OS DISCURSOS DE PAULO EM ATOS DOS APÓSTOLOS
– Aos judeus em Antioquia (At 13,16-41);
– Aos pagãos em Licaônia (At 14,15-17);
– Aos atenienses no Areópago (17,22-31);
– Às lideranças cristãs de Éfeso, em Mileto
(20,17-35);
– Aos judeus em Jerusalém (22,1-21);
– No tribunal do governador romano (24,10-21);
– Diante de Agripa e Berenice (26,1-23);
{- Aos judeus, em Roma (At 28,17-20)}
GRANDES FASES DA VIDA DE PAULO
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Saulo, judeu observante: do nascimento aos 28 anos;
2. Paulo, convertido fervoroso: dos 28 aos 41 anos;
3. O missionário itinerante: dos 41 aos 53 anos;
4. O prisioneiro, organizador das comunidades:
dos 53 anos até a morte.
1. Saulo, judeu observante: do nascimento aos 28 anos
a) Onde nasceu e cresceu Paulo?
Paulo nasceu em Tarso, na Cilícia (Ásia Menor, hoje Turquia): At 9,11; 21,39; 22,3. Para São Jerônimo os pais de Paulo eram originários de Gíscala, na Galiléia.
Tarso tinha em torno de 300.000 hab, entre o Mar Mediterrâneo ao sul e uma serra de três mil metros ao norte. Era importante centro cultural e comercial. A estrada romana que ligava Oriente e Ocidente passava lá. Embora nascido ali, na diáspora, Paulo era genuinamente judeu.
Uma vez que Jerusalém era o centro espiritual de todos os judeus, havia intensa comunicação entre Jerusalém e a diáspora. Entende-se, pois, que Saulo nascido na diáspora tenha estudado em Jerusalém (cf. At 26,4). Essa dupla cultura por ele assumida transparece no nome Saulo/Paulo.
b) Juventude e formação de Paulo.
Paulo recebeu a formação básica em casa e na sinagoga/escola. Consistia em ler e escrever, estudar a Lei de Deus e a história do povo, assimilar as tradições religiosas e aprender as orações (salmos).
Depois foi a Jerusalém, onde teve como mestre o sábio
Gamaliel, respeitado pela sabedoria e fidelidade à Lei (At 5,34-39). Paulo, portanto, formou-se na rigorosa tradição dos fariseus (At 22,3). A “teologia de Jerusalém” constava dos seguintes elementos:
1. Estudo da Lei de Deus, a Torá (Pentateuco), pela memorização;
2. A Tradição dos Antigos (Halaká, como viver a vida, e a Hagadá, como ler a vida à luz da Lei de Deus);
3. A Interpretação da Escritura (Midrash, busca). A leitura bíblica era o eixo da formação, desde criança (cf. 2Tm 3,15).
Na mesma época, viveu Jesus de Nazaré, 5 a 8 anos mais velho que Paulo. Parece que os dois nunca se encontraram: um é da cidade, outro do campo. Ambos falam a partir do ambiente que conhecem.
c) Classe social e profissão.
Paulo detinha o importante título de cidadão romano, por direito de nascença (At 16,37;22,25.29). Supõe-se que seu pai ou avô tenham obtido esse título por importante serviço ao Império, ou por compra, visto que para tal se requeria “vultosa quantia de dinheiro” (At 22,28). Como cidadão era membro da pólis e podia decidir politicamente.
Provavelmente o pai era dono de uma fábrica de tendas, onde Paulo aprendeu a profissão (cf. At 18,3), para ajudar o pai e sucedê-lo na direção.
Essas três qualificações (cidadão romano, fariseu formado na escola superior de Jerusalém, filho de pai rico) abriam a Paulo um futuro promissor de brilhante carreira.
d) O ideal do judeu observante.
Paulo foi profundamente religioso, irrepreensível na observância restrita da Lei (cf. Fl 3,6; At 22,3), “cheio de zelo pelas tradições paternas” (Gl 1,14).
Na origem do povo judeu está a Aliança, com dois aspectos complementares: a gratuidade de Deus e a fiel observância do povo. São dois lados da mesma moeda que requerem equilíbrio para não degenerar em ritualismo vazio (Deus faz tudo, a gente só cumpre o rito) ou legalismo exagerado (se a gente observa a Lei, Deus tem que responder). No tempo de Paulo a observância legalista, que já vinha desde Esdras (398 a.C.), marcava a religião judaica. Paulo, qual fariseu convicto que era, entendia que o único caminho para obter a justiça era a rigorosa observância da Lei (veja-se Dt 6,4-9…). Este ideal animou-o até os 28 anos. Leia-se, também Rm 7,18-19 e At 15,10.
e) O momento da crise: o testemunho de Estêvão.
É bem possível que Paulo e Estêvão foram colegas de estudo. Estêvão entrou na comunidade cristã contra a qual Paulo se posiciona radicalmente. Para um fariseu de estrita observância era inadmissível a adesão a Jesus, galileu blasfemo, subversivo e justiçado. Era uma traição imperdoável, uma apostasia inaceitável. Por isso, no apedrejamento de Estêvão, Paulo estava presente como testemunha (cf. At 7,58) e aprovou sua morte (cf. At 8,1).
Na prática, Estêvão descobriu em Jesus o que todo judeu deveria descobrir e contra o qual Paulo tanto relutou, mesmo que depois estranhasse que os demais judeus não o tenham seguido.
Saiu dali com uma verdadeira gana dos cristãos, devastando a Igreja nascente (cf. At 8,3). Assim agindo, pensava prestar um serviço a Deus, em defesa das “tradições paternas” (cf. Gl 1,13-14). O testemunho de Estêvão deve ter enlouquecido Paulo.
Tudo o que Paulo buscava, Estêvão havia conseguido:
– Estêvão vê o céu aberto (significa que se sente justificado);
– Ele vê Jesus à direita de Deus (logo, Jesus que é justo é aquele que justifica.
Mas, esta forma de conseguir a justificação era inaceitável para Paulo… Os extremos se tocam! Quanto mais profunda a noite, mais próxima a alvorada está. Justamente ali, na crise abissal, Jesus irrompe na vida de Paulo.