Bíblia está em casa, mas não é lida
O Patriarcado de Lisboa apresentou esta os resultados de um inquérito sobre a Bíblia realizado entre os católicos que participaram nas celebrações dominicais em Setembro e Outubro de 2007. Os resultados mostram que 87,65 % dos inquiridos tem uma Bíblia em casa, mas na maioria dos casos não a lê regularmente, nem de forma individual nem em grupo.
Para D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa, este é “mais um indicador do que um estudo objectivo”, dado o número de respostas “não muito significativo”. De facto, responderam 3839 pessoas, cerca de 4% dos participantes nas referidas celebrações.
O Patriarca frisou que “aquilo que nós chamamos ‘Palavra de Deus’ afunila-se na palavra bíblica”, mas esta é “um instrumento de mediação, que tem na sua origem já a marca de Deus, o fenómeno da inspiração, para que o crente possa chegar a escutar o que Deus tem a dizer à pessoa e ao seu povo”.
“Um dos riscos da Igreja é que fique no instrumentos e não o trabalho com humildade e interiorização, a ponto de poder tocar um mistério, que é o do Verbo de Deus”, indicou.
Nesse sentido, defendeu a “valorização da proclamação da Palavra de Deus em assembleia” e a necessidade de que ensinar os católicos a rezar com a Bíblia,.
“Precisamos de insistir em ensinar as pessoas a rezar a partir das Sagradas Escrituras. As Sagradas Escrituras não como interesse intelectual, mas com as pessoas a aprenderem a rezar a partir da palavra de Deus”, disse D. José Policarpo.
Durante o encontro com os jornalistas, o Cardeal-Patriarca admitiu que a Bíblia é “um livro complicado”, sustentando que é preciso dar às pessoas “critérios mínimos de contacto” com a Escritura.
“O caminho é ensinar as pessoas a ler a Bíblia em conjunto e com critérios para que percebam, nomeadamente, as diferenças que há entre os vários livros”, afirmou, apontando como exemplo a criação de grupos bíblicos.
D. José Policarpo destacou a importância de utilizar bem a Palavra de Deus nas celebrações, lamentando os casos em que “a palavra é mal lida”, existe uma escolha inadequada dos leitores e em que “a homilia nem sempre ajuda”.
Este responsável disse ainda que “há sinais positivo de interesse pela Escritura, mais fora da celebração do que dentro da celebração, mas uma grande inconsciência de que a Palavra de Deus hoje não é só as escrituras”, mas também o “Magistério autêntico”.
O Cardeal-Patriarca considerou, por outro lado, ser significativa a existência de um número “consolador” de pessoas que participam na Missa, não só ao Domingo, mas também durante a semana, número esse que aumentou após a realização do Congresso Internacional para a Nova Evangelização.
Sem pessimismo
A apresentação dos números tidos como mais relevantes esteve a cargo do Pe. Paulo Franco, coordenador do Secretariado de Acção Pastoral (SAP) do Patriarcado. Segundo o sacerdote, “vale a pena sublinhar que a maior parte dos participantes nas assembleias dominicais tem Bíblia e tem acesso a ela”, 87,65%
Os dados relativos à leitura individual indicam que 44% dos inquiridos nunca lê a Bíblia ou apenas o faz até 6 vezes ao ano. 9,3% afirmaram lê-la todos os dias.
Quanto à leitura em grupo ou acompanhada, os números tornam-se mais negativos: 67,3% dos inquiridos nunca lê a Bíblia ou apenas o faz até 6 vezes ao ano; apenas 2,1% o fazem todos os dias.
O inquérito mostra em74,6% das respostas que os inquiridos acreditam que, para além da Bíblia, Deus comunica a sua Palavra aos homens “também de outras maneiras”. Não obstante, 16,1% “não sabe, tem dúvidas” quanto a essa comunicação.
O Pe. Paulo Franco destacou que a pertença a movimento/associação tem “influência clara” no acesso e na leitura da Bíblia.
O relatório apresentado à imprensa conclui que “estamos ainda longe do horizonte lançado” há 42 anos, no Concílio Vaticano II. “A realidade observada não deixa dúvidas quanto ao caminho que ainda é necessário percorrer”, pode ler-se.
D. José Policarpo considera que este inquérito tem “surpresas positivas” e revela também “preocupações grandes”, assegurando que a Diocese procurará valorizar “o Ano Paulino” que se inicia a 28 de Junho, porque “Paulo oferece aos cristãos um itinerário completa de vida, desde a conversão à esperança na vida eterna”.