Beato Francisco Marto nasceu há 100 anos

O Pastorinho, beatificado em 2000, distinguiu-se pelo seu espírito contemplativo

Ocorre hoje, dia 11 de Junho, o primeiro centenário do nascimento do Beato Francisco Marto. Sexto filho de um casal que teve sete, constituiu com a irmã, Jacinta, precisamente a ultima dos sete, e a prima Lúcia, o grupo das três crianças que protagonizaram os acontecimentos da Cova da Iria, de Outubro a Maio de 1917.

Não admira, por isso, que as respectivas biografias tenham sido objecto de inúmeros desenvolvimentos, o que as tornou sobejamente conhecidas.

Mas, como acontece com muitas outras coisas relacionadas com aqueles acontecimentos, o esmiuçamento de pormenores históricos, bem como a sua divulgação, mau grado o interesse que posssam ter, não significam, só por si, que estejamos a aprofundar o devido conhecimento daquilo que costuma designar-se por Mensagem de Fátima.

Pode até dar-se o caso de nos ocuparmos de tal modo com os pormenores históricos, a descrever os factos e a analisar as características dos personagens, que não nos dêmos conta do que isso significa.

Sabido como é que os carismas destinados a uma determinada missão, como norma, não se sobrepõem às características temperamentais das pessoas, o que importa, quando se conta a vida dessas pessoas, não será tanto frisar essas características, como sobretudo chamar a atenção para o modo como tais características servem aquela missão.

Relativamente ao Francisco, cujo temperamento é muitas vezes descrito em contraste com o da irmã, o que prejudica o perfeito conhecimento de ambos, como receptores e intérpretes da Mensagem, o que importaria sobretudo seria pôr em realce o seu modo de viver as aparições de Nossa Senhora, tanto durante o seu desenrolar, como no ano e meio que se seguiu, de Outubro de 1917 à sua morte, ocorrida a 4 de Abril de 1919.

Fátima, como foi já dito nos mais variados tons, constitui uma especial manifestação do amor misericordioso de Deus, que, por intermédio de Maria e da fidelidade de três crianças, vem recordar-nos como é sério o amor com que nos ama.

Projectar isto na existência histórica dos homens implica mostrar-lhes que a única ambição que pode encher toda a sua vida, é contemplar o rosto de Deus… para O adorar e desagravar. Ou, dito de outro modo, em linguagem de criança, consolar Jesus: como dizia o pequeno Francisco, que de tal modo se apaixonou por esta dimensão do recado trazido por Maria, que às vezes se esquecia de tudo o mais. Secundarizando mesmo a outra dimensão, a dos pecadores, pelos quais se consumia a irmã.

Mas secundarizar não significa desvalorizar ou esquecer: porque, de facto, o Francisco, com a sua paixão por estar com Deus, atingiu um tal grau de contemplação, que se mantinha extraordinariamente lúcido em relação ao resto. De tal modo, que é muitas vezes ele quem recorda às companheiras, a irmã e a prima, a necessidade de rezar e sacrificar-se pelos pecadores.

De um modo geral, os biógrafos dos Pastorinhos, demasiado atentos a aspectos anedóticos, sobretudo no que se refere ao Francisco, têm dado pouca importância ao seu papel de despertador, digamos assim, quando, por isto ou por aquilo, a irmã e a prima pareciam algo distraídas da importância das recomendações da Senhora.

Diríamos que o Francisco não é apenas um grande contemplativo: o seu comportamento, especialmente as intervenções que protagoniza de vez em quando, no seio do grupo, prova também que a contemplação é a única forma de mantermos a lucidez necessária a todo o tipo de acção apostólica.

E tudo isto é Fátima.

O que talvez nem sempre se tenha tido na devida conta.

Diríamos até, sem querer desvalorizar o trabalho de tantos investigadores, trabalho que tem o seu lugar e é igualmente necessário, diríamos que começa a ser tarde, para se estudarem este e outros aspectos que não têm chamado a atenção dos investigadores.

Há que esperar que se aproveite este centenário para regressar ao essencial, aquilo que faz com que Fátima não seja apenas mais um santuário mariano.

Pe. Augusto Pascoal, Diocese de Leiria-Fátima

 

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