O precioso dom do limite pessoal

Maria Emmir Oquendo Nogueira

Neste começo deste ano, Deus me deu um presente inusitado. Enquanto todos faziam grandes planos para em 2009 melhorar neste ou naquele aspecto, o que Deus me pediu foi fazer planos para respeitar meus limites humanos, amá-los e utilizá-los como instrumentos preciosos para “garimpar” a humildade.
Como um filme cada vez mais longo, o Senhor me foi mostrando o quanto eu era presunçosa, como “só queria ser a tal”, como se diz no Nordeste. A medida do meu limite era a necessidade do outro, ainda que o que ele necessitasse ou pedisse fosse muito difícil ou quase impossível para mim. Adotei isso como um projeto de vida: ao amar Jesus e meu irmão, diria sempre “sim”. Faria sempre o que fosse necessário, ainda que não soubesse fazê-lo.
Para ser sincera, creio que, enquanto Deus permitiu, esse projeto de vida “funcionou”. Se eu não sabia fazer, estudava, aprendia, tentava, desde que ajudasse. Se não podia fazer, sacrificava o sono, a saúde, mas fazia o necessário para os outros e – imagine o atrevimento! – para Deus!!!
O resultado é que presenciei o poder de Deus cada dia de minha vida. O que eu não sabia, Deus sabia. O que eu não podia, Deus podia. No fim, sempre dava certo.
Por outro lado, aprendi de tudo um pouco e Deus me usou pacientemente, provavelmente com um sorriso no canto da boca. Aprendi também algo importante, talvez tarde demais: o que as pessoas julgam necessário nem sempre o é de fato. Existem falsas “necessidades”, carências, ilusões, fantasias, apegos, expectativas, idolatrias. Existe até uma saudável convivência com a necessidade que leva as pessoas a Deus e ao amadurecimento através da oração, da reflexão, da luta diária para amar.
Meu projeto de sempre corresponder às necessidades dos outros escondia uma fraqueza de base: não saber quando e como dizer “não”. Dizendo melhor: não saber discernir à luz do Espírito Santo quando Deus realmente queria que eu servisse àquela pessoa da forma que ela pensava “necessitar” ou de outra forma, como, por exemplo, a intercessão e penitência escondidas.
Sabe que com isso quase me colocava no lugar de Deus? Pior, quase me colocavam no lugar de Deus! Meu raciocínio sincero era: “Se para Deus nada é impossível, posso ser instrumento para o impossível que só Deus pode fazer. Aí, então, essa pessoa encontrará o Senhor e o amará mais”.
Em contrapartida, o raciocínio sincero das pessoas era: “Se ela rezar por mim, fico curado. Se ela me der uma bênção, fico bom, se ela pregar, vem gente”. Veja só: me colocavam no lugar de Deus! Também pudera! Eu mesma me colocava aí! Eu mesma ia agindo conforme o que as pessoas pediam e nem sempre segundo o que Deus pedia!
Resultado: exaustão, que é um termo politicamente correto para uma série de sintomas extremamente desagradáveis. É a pura verdade que o amor não sabe calcular, que não cansa e nem se cansa, que tudo crê, tudo espera, tudo suporta, como afirmam Teresinha e Paulo. Ora, se eu estava exausta, era sinal que não estava amando com autenticidade, verdadeiramente fazendo a vontade de Deus, realmente ouvindo a Deus sobre Sua vontade para o irmão.
Foi aí que o Senhor me ensinou mais uma vez que só Ele é, só Ele ama verdadeiramente, só Ele pode, só Ele sabe, só Ele realmente resolve e, como um bom artesão de nossas almas, usa o instrumento apropriado para cada obra. Quanto a mim, sou um instrumento, digamos, um pincel, que um dia fica “careca” ou uma plaina que um dia fica cega. Um bom artesão, naturalmente, não usará um pincel para aplainar um tampo, nem uma plaina para fazer pátina.
Em meu orgulho disfarçado de presunção de onipotência, quis ser plaina, pincel, martelo, chave de fenda e sabe Deus o que mais. Resultado: exaustão, pincel careca, plaina cega, martelo frouxo. Deus, naturalmente, pode nos utilizar como quiser ou pode, simplesmente, deixar-nos ver nossos limites com tanta evidência que isso será para nós salvação. No meu caso, o grande problema, a causa da exaustão, parecia ser não saber dizer “não”. A grande chaga, porém, era achar que eu, pecadora, criatura humana, pudesse me dar a esse luxo!

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
por Emmir Nogueira, Co-Fundadora da Comunidade Shalom
Revista Shalom Maná – Ed. Shalom

Comments

comments