Tolentino Mendonça foi o único português no histórico encontro com Bento XVI
O padre e poeta madeirense Tolentino Mendonça viveu uma experiência única ao marcar presença no encontro que Bento XVI manteve com cerca de duas centenas e meia de artistas de todo o mundo, no passado dia 21.
Para o director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), o sublinhar das palavras “amizade, cordialidade” serviu para dizer aos artistas que “no interior da Igreja, no interior do espaço cristão, eles encontram uma casa, uma espécie de pátria”.
A arte, assegura, pede uma “indagação do tipo espiritual” e há uma “centelha de sagrado em cada procura artística”.
Neste encontro, o Papa fez um convite “à amizade, ao diálogo, à colaboração” a artistas “de países, culturas e religiões diversas, porventura até mesmo distantes de experiências religiosas”, mas todos “desejosos de manter viva uma comunicação com a Igreja Católica, sem restringir os horizontes da existência à mera materialidade, a uma visão redutiva e banalizante”.
O exegeta e tradutor da Bíblia confessa à ECCLESIA a “grande emoção” quando viu uma “autêntica multidão” que caminhava no braço da Porta de Bronze. Entre mais de 300 pessoas estavam “alguns dos grandes criadores contemporâneos”, num “abraço da Igreja ao mundo da arte”.
Quanto ao discurso de Bento XVI, o sacerdote acredita que se “procurou aprofundar a temática, não foram apenas palavras para aquela circunstância”. No final, foi visível a “grande sintonia”.
Para além do convite à amizade recíproca, o Papa falou da arte como “uma procura, uma ferida”. “Não é um lugar de conquista, não é uma forma, mas é sobretudo um itinerário, uma vocação a que se vai respondendo ininterruptamente”, assinala.
A proximidade entre procura artística e procura espiritual foi outro tema abordado pelo Papa alemão, que aludiu à “cumplicidade” entre as duas experiências. O presidente do Conselho Pontifício da Cultura, Gianfranco Ravasi, disse por seu lado que a Igreja se foi afastando do “discurso estético”, apelando a um “pacto” com o mundo das artes.
“O coração do homem contemporâneo tem uma grande fome de beleza, que é também a beleza total, iluminada pelo transcendente”, assinala o Pe. Tolentino Mendonça.
Para o director do SNPC, a arte “é sempre singular”, um “momento irrepetível” de cada artista capaz de “representar o humano e de nos comover até ao mais íntimo”. Por isso, reconhecendo o que é “próprio do discurso artístico”, a Igreja deve promover uma “aliança” com a arte.
Neste contexto, destaca o “gesto de acolhimento e de reconhecimento” do Papa, frisando que “muitas vezes, numa sociedade massificada e anónima como a nossa, o artista, o criador não tem lugar reconhecido e o seu trabalho acaba por ficar demasiado remetido para uma margem”.
A Igreja, acrescenta, coloca cada artista “no centro da própria experiência humana, como aqueles que são capazes de reflectir as grandes linhas de construção do homem”, contribuindo para que a nossa cultura “olhe de outra maneira para a produção artística”.