Curso sobre Paulo e suas Cartas

Temas controvertidos

u Paulo, solteiro ou casado (1Cor 7,7-8. 25-26, no contexto maior de 1Cor 7,1-40);

v Paulo, solitário ou solidário (ver as missões, Cartas, At e Rm 16);

w Paulo e a situação social da época: autoridade (Rm 13,1-7), discriminação social (1Cor 11,17-22), pobreza/coleta (2Cor 8 – 9; Rm 15,25-28), escravidão (Fm; 1Cor 7,20-24);

x Paulo e a discriminação feminina: silêncio (1Cor 14,33-35) e véu (1Cor 11,2-16) das mulheres, na assembléia;

y Paulo e o “espinho na carne” (2Cor 12,7-10);

z Paulo e as carnes consagradas aos ídolos (1Cor 8 – 10);

{ Paulo e os carismas (1Cor 12 – 14).

u Paulo, solteiro ou casado (1Cor 7,7-8. 25-26, no contexto maior de 1Cor 7,1-40)

Os textos que nos ajudam são os de 1Cor 7,7-8. 25-26. Mas é importante vê-los no contexto de todo o capítulo 7,1-40.

v Paulo, solitário ou solidário

(ver as missões, Cartas, At e Rm 16)

Das fontes disponíveis podemos deduzir a figura de Paulo bem solidário, não solidão; não individualista, mas de comunhão:

u a vida comunitária,

v as missões,

w as Cartas (especialmente Rm 16),

x o livro de At.

Paulo não foi um pregador solitário. Pelo contrário, foi um homem de comunidade: viveu em comunidade e relacionou-se assiduamente com as comunidades. Típico líder das origens cristãs, manteve amplo leque de contatos. Apreciemos apenas alguns dados demonstrativos:

µ At individua ao menos 32 pessoas (3 mulheres) com quem Paulo manteve contato personalizado, sem contar os fiéis de, ao menos, 10 comunidades;

µ Sua última Carta (aos Romanos) apresenta um elenco com nada menos de 29 pessoas (com qualificativos), entre as quais 11 mulheres, além de 08 irmãos que estão com o Apóstolo (cf. Rm 16).

µ Paulo, geralmente, escreve as cartas em companhia de seus companheiros de missão:

à Escreve 1Cor com Sóstenes (+ Estéfanas, Fortunato e Acaico);

à Com Timóteo escreve 2Cor (+ Tito), Fl (+ Epafrodito), 1Ts (+ Silvano) e Fm (+ Epafras, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas).

w Paulo e a situação social da época: autoridade (Rm 13,1-7), discriminação social (1Cor 11,17-22), pobreza/coleta (2Cor 8 – 9; Rm 15,25-28), escravidão (Fm; 1Cor 7,20-24)

Apreciemos a questão sob quatro aspectos:

u Autoridade (Rm 13,1-7);

v Discriminação social (1Cor 11,17-22);

w Pobreza/coleta (2Cor 8 – 9;

Rm 15,25-28);

x Escravidão (Fm ; 1Cor 7,20-24).

3.1. Obediência à autoridade civil

â O texto de Rm 13,1-7 recomenda a aceitação e obediência à autoridade estabelecida, “… pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus” (Rm 13,1);

â Ap 13 oferece uma orientação política decididamente contrária: a autoridade do governo imperial é coisa da “Besta”, é blasfemo a Deus.

Quem tem razão? Por que posturas tão diferentes, até opostas? Pode a Palavra de Deus contradizer-se?

Solução: situar o texto no contexto!

3.2. Superação da discriminação

O texto que nos instrui sobre este assunto é o de 1Cor 11,17-22…

Qual é o problema concreto que tanto enfurece Paulo? Pelo amor e pela fé em Jesus, a comunidade cristã, a modo de fermento na massa, deveria contribuir na melhoria da sociedade. A decepção de Paulo é que, além de não contribuir na transformação da sociedade excludente, a comunidade traz para dentro de si as discriminações da sociedade.

Solução: conversão séria à Eucaristia, remédio à carestia.

3.3. Coleta de ajuda aos pobres

Paulo é o organizador da primeira coleta cristã de que se tem conhecimento.

2Cor 8 – 9 (também Rm 15,26-27) apresenta longa explicação e motivação de Paulo, sobre a coleta em favor da comunidade de Jerusalém (se é a mesma de At 11,27-30, então Lucas a muda de contexto).

Destacamos alguns elementos:

j O pioneirismo da iniciativa;

k A generosa contribuição dos irmãos da Macedônia e da Acaia;

l A importante colaboração e o zelo de Tito;

m Liberalidade, sem prejudicar-se;

n Bom senso de Paulo que delega funções;

o A recompensa dos que participam;

p A “teologização” do gesto:

è Inspiração em Jesus (2Cor 8,9),

è Intercâmbio de bens, espirituais e materiais (Rm 15,27).

