Vivemos num contexto social de muitas “éticas” até confrontantes. As desculpas para não se seguirem valores inerentes à natureza e a verdades objetivas são muitas. A título de se ser moderno ou não retrógrado passa-se, não raro, por cima da verdade e do direito em função do modismo ou da satisfação pessoal. Compromissos com valores da dignidade humana, da família, do sexo, do respeito aos indefesos, do meio ambiente e do bem comum ficam para os que são formados e assumem a altivez de caráter como valor acima de outros interesses.
Na ordem afetiva, sentimental e sexual se fica muito à mercê da propaganda e dos desejos impulsionados pela libido e pela sensorialidade. Tais desejos nem sempre são canalizados por valores que orientam a pessoa à consecução da felicidade como conjugação do prazer momentâneo e aquele da realização de um ideal de vida. Fixando-se mais no animalesco do que no sentido da vida plenificado com valores éticos, morais e sociais, a pessoa está sujeita à irracionalidade do uso e da busca do prazer momentâneo como sendo isso absoluto. Nessa direção, a pessoa se torna insaciável e não encontra no prazer momentâneo um sentido mais elevado e realizador da vida.
Na trilha e na busca de sentido para a convivência matrimonial, pode haver ledo engano de realização humana, quando homem e mulher não se unirem em vista de uma real vocação conjugal. O impulso para o casamento, baseado unicamente no sensorial ou no desejo de os dois se gratificarem na complementaridade afetiva e sexual, frequentemente pode ser rompido com algum desequilíbrio de doação de um pelo outro. Havendo, porém, em ambos, a consciência e o pacto de mútua ajuda para conseguirem um ideal de vida por motivo de um sentido de vida maior, dá-se base de fecundidade na vocação matrimonial. Para isso, é preciso orientação e formação para o valor do casamento como verdadeira vocação. Preparação para tanto é fundamental.
Caso contrário, viveremos cada vez mais a panacéia de uniões que não levam à realização das pessoas que se casam, com as consequências muitas vezes danosas para tantos filhos! Não à toa Jesus Cristo fala da união para sempre do casamento entre homem e mulher, para a busca da felicidade, que está num ideal de vida buscado perenemente. A bênção divina está no bojo de tal encaminhamento. Mas é preciso, nessa direção, haver preparação, vontade e responsabilidade de construção da vida a dois para valer.
Nada, assim, vai tirar o casal do sério de uma vida de amor e doação autênticos. Meios coadjuvantes para isso encontramos na ordem natural e sobrenatural: diálogo, compreensão, boa vontade, colaboração, valorização do outro, perdão, oração, meditação na Palavra de Deus, sacramentos, aceitação das observações do outro, aconselhamento…
Muitos são os obstáculos para que o amor matrimonial corra nessa perspectiva. A influência do paganismo, da mediocridade, a falta de formação e influência de grandes meios de comunicação materialistas dificultam a juventude a se pautar na vida por valores acima apresentados. Aliás, na sociedade vemos duas vocações de fundamental importância: a família e a política. Justamente para as duas há muita falta de preparo! As consequências são óbvias!
A Palavra de Deus nos auxilia para valorizarmos a vocação matrimonial: “Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por Ela… Assim é que o marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo… Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne” (Ef 5, 25.28.31).
Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros – MG