Carlos de Foucauld, Apóstolo dos Tuaregues

Nascido de uma família rica e nobre de Estrasburgo (França), Carlos de Foucauld ficou órfão de pai e mãe com apenas seis anos de idade. A 18 de Setembro de 1858 viu a luz do dia e aquele percalço familiar faz com que seja educado pelos avós maternos.

A guerra de 1870-71 obriga a família a fugir, fixando-se em Nancy. A sua infância e adolescência ficaram marcadas por estes factos dolorosos e perdeu a fé. Entregou-se a uma vida de boémia, fruto de ter perdido o sentido para a vida. Em 1876, Carlos é admitido na Academia de Saint-Cry, depois na Escola de Cavalaria de Saumur. Como possui uma grande fortuna, “leva uma vida de estroina” (Lafon, Michel – Orar 15 de Dias com Carlos de Foucauld. Apelação: Paulus Editora).

O estilo de vida não era o mais propício e as classificações escolares eram vergonhosas. Com apenas 22 anos exclama: “sou um homem acabado”. A mudança de vida de Carlos começou com uma experiência de guerra, na Argélia, onde partilha a vida dura com os seus soldados. Terminado o conflito, sente necessidade de conhecer a vida dos povos que antes combatera.

No último quartel do século XIX deixa o exército e empreende uma viagem de reconhecimento a Marrocos, disfarçado de Judeu. Estuda a cultura daquele povo, toma nota, meticulosamente e disfarçadamente, de tudo o que observa. Esses apontamentos servem para elaborar o livro que recebe a medalha de ouro da Sociedade de Geografia. Foi uma viagem de alto risco. Por três vezes correu perigo de vida, sendo salvo por muçulmanos que arriscaram a vida para o salvar. Durante esta viagem pelo Magreb faz a experiência da hospitalidade, tanto de árabes como de Judeus. Do contacto com novas culturas nasce o volume «Reconnaissance au Maroc».

Em Outubro de 1886, na Igreja de Santo Agostinho, em Paris, «converte-se» nas mãos do abade Huvelin, que se torna seu guia espiritual. A pouco e pouco o jovem Carlos aproxima-se do Deus cristão. Nessa procura, entrava em igrejas, em França, e, aí, ficava horas a fio, repetindo incessantemente a oração: “meu Deus, se existes, faz com que eu te encontre”.

Se o Pe. Huvelin ajudou na sua conversão, a sua prima também teve um papel fulcral. Um dia Carlos de Foucauld escreveu: “sendo ela uma pessoa tão inteligente, a religião em que acredita com tanta convicção, não pode ser uma loucura como penso”. Depois de fazer uma peregrinação à Terra Santa e percorrer as ruas de Nazaré, Carlos tem um grande desejo “de levar a vida finalmente… que entrevi, que adivinhei, percorrendo as ruas de Nazaré”.

O Mosteiro Trapista de Notre-Dame des Neiges (Ardèche) recebe-o em 1890. Aí toma o nome de Irmão Marie-Albéric. Passado algum tempo parte para o Mosteiro Trapista de Akbés, na Síria. No clima de oração que o mosteiro trapista proporciona, Carlos descobre a sua verdadeira vocação. No mês de Janeiro de 1897, o Abade Geral dos Trapistas dispensa-o dos seus votos e autoriza-o a «seguir a sua vocação». Durante quatro anos foi ermitão das Clarissas de Nazaré e, aí, escreve a maior parte das suas meditações. Medita longamente o Evangelho. Uma frase de Jesus interpela-o especialmente: “o que fizeste ao mais pequenino dos meus irmãos, a mim o fizeste”. Sente necessidade de transportar a vida contemplativa dos mosteiros para o coração das cidades, sobretudo para o meio dos mais necessitados. Revive aquele pensamento de S. João Crisóstomo: “é preciso dedicar à presença de Jesus nos pobres a mesma atenção prestada à sua presença na Eucaristia”.

A 9 de Junho de 1901 é ordenado sacerdote em Viviers e decide partir para a Argélia, Saara, «entre as ovelhas mais abandonadas». Fixa-se em Beni-Abbès, perto da fronteira com Marrocos. Aí constrói a sua primeira fraternidade. Mantém as portas abertas da sua casa a todos: “quero habituar todos os habitantes, cristãos, muçulmanos judeus, idólatras a verem em mim o irmão universal”.

Passados quatro anos, acompanhando os militares, realiza digressões pelos oásis do sul até junto dos Tuaregues do Hoggar. Fixa-se junto destes últimos, em Tamanrasset. Mas, por falta de companheiros, tem de repartir a sua vida entre Beni-Abbès e Tamanrasset. Nas montanhas selvagens do Hoggar, junto dos Tuaregues, um povo nómada e hostil aos franceses, Carlos aprende a sua língua e cultura. Começa a tradução do Evangelho para língua tuaregue.

Depois de uma viagem a França (em 1909), Carlos regressa a Tamanrasset onde fica até à sua morte, salvo o tempo de duas viagens a França (1911 e 1913). Em todos estes anos, o Pe. Carlos de Foucauld consagra a maior parte do seu tempo a trabalhos linguísticos. Com a primeira guerra mundial cresceu a instabilidade na zona. Carlos que fora militar e nascido numa família rica e nobre, poderia ter partido para um local seguro. Opta por ficar junto dos «seus». Foi sequestrado por um grupo de rebeldes e assassinado (1 de Dezembro de 1916) por um grupo de Tuaregues Senussi.

Apesar das turbulências iniciais, a sua vida foi um exemplo. A 13 de Novembro de 2005 foi beatificado.

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