A providência de Deus na vida da Rainha Ester

O Livro de Ester é um dos mais belos relatos da Bíblia, onde o cenário nos coloca fora da Palestina, mais precisamente em Susã (situada a 320 quilômetros a leste de Babilônia, Susã era capital da antiga Elão, Susiana), capital dos Aquemênidas, local onde reina Assuero, nome hebraico de Xerxes rei dos medos e dos persas (486-465 a.C.). Não se sabe ao certo quem escreveu o Livro de Ester, algumas provas intrínsecas possibilitam fazer algumas inferências a respeito do autor e a data da composição. Diante dos escritos, fica claro que o autor era judeu, tanto pelo realce que confere à origem de uma festa judaica, quanto pelo nacionalismo judaico que permeia a história.

O conhecimento que o autor tem dos costumes persas, os antecedentes históricos da cidade de Susã, a ausência de referência à terra de Judá, ou a Jerusalém, fazem crer que ele residia na cidade persa. A data mais recuada possível para o livro seria 460 a.C.. O interessante é que o autor do Livro de Ester faz hábil uso de tensões narrativas criadas pelas inversões ou pelos fortes contrastes de destino e de expectativa, gerando a constante presença das peripécias. 

Grelot (1975) relata que certamente o Livro de Ester é romanceado, apesar de seu contexto histórico. Suas finalidades seriam mostrar a libertação providencial de Israel e justificar a adoção pelos judeus da festa de Purim (ou das Sortes), fixada aos 14 de Adar.

Diante de algumas leituras e pesquisas, podemos afirmar que, a Divina Providência, ou simplesmente Providência, é um termo teológico que se refere ao poder supremo,  ou intervenção de Deus sobre eventos na vida de pessoas por toda a história, ou seja, é a influência de Deus na vida do seu povo, onde Ele mesmo, decide o que irá acontecer no futuro, sendo assim, nada acontece sem que Deus permita. 

Ao falarmos a respeito da Divina Providência, é importante conhecermos a distinção que São Tomás de Aquino faz a respeito: 

“Duas coisas cabem à providência: a razão da ordem dos seres a quem ela provê, a um fim; e a execução dessa ordem, a que se chama governo. — Quanto à primeira, Deus, que tem no seu intelecto a razão de todos os seres, mesmo dos mínimos, a todos provê imediatamente. E pré-estabelecendo certas causas a certos efeitos, deu-lhes a virtude de os produzir. Logo, é necessário nele preexista a razão da ordem desses efeitos. — Quanto à segunda, a providência, que governa os inferiores pelos superiores, emprega certos seres médios; não por defeito do seu poder, mas pela abundância da sua bondade, que comunica a dignidade de causa, mesmo às criaturas.” (Suma Teológica, I, q. 22, a. 3)

O Catecismo da igreja católica no parágrafo 314, diz:

Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus «face a face» (1 Cor 13, 12), é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse Sábado (158) definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra. (Catecismo da Igreja Católica, 314)

Ainda no catecismo a respeito da divina Providência, no parágrafo 321, relata que a mesma, consiste nas disposições pelas quais Deus conduz, com sabedoria e amor, todas as criaturas, para o seu último fim.

Em minha adolescência ganhei um livro de Romilda Mendes Cerqueira, membro consagrada da Comunidade Canção Nova. Peguei o livro e no mesmo dia comecei a realizar a leitura deste livro, cujo título é; “Considerai como crescem os Lírios! A Providência Divina de Padre Jonas Abib”.

Este livro me ensinou a confrontar o sistema mundano e o sistema de Deus, que forma o ser humano para buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça na certeza, que tudo o mais será acrescentado na vida daqueles que colocam Deus em primeiro lugar, pois Deus cuida do seu povo, foi assim no antigo testamento e continua a ser assim no tempo presente.

A única coisa que precisamos fazer para saborearmos esta Divina providência é confiarmos em Deus e não nas riquezas e ideologias deste mundo, pois tudo passará e apenas o essencial que muitas vezes é invisível aos olhos humanos, permanecerá. Com isto não estou dizendo que você não precisará trabalhar e ter o teu sustento, mas estou dizendo que não seja o teu sustento, o teu trabalho a ocuparem o lugar do SENHOR em tua vida. 

A palavra chave do livro de Ester é a Providência, pois os capítulos deste livro, têm muito a nos ensinar, a respeito da confiança e fidelidade a Deus, que cuida e intervém em favor de seu povo.  Ester uma simples jovem judia, se tornou rainha, pela providência divina, para salvar o seu povo, do decreto real. Este livro nos mostra que nada é coincidência, mas sim providência. A história de Ester é um misto de tragédia, romance, ação, drama e fé, talvez seja por isso, que esta obra é tão apreciada por diversas gerações e culturas, o mais interessante é que segundo a tradição judaíca, segundo os detalhes e comprovações históricas, esta obra, certamente tem um fundamento histórico e real, que marcou e ainda marca, o povo judeu. 

A providência de Deus se entrelaça no livro de Ester da seguinte forma; o rei Assuero ou Xerxes, planejou uma invasão a Grécia. Para comemorar o seu projeto de invasão a Grécia, o rei dá uma festa de sete dias, de magnitude ímpar, para celebrar seus planos e sua magnitude. No último dia da festa, onde os convidados e o próprio já encontrara embriagado, ele decide chamar sua esposa, cujo nome era Vasti, para mostrar a todos a sua formosura, sendo a mesma considerada o bem mais precioso do reino.