3.4. A questão da Escravidão

Paulo ocupa-se explicitamente com o tema em Fm e, de passagem, no texto de 1Cor 7,20-24.

Seria anacrônico exigir de Paulo uma consciência sociológica dos direitos humanos como nós, hoje, a temos. Os dois textos muito próximos, cronologicamente, mostram posturas diferentes. Paulo, portanto, não quer fornecer doutrinas sistemáticas, mas oferecer instruções práticas.

u Em 1Cor 7,20-24 Paulo parece desestimular os anseios de liberdade. Paulo é movido por liberdade e quer os fiéis livres: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1a); “não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28). Como, pois, entender as recomendações de 1Cor ?

v A posição de Fm é decididamente outra. Agora, senhor e escravo são, ambos, irmãos e por isso não cabe a escravidão mas a fraternidade.

x Paulo e a discriminação feminina: silêncio (1Cor 14,33-35) e véu (1Cor 11,2-16) das mulheres, na assembléia

O tema da suposta discriminação de Paulo, em relação às mulheres, aparece em dois episódios:

u a ordem de que as mulheres se calem na assembléia;

v a recomendação do uso de véu durante a celebração. Ambas as questões são abordadas na 1Cor.

Lembremos que esta Carta retrata um verdadeiro aprendizado e laboratório de criatividade pastoral para Paulo e sua equipe missionária. De novo, Paulo não dá normas perenes e gerais, mas orientações práticas e pontuais.

Como Paulo sabe dos problemas que acontecem na dinâmica e turbulenta comunidade de Corinto?

R Por pessoas da “casa” de Cloé (1Cor 1,11);

R A partir de uma carta que os próprios coríntios lhe escreveram (1Cor 7,1).

Em 1Cor 11,2-16 há uma ordem expressa de que as mulheres usem véu durante a celebração. Para motivar sua determinação Paulo até ensaia uma teologia. Mas, à certa altura, parece anular todo o discurso: “Pois se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce pela mulher, e tudo vem de Deus” (1Cor 11,12).

Duas extranhezas:

V É mesmo vergonhoso o homem usar cabelo comprido (v. 4) e cobrir a cabeça (v. 7), a saber que na Palestina os homens usavam cabelo comprido e cobriam a cabeça para orar? Eis, portanto, uma questão cultural, válida para Corinto, não em todo lugar.

V O que dizer dos “Anjos” que ficariam atrapalhados se as mulheres deixassem o cabelo solto (v. 10)?…

Qual é, pois, o motivo de todas essas recomendações de Paulo?

Corinto é uma cidade portuária (“bimaris”, dois portos: Jônico e Egeu) e a fama da cidade não é das melhores. Na época até havia uma expressão “viver a la Corinto”, isto é, devassamente.

Só por isso? Não! Próximo ao porto de Cencréia existia um templo com prostituição sagrada, onde as “ministras” acolhiam e provocavam os homens com os meneios dos cabelos.

Paulo absolutamente não quer que as mulheres cristãs pareçam com as prostitutas sagradas.

O segundo tema polêmico é a ordem de que as mulheres se calem na assembléia: 1Cor 14,33-35.

â Também aqui precisamos olhar o que acontecia na comunidade de Corinto. É possível que numa sociedade discriminadora como aquela, de fato as mulheres não tivessem acesso à instrução. Contudo, a comunidade de Corinto conhece duas mulheres que, certamente, eram instruídas e Paulo as elogia muito em Rm 16,1-3: a diaconisa Febe e Priscila.

â Parece que o problema está justamente nisso: havia mulheres que intervinham, justamente por saberem das coisas. Isso, porém, não era bem visto pela sociedade local e Paulo quer evitar tumultos ao interno da comunidade e fofocas fora dela.

y Paulo e o “espinho na carne” (2Cor 12,7-10)

O contexto em que aparece o tema é o da defesa que Paulo faz de si e de seu ministério ante os coríntios que o contestam.

Nosso texto é o de 2Cor 12,7-10. Estamos diante de uma confissão do próprio Paulo, justamente para contrapor a referida fraqueza à magnífica experiência mística narrada imediatamente antes (2Cor 12,1-6).

u A partir da concepção grega o “espinho na carne” poderia sugerir um preocupante defeito, vício ou pecado. A fantasia moralizante sugeriu que Paulo tivesse problemas de masturbação…

v Pelo que de Paulo conhecemos, no contexto em que estamos e pela sua forte característica judaica, o “espinho na carne” tem a ver com sua vida habitual, isto é, vida humana (na carne: da concepção à última respiração. Assim, o mais provável é que o “espinho” seja:

R Seu temperamento impetuoso e impaciente;

R O sofrimento de ver sua gente recusar Jesus;

R Alguma doença que lhe causava desconforto.

NB. Dois temas polêmicos que apenas elencamos:

As carnes consagradas aos ídolos (1Cor 8 – 10);

O discernimento, acolhida e cultivo dos carismas

(1Cor 12 – 14).

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