Células-tronco: Vitória de quem?

Dr. Frei Antônio Moser
Assessor da CNBB para assuntos de Bioética

Terminado o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a questão das células tronco embrionárias, muitas foram as manchetes que destacavam a palavra “vitória”. Algumas ressaltavam que se tratava da vitória da ciência contra o “obscurantismo” religioso; outros que se tratava da consagração definitiva de um estado laico, em oposição à força das religiões; outros ainda destacavam tratar-se da vitória dos portadores de doenças de cunho genético.

De fato, houve uma vitória, ainda que suada, dos que representavam a liberação de pesquisas com embriões sobre os que a elas se opunham, em nome do respeito à vida humana e de outras alternativas. Mesmo nesta vitória ficou muito claro que as argumentações dos defensores da inconstitucionalidade da lei de biossegurança conseguiram o que era possível naquele contexto: mostrar que não se brinca com a vida humana, em qualquer etapa e em qualquer circunstância. E diga-se também que enquanto a argumentação de alguns juízes foram simplesmente brilhantes, outras o foram muito menos. E chegaram até a ser apelativas.

Mas, afinal, a vitória foi mesmo de quem? Certamente não foi de nenhuma ciência, mas daquilo que um dos defensores do uso de embriões classificou muito bem no dia seguinte: “Foi a vitória de uma aposta, pois não há nenhuma certeza de que as células embrionárias renderão terapias”. E o mesmo pesquisador acrescenta: “Pode ser que todo mundo dê com os burros n’água daqui a alguns anos”. Observação animadora.

Certamente foi também, e sobretudo, a vitória de grupos de pressão, que souberam, através dos mais diversos expedientes, nem sempre muito éticos, formar a opinião pública. Uma coisa é certa: cabe agora aos “vitoriosos” mostrar do que são capazes.

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