Fidelidade ao que Deus inspirou

“Existe uma só e autêntica grandeza no mundo, a santidade”
Mas agora devemos lembrar-nos da máxima dos antigos a propósito do culto aos santos: “Imitari non pigeat quod celebrare delectat”: não devemos deixar de imitar o que nos agrada celebrar. O caso de Madre Teresa nos recorda uma coisa essencial para nossa santificação: a importância de obedecer às inspirações. Isto não é algo que se deva praticar uma só vez na vida. Ao primeiro, decisivo chamado de Deus, seguem muitos outros convites discretos que chamamos as boas inspirações. Da docilidade a estes depende todo nosso progresso espiritual.
Entende-se facilmente por que a fidelidade às inspirações é caminho mais breve e mais seguro à santidade. Esta não é obra do homem; não basta por isso ter um programa de perfeição bem claro para poder levá-lo a cabo progressivamente. Não existe um modelo de perfeição idêntica para todos. Deus não faz santos em série, não ama a clonagem. Cada santo é uma invenção inédita do Espírito. Deus pode pedir a um santo o oposto do que pede a outro. Que há de comum, para seguir em tempos próximos a nós, entre Escrivá de Balaguer e Madre Teresa? Contudo, os dois são santos para a Igreja.
Não sabemos portanto desde o princípio qual é em concreto a santidade que Deus quer de cada um de nós; somente Deus a conhece e nos revela segundo avança o caminho. Com isso consegue que para alcançar a santidade o homem não pode limitar-se a seguir as regras gerais que valem para todos. Deve entender o que Deus lhe pede e somente a ele. Pensemos em que haveria ocorrido se José de Nazaré tivesse se limitado a seguir fielmente as regras da santidade então conhecidas, ou se Madre Teresa tivesse se obstinado em observar as regras canônicas vigentes nos institutos religiosos. O que Deus quer em particular de cada um se descobre através dos acontecimentos da vida, da palavra da Escritura, da orientação do diretor espiritual; mas o meio principal e ordinário são precisamente as inspirações da graça. Estas são as solicitudes interiores do Espírito no profundo do coração através das quais Deus não só dá a conhecer o que pede, mas ao mesmo tempo comunica a força necessária para realizá-lo si a pessoa aceita.
As boas inspirações têm algo em comum com a inspiração bíblica, deixando um lado naturalmente à autoridade e ao alcance que são essencialmente diferentes. “Deus disse a Abraão..”, “O Senhor falou a Moisés”: este falar do Senhor não era, desde o ponto de vista da fenomenologia, distinto do que sucede nas inspirações da graça. A voz de Deus, inclusive no Sinai, não ressoava no exterior, mas dentro do coração em forma de claridade, de impulsos, originados pelo Espírito Santo. Os Dez Mandamentos não foram gravados pelo dedo de Deus em pedra, mas no coração de Moisés, quem depois os gravou na pedra. “Homens movidos pelo Espírito Santo falaram de parte de Deus” (2Ped 1, 21); eram eles os que falavam, mas movidos pelo Espírito Santo, repetiam com a boca o que ouviam no coração.
Toda fidelidade a uma inspiração é recompensada por inspirações cada vez mais freqüentes e mais fortes. É como se a alma se treinasse para chegar a uma perfeição cada vez mais clara da vontade de Deus e para uma facilidade para cumpri-la.

Fonte: Frei Raniero Cantalamessa, OFMCap. Sermões do Advento na Casa Pontifícia, novembro de 2003.

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