Ela, porém se recusa a ir, e por influência dos ministros reais, a ira de Assuero se ascende, e ele decide depor sua esposa do status de rainha. Diante desta realidade, assim que a rainha Vasti foi destituída, pois os ministros e a sociedade daquela época, daquela cultura local, acreditavam que a atitude dela era imperdoável, e seguindo o seu exemplo, as outras mulheres  daquele reinado, desobedeceriam os seus maridos e seria uma vergonha para aquela sociedade, porque segundo a esta cultura, cada homem deve ser o senhor na sua casa.

Foram então postos os mandatos reais, em todas as províncias, convocando as moças do reino para que o rei escolhesse a substituta de Vasti. Sucedeu, pois, que, divulgando-se o mandado do rei e a sua lei, os guardas reais, ajuntaram muitas moças na fortaleza de Susã, ou seja o harém real, debaixo da mão de Hegai, guarda das mulheres.  Ester, foi raptada e levada, juntamente com várias moças “jovens virgens”, ao Palácio real, especificamente para o harém real, com o objetivo de dedicar sua vida inteiramente a servir, divertir e agradar ao rei. Essas jovens, só podiam ir até a presença do rei quando fossem chamadas por nome, e se ele não se agradasse com elas, ele poderia esquecê-las e faze-lhes suas prisioneiras dentro do harém.

É importante ressaltar  que antes das moças serem apresentadas ao rei, para terem sua primeira noite com o rei, elas recebiam durante um ano um tratamento de purificação (beleza), nos primeiros seis meses, elas recebiam um tratamento de mirra, que é uma planta medicinal cujo azeite era usado, na antiguidade, para ungir os cadáveres antes do sepultamento, sendo assim, a mirra tipifica a morte. Nos outros seis meses, elas eram tratadas com especiarias, perfumes e unguentos. Entre as especiarias mais conhecidas, estavam o aloés e a cássia. O aloés possui um sumo amargo e laxante. Já a cássia é uma flor bela e aromática, cujo fruto se dá em vagem. Ambos possuem propriedades medicinais. Aloés e Cássia representam a ressurreição. Esta purificação que Ester recebeu, representa a igreja, a noiva que passa pela morte, para assim poder ressuscitar para a eternidade.

Em um primeiro momento, quase não conseguimos enxergar a providência de Deus, pois Ester fora raptada e levada ao harém do rei, juntamente com outras lindas jovens, até então nada garantia que Ester seria a escolhida para ser a rainha no lugar de Vasti. E se não ela fosse a escolhida para ser rainha, lhe caberia apenas, o papel de concubina real, ou seja, ela seria uma das amantes do rei, lhe servindo apenas como uma escrava sexual, para os momentos em que o rei desejasse desfrutar da sua presença.

Como Deus é o grande mestre em inverter nas situações, ou melhor, transformar uma tragédia, em uma benção. O livro de Ester alimenta a nossa fé, pois Deus tira Vasti da sua posição de rainha e dá a Ester este lugar, com um para que, bem maior que se pode imaginar; a salvação do povo judeu.

Deus fez Assuero amar Ester, mais do que a qualquer outra que ele tinha amado, mesmo sem saber sua origem, ele a amou e lhe impôs o diadema real sobre a cabeça e a escolheu para rainha no lugar de Vasti. Depois desse acontecimento, o rei deu um grande banquete, o banquete de Ester, a todos os altos oficiais e aos seus servos, dando também um dia de descanso a toda província, distribuindo presentes  com uma liberalidade real.

Ester como rainha ocupava um lugar de honra e destaque, e tinha mais liberdade e autoridade do que qualquer outra mulher no harém. Mas, mesmo assim, ela tinha poucos direitos, estes eram restritos, ainda mais por causa da rebeldia da deposta rainha Vasti. A grande palavra nesse livro é providência, pois fica claro que Deus colocou Ester em uma posição, em que essa fosse um canal de ajuda ao Seu povo, pois Deus nunca desamparou e nem desamparará o Seu povo, Ele é fiel.  Assim, podemos perceber que Deus não precisa bradar para mostrar o seu agir. Ele apenas age no ordinário de nossas vidas, e como está escrito na Bíblia Sagrada, no livro de Isaías, eu também me questiono ao olhar a história e o percurso vivenciado pelo povo de Deus: agindo Deus quem impedirá? (Isaías 43.13). 

Deus  age nos nossos dias, da mesma forma que Ele agia no Antigo Testamento. Ele é o Deus da providência, que converte o mal em bem, que tem seus propósitos insondáveis, que nos recompensa de acordo com os nossos atos e de acordo com o tempo Dele, Ele é um Deus rico em misericórdia, aqui na Canção Nova em Cachoeira Paulista em especial, tocamos na graça que é ter o Santuário do Pai das Misericódias, o Pai misericordioso  que cuidou do seu povo judeu, é o mesmo que cuida de cada um de nós e de cada uma das particularidades  que vivemos, cabe a nós apenas obedecê-lo, ouvir Seus mandamentos e praticá-los.

Pois o Deus que vê o escondido, sabe a reta intenção do teu coração, Ele te conhece e sabe o que vai te fazer bem, o convite que faço é simples, permita Deus ser Deus em tua vida e tudo mais virá por acréscimo no tempo de Deus e muitas vezes não no teu, mas não se preocupe, na hora certa o Senhor dará uma ordem a tempestade e a mesma ficará em silêncio e aquilo que outrora se encontrava em agitação será apenas calmaria. O Senhor é capaz de levar luz onde outrora era treva, paz onde outrora era guerra e esperança onde outrora era desespero. Por isso, não se deixe desanimar pois a tua vida está nas mãos Daquele que te ama e que é capaz de inverter, transformando aquilo que parecia ser um grande mal, em um grande bem.

 


 

Missionária da Comunidade Canção Nova

Huanna Cruz