Advento e experiência de Deus

Deus vem para se comunicar, estabelecer amizade e aliança, intimidade e reciprocidade com a humanidade. A espiritualidade do advento privilegia cinco grandes experiências de Deus, vejamos.

1. A experiência da beleza. Obras do Senhor, bendizei ao Senhor. Encontramos Deus e fazemos altas experiências de sua grandeza, beleza, sabedoria, providência e amor nas obras da criação. “Os céus narram a glória do Senhor” diz o Salmista. O cosmos é uma grande catedral, um santuário, uma bíblia, um sacramento do encontro com Deus. As coisas visíveis nos levam ao Invisível. A terra é uma grande catequista. Temos razões demais para uma consciência e amor ecológicos. Deus vem e está na criação.

2. Os encontros. Nossa vida é marcada pela “arte do encontro”. Encontrar-se, relacionar-se, comunicar-se faz bem a nós e aos outros. São marcantes os encontros que Jesus estabeleceu com as pessoas. O que promove a mudança e o crescimento é a relação de amor. Advento é tempo propício para encontros humanos, mas, principalmente de encontro com Deus e conosco mesmos.

Encontro é empatia, compreensão, perdão, sensibilidade. Nossos encontros são lugares de experiência de Deus. Ele gosta de ser encontrado nas pessoas amigas como também nos pobres, presos, pecadores. Tão importantes são os encontros que os próprios desencontros, podem levar ao encontro.

3. A arte. Deus gosta de ser encontrado através da beleza da arte, da musica, da dança, do teatro, das pinturas, imagens e poesias. A arte verdadeira é epifania do mistério e sacramento do Sumo Bem. O esplendor do bem e da verdade reflete-se na arte e suscita assombro, admiração, enlevo e adoração. Na arte se dá a experiência do advento de Deus, enfim, “a beleza salvará o mundo”.

Hoje fala-se muito da “via pulchitudinis, ou seja, da “vida beleza” como caminho para Deus, encontro com o Sumo Bem, portanto, um jeito novo de fazer teologia. Deus é amor e humor. Deus é o artífice das belezas criadas e a obra prima de suas mãos é a pessoa humana. Jesus, no Natal, faz-se um belo Menino e será o bom e belo pastor. Ele é a maior fascinação da humanidade.

4. A Liturgia. As celebrações realizadas com fé e arte, com ética e estética exercem fascínio e comoção, trazem Deus até nós e nos levam até Ele. Os ritos e os ritmos, atraem, cativam e convidam ao sublime, ao transcendente, às coisas do alto. As cerimônias religiosas são luz da glória de Deus. As celebrações, especialmente a missa, perdem seu encanto quando são mal preparadas e mal celebradas. O sublime não deve tornar-se aborrecedor muito menos algo banalizado e até ridículo.

Espaço celebrativo, leituras, microfones, cantos, ritos têm o poder de cativar e despertar para a presença de Deus e realizar o encontro íntimo, pessoal, verdadeiro com o Pai que ama e revela seu amor. A liturgia abre as portas do coração, convida para a comunhão, arrebata para o sublime e nobre, torna palpável a ação da graça.

Os verdadeiros ritos, celebrados dignamente, provocam lágrimas, dilatam as emoções, abrem a consciência, proporcionam conversão e mudança de vida. Todas as celebrações devem facilitar o advento de Deus e uma amorosa e profunda experiência do ministério.

5. A generosidade. Um gesto de amor vale mais que toda a massa do universo e que todas as pregações. Onde está a solidariedade ali está Deus. Nosso amor fraterno é manifestação de Deus para a pessoa amada. A linguagem da generosidade é universal. Deus é encontrado na experiência da dádiva, do altruísmo, do voluntariado.

Como não ver Deus num gesto de adoção, de doação de sangue, de respeito, de ternura, de reconciliação? Numa sociedade de mercado, os gestos de gratuidade e tudo aquilo que é de graça, agrada, atrai, envolve. Que a gratuidade vença o espírito de gratificação que perpassa a vida moderna. Todo gesto de amor é visibilidade da presença de Deus, é advento da graça. Nossos encontros sejam adventos. Deixemo-nos encontrar por aquele que nos procura e quer encontrar-nos. Antes que eu te busque Senhor, tu já me encontraste. Eu não te encontraria se tu não tivesses primeiro vindo ao meu encontro

Por: Dom Orlando Brandes

Fonte: CNBB

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