O que entendemos por vontade de Deus- Parte II

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Imagens de Deus e vontade de Deus

  Deus, diante de quem existimos, não é um supercomputador capaz de programar e ter presentes milhões de destinos individuais, a quem deveríamos perguntar com medo e espanto pelo futuro. Ele é o Amor que correu o risco de chamar-nos à vida, semelhantes a ele e ao mesmo tempo diferentes, livres, para oferecer-nos a Aliança e a comunhão. Assim, reconhecer a vontade de Deus não é reconhecer uma imposição ou uma fatalidade, mas um chamado a uma criação em comum.

 A imagem de Deus que trazemos muitas vezes é marcada por traços neuróticos e perversos, que dão espaço para a crítica freudiana ao se referir ao Deus de Jesus como o Deus da criança. Se dermos o passo do Deus da criança ao Deus Vivo e Verdadeiro revelado em Jesus Cristo, não poderemos jamais nos render à sua vontade e, portanto, não estaremos em condições de fazer qualquer discernimento que seja, já que discernir é ter a ousadia de deixar-se levar pelo Deus Amor.

  Imagens de Deus e vontade de Deus

 Muitas vezes nossa imagem de Deus se aproxima mais de uma divindade pagã que do Deus de Jesus Cristo. Lembro-me sempre da pergunta chocante de Karl Rahner: será o Deus dos cristãos um Deus cristão? Devemos nos fazer algumas vezes esta pergunta, pois a imagem que muitas vezes temos de Deus – e que no Retiro já devemos a esta altura ter reelaborado – é uma imagem perversa. E uma imagem perversa de Deus impossibilitará nossa Eleição.

 Trata-se de um Deus todo-poderoso, que sabe tudo e vê tudo, diante do qual a história humana se desenrola como um espetáculo sem nenhuma surpresa, e que simplesmente espera que cada um de nós ocupe seu lugar de cúmplices que não têm nenhuma iniciativa própria. Este lugar está previsto desde toda a eternidade. Por isso nós temos que descobrir qual esta vontade e abraçá-la com urgência. Qualquer erro de decisão pode ter efeitos dramáticos, e inclusive levar à condenação eterna.

Certamente Deus tem um desígnio para nós, expresso muitas vezes nas escrituras. Por exemplo: A todos os que o receberam concedeu o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1)2). É um desígnio de salvação, que expressa o ser mais profundo de Deus: um amor que se dá e se comunica para que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10). E porque é uma vontade de Aliança, só pode ser dirigido a pessoas livres.

Assim, há um desejo de Deus dirigido pessoalmente a cada um de nós. Se Deus se manifesta pelo Verbo Encarnado, sua Palavra, é para ser escutado por nós. Se Deus nos chama a ser filhos no Filho Único, é porque certamente espera que nos expressemos em uma palavra que venha unir-se à sua. A revelação de seu amor pode fazer nascer em nós esta palavra. Compete a nós pronunciá-la livremente. De maneira alguma ela nos é ditada por Deus.

Dito de outro modo, ao criar-nos à sua imagem e semelhança, Deus chama cada um a dar a esta imagem uma ressonância particular. Como Jesus deu um rosto humano à imagem do Pai, cada um de nós é chamado a refletir em sua vida traços da Santidade de Deus.

Por Padre Emmanuel Sj

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