipos de sangramentos.
1- Estudos sobre a Reprodução Humana. Atividade Ovariana, Fertilidade e o Método de Ovulação Billings™. Brown, James B.
2- Menstruação: Mecanismo Local. Rosa Maria Busana Clauzet.
3- Ensinando o Método de Ovulação Billings – Parte 2. Variações do Ciclo e a Saúde Reprodutiva. Evelyn L. Billins/John J. Billings
Fonte: Fertilidade Inteligente- Karen Mortean