O ministério da palavra

Na conclusão da 46ª Semana Social dos católicos italianos, em Reggio Calabria, pareceram-nos particularmente atuais estes trechos retirados de um artigo escrito por Igino Giordani em 1959, para a revista Fides.

«A palavra e a nossa vida devem ser veículos da glória de Deus. Desta forma o cristão imita e, de certo modo, prolonga o Verbo encarnado, o qual coepit facere et docere: começou a fazer (atos) e a ensinar (palavras), e disse «Quem faz e ensina será considerado grande no reino dos céus» (cf. Mt 5,19).
(…) Na palavra de Deus encontram-se, como num sacrário, as três Pessoas da Trindade: o Pai que dá a lei, o Filho que a anuncia, o Paráclito que a inspira. (…).

A palavra de Deus, viático do Espírito Santo, não deve ser sepultada nas bibliotecas, principalmente se estas – como acontece – são concebidas como cemitérios de volumes; mas deve circular, «ide, e ensinai a todas as gentes» (Mt 28,19). Quando o sacerdote intima – Vão, a Missa terminou! – ordena que se leve fora, pelo mundo, o Evangelho com a vida cristã, de modo que durante o dia inteiro a existência seja um anúncio do Evangelho.

E então, o mistério da palavra torna-se o ministério da palavra.
Os papas, os santos, enviaram e exortaram sacerdotes, e hoje também leigos, a anunciar o Evangelho, mas advertindo sempre que a boa pregação vem de uma boa vida, e que a palavra age se confirmada pelo exemplo de quem fala.

O Evangelho é claro: sim, sim, não, não. Para observá-lo é preciso santidade. Quem, para vivê-lo, quer ter o pé em duas tábuas, o reforma: o deforma. E para anunciá-lo é preciso ter o antídoto do temor que é o amor, e aquela independência que é a redenção atuada.

«Nos nossos dias – lamentava-se santa Teresa de Ávila – a liberdade de linguagem não está mais na moda. De fato, os próprios pregadores procuram corromper os seus discursos, para não desagradar ninguém. Certamente devem ter boas intenções… no entanto, não são muitos aqueles que se convertem. Por que os discursos que fazem distanciam tão poucas almas dos vícios públicos? Porque aqueles que pregam têm por demais prudência urbana… e ao contrário, deveriam ter desprezo pela vida e nenhuma estima pela honra. Quando os apóstolos proclamavam a verdade e a defendiam, pela glória de Deus, perder ou ganhar era a mesma coisa para eles». O significado que a palavra tem para o homem é demonstrado pelo fato que os tiranos – ou seja, os desfrutadores e assassinos do homem – como primeiro ato suprimem a palavra e a constrangem a esquemas confeccionados pelos arquivistas. O cristão opõe, com o seu próprio martírio, uma rejeição: «a palavra de Deus não está acorrentada».

Para ensinar a Igreja precisa da palavra livre. As lutas que ela trava pela liberdade de pregação e de ensino, servem para limitar o super-poder de um totalitarismo que diviniza o Estado, isto é, os homens que regem o Estado.
Se todos devem anunciar Cristo, depois dos sacerdotes a missão é entregue especialmente aos mestres, aos jornalistas, aos escritores… hoje a técnica os aparelha com a imprensa, a rádio e a tela cinematográfica e televisiva.
Dizia Leão XIII: «Considero o jornal católico como uma missão perpétua». Por determinação ele se torna, de algum modo, partícipe da Igreja docente. De fato, muitos recebem a fé da carta estampada.

Foi afirmado por Ketteler que São Paulo, hoje, seria um jornalista. Se os jornalistas o soubessem se compenetrariam da missão que lhes foi confiada: ser portadores da verdade e da bondade, e portanto, do verbo de Deus».

I.Giordani, “O mistério (e o ministério) da palavra”, Fides, julho-agosto 1959.

Fonte:Movimento Focolares

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