“A seara é grande e os voluntários missionários são poucos”. Parafraseando o Evangelho, damo-nos conta de que o campo onde a Igreja é chamada a exercer a sua Missão não pára de crescer, perante tantas necessidades e urgências da nossa humanidade. Por isso, todos os que nesse campo trabalham são poucos, mesmo que nos últimos anos se tenha assistido a um crescimento gradual do número de voluntários missionários, sobretudo jovens, rapazes e raparigas, que deixam a sua família e amigos, partem para outras terras, como testemunhas em nome de Jesus Cristo.
O voluntariado missionário é um novo dinamismo que enriquece a experiência eclesial de fraternidade e solidariedade, cujo desenvolvimento poderá marcar o futuro da Missão da Igreja, neste mundo global e da mobilidade humana. Há várias formas de voluntariado missionário, que tanto pela sua origem ( grupos universitários, paroquias, institutos religiosos, dioceses, etc.), como pela sua preparação, motivação e duração, nos indicam uma grande diversidade que não deixará de ser um sinal dos tempos suscitado pelo Espírito de Deus, em resposta às novas necessidades de trabalhadores para a seara e às novas formas de exprimir a caridade num mundo mais solidário.
Não incluímos nestas formas, todas aquelas grandes organizações, ong´s e outras, que sob a capa da solidariedade e do voluntariado vão usando, em burocracia, salários e logística, uma grande parte do que é destinado aos pobres.
Entre os jovens voluntários há aqueles, mais numerosos, que partem por um curto período de tempo ( de 1 a 3 meses). Esta experiência é sobretudo interessante do ponto de vista pessoal, como enriquecimento humano e cultural e como partilha de outras formas de viver a fé. Nestes jovens há um “ir”, um partilhar, um dar, que nem sempre redunda num “vir”. Ou seja, a experiência é tão curta que o regresso dos jovens ao mundo do estudo ou do trabalho, não lhes permite fazer eco, junto das comunidades que os enviam, da experiência que viveram, nem daí tirar consequências para a sua vida cristã, pessoal ou profissional, . Ou então é um eco virtual feito de fotos, powerpoints, esculturas ou capolanas. É bom este “ir” e oxalá todos os jovens cristãos pudessem fazer esta experiência transcultural, mas não é desta forma de voluntariado missionário que mais a nossa Igreja precisa.
A nossa Igreja em Portugal precisa de voluntários missionários que se queiram dedicar a uma experiência de vida em comum, testemunhando a sua fé, por períodos de um ano ou mais, num outro país onde a Igreja tem mais dificuldade em responder às necessidades dos povos. Quer pela sua prolongada preparação e aprofundada motivação, quer pelas exigências de vida cristã que a experiência de trabalho implica, estes voluntários missionários tornam-se agentes de evangelização, testemunhas de Cristo, arautos de Esperança cujo brilho aponta em duas direcções. Enviados da única Igreja de Jesus Cristo, embora por um tempo parcial que se encaixa na flexibilidade dos tempos de hoje a requerer compromissos ad tempus, eles contribuem para uma maior solidificação dos elos de comunhão que constituem o ser da Igreja. Se junto dos povos a quem são enviados, os voluntários missionários constituem um exemplo vivo de abnegação, generosa entrega, em nome da fé em Jesus Cristo; junto das comunidades que os enviaram e recebem de volta são expressão viva do sentido missionário de toda a Igreja e também daquela comunidade específica a que pertencem. E sabemos quanto este “vir” se torna muitas vezes fonte de uma dinamização particular de comunidades cristãs que, de um momento para o outro, se vêem mais unidas em gestos de partilha, apadrinhamento, acolhimento, visitas, etc… Pena é que nem sempre as comunidades cristãs e suas lideranças saibam tirar partido destas experiências para potenciar a partilha, a vivência da fé e o fortalecimento da Igreja Comunhão. As comunidades cristãs que souberam potenciar este dinamismo, esta relação, esta aliança, encontraram mais alegrias que dificuldades, mais crescimento da fé, aumento dos grupos que até atraiu novos membros à vida eclesial. Um outro fruto desta sementeira, embora mais modesto, tem sido o surgimento de vocações missionárias a tempo inteiro, de religiosos e religiosas, que após tal experiência se querem entregar totalmente ao serviço da Missão e que a Igreja continuará a precisar para solidificar os elos da comunhão missionária que unem toda a Igreja.
Em ano de Congresso missionário e de reflexão a propósito da responsabilidade geral da Igreja sobre a Missão ad gentes, precisamos de incentivar o voluntariado missionário a ponto de não descansarmos enquanto cada paróquia ou comunidade cristã do nosso país, não tiver entre os seus membros pelo menos um voluntário missionário, um agente de evangelização e de comunhão, que em todos pode ajudar a reavivar o seu sentido de Missão, como esperamos o faça também o ano Paulino em que todos estamos tão empenhados. “Mandai Senhor, voluntários missionários para a vossa Igreja, em Portugal”!
José Manuel Sabença – Presidente dos IMAG ( Institutos Missionários Ad Gentes)