Acredito que um dos caminhos da gênesis do discipulado nasce da pergunta: “Mestre onde moras? Venham e vocês verão. Então eles foram… E começaram a viver com Ele”, Jo (1,38-39). Tudo se dá a partir do “Encontro”. Ser discípulo é bem mais do que ser “adepto de uma pessoa”. No itinerário da missão apresentado por Jesus, ser discípulo é ver Nele o único Mestre, é fazer de seu Projeto o ideal de vida.
Na contínua busca da descoberta do que venha ser discípulo, encontraremos em (At 11,26) uma grande inspiração quando diz: “… Em Antioquia chamaram pela primeira vez os discípulos de cristãos”. E o que é ser cristão? É ser discípulo de Cristo no sentido de segui-lo e estar ligado a Ele pessoalmente, manifestando assim, a experiência do “Encontro”. É neste contexto que se fundamenta a vocação missionária. Pe. Libermann, fundador da Congregação do Espírito Santo, dizia ao falar do seguimento: “vocação é antes de tudo, um encontro pessoal com Jesus Cristo”.
Segundo Ramón Cazallas Serrano, termo discípulo se repete cerca de 250 vezes no Novo Testamento. Em grande parte, refere-se aos discípulos de Jesus. Ele acolheu no seu “movimento” e vinculou no seu Reino todos os que quiseram escutá-lo e segui-lo, sem se importar com normas especiais de pureza e de conhecimento, como faziam outros grupos do seu tempo, como os essênios e fariseus. Jesus logo encontrou pobres que foram os primeiros destinatários da sua pregação. Para eles viveu e por eles lutou na busca de dignidade de suas vidas. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”(Jo 10,10).
Os discípulos de Jesus não se limitavam a transmitir o que o Mestre havia dito, palavra por palavra, mas, a ser “testemunhas” da vida e dos fatos que Jesus realizou, anunciar o Reino e fazer com que esta realidade se tornasse possível. Os discípulos transmitindo a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, são mais testemunhas do que veículos das tradições e leis verbais. Como chegaram a ser discípulos de Jesus? O Documento de Aparecida diz: “Os que se sentiram atraídos pela sabedoria das suas palavras, pela bondade do seu tratamento e pelo poder dos seus milagres, pelo assombro inusitado que despertava sua pessoa chegaram a ser discípulos de Jesus” (DAp 21).
Jesus, ao contrário dos mestres da época, era um Mestre itinerante. Não formou, por isso, discípulos sedentários, mas os associou a suas andanças missionárias. O discípulo é chamado a ser missionário e este, por sua vez, deixar ser “disciplinado” pelo Mestre.
A visão missionária da Igreja é a mesma recebida pelos Apóstolos no dia da Ascensão do Senhor, no monte da Galiléia: “Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos” (Mt 28, 19). Esta missão tem sido possível realizar porque carrega consigo a promessa do mesmo Senhor Jesus: “O Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem minhas testemunhas… até os extremos da terra” (At 1, 8). A Missão de Jesus nasce do Mandamento do Amor, assim sendo o missionário deve esforçar-se para ser discípulo e o discípulo para ser missionário de Jesus Cristo. Os discípulos nasceram da Missão, por isso dentro do contexto da ação pastoral, devemos lutar para que a dimensão missionária perpasse todas as atividades da Ação Evangelizadora da vida da Igreja. O Documento de Aparecida diz que ” a renovação das paróquias no início do terceiro milênio exige a reformulação de suas estruturas, para que seja uma rede de comunidades e grupos, capazes de se articular conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos e missionários de Jesus Cristo em comunhão… “(DAp 172). O atual Projeto Nacional de Evangelização, que tem como título “O Brasil na Missão Continental” e lema “A Alegria de ser Discípulo Missionário”, motiva a partir dos gestos concretos com o objetivo de intensificar a consciência missionária nas atividades que já estão acontecendo em cada Diocese. E como Igreja, devemos seguir cada vez mais os passos de Jesus, nos transformar numa Igreja peregrina, itinerante e não nos conformar simplesmente com a “religião do templo”, mas nos colocar a caminho.
Muitas pessoas vão ao encontro da Igreja em busca dos sacramentos, onde são feitas exigências necessárias para uma válida e proveitosa recepção do sacramento. Essas pessoas recebem o acolhimento que merecem, mas depois, não se engajam na comunidade. A Igreja não vai ao encontro delas e até mesmo as esquece. Uma idéia que considero vinda do Espírito Santo, mas que ainda não foi bem assumida são as “Santas Missões Populares”. A primeira recomendação de Jesus aos Doze, quando os enviou em missão, foi esta: “Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10, 6). Para responder aos desafios da missão, o discípulo missionário deve antes de tudo, alimentar o seu viver na Mística Missionária. Neste sentido o Projeto “O Brasil na Missão Continental”, dá ênfase, entre outras iniciativas, à Leitura Orante da Bíblia na ótica missionária. A mística missionária de Jesus era fazer a vontade do Pai, “Eu e o Pai somos um”, para Paulo, era sua profunda intimidade com Cristo, ” para mim viver é Jesus Cristo”. E para nós discípulos (as) missionários (as) de Jesus Cristo, qual é a mística que nos sustenta na missão?
Pe. José Altevir da Silva, CSSp
Assessor da Comissão Episcopal Pastoral
para a Ação Missionária e Cooperação Intereclisial.
Fonte: CNBB