TIA RUTH

Uma mulher tímida e dedicada ao trabalho! Desde 1982 “Tia” Ruth,  como é conhecida nas ruas da pequena cidade de Conceição de Macabú, região norte do Estado do Rio de Janeiro, pedala dezenas de quilômetros para vender salgadinhos de porta em porta.  Quibes, bolinhos de Aipim, pasteis de forno e empadas.
Todos caprichosamente preparados por ela e sua irmã, e vendidos em portas de escola, lojas do pequeno comércio e até nas casas de quem não resiste à beleza do prato.  As guloseimas são um sucesso! “Além de gostosos, são bem feitos e limpinhos”, afirma uma freguesa antiga de “Tia” Ruth. A salgadeira utiliza a garupa da bicicleta para armazenar as caixas de isopor, que guardam os quitutes da poeira e os mantém bem quentinhos.
Sempre com um sorriso no rosto, escondido por um boné de aba bem arriada, “Tia” Ruth me chamou a atenção, por já aparentar certa idade, e ainda assim pedalar carregando o peso dos salgados, além dos galões de sucos que completam o lanche da clientela.  Enquanto me servia um salgado (claro que não resisti), ela me contava que é evangélica e que nos últimos dois anos,  não sentia mais vontade de viver.  Não pelo trabalho duro de cada dia, mas pela morte do filho, de 29 anos em um acidente de moto. O jovem vivia prometendo a mãe, que a tiraria dessa vida de esforço e sofrimento.  Ele tinha conseguido um bom emprego, e morreu quinze dias depois.
Já terminava de embalar o salgado para mim, quando percebi que no canto de seus olhos escorriam lágrimas de uma saudade, que não se descreve, de uma dor que, a olhos humanos, nenhuma mãe nasceu para experimentar.  Afinal a ordem natural das coisas é que os filhos vejam seus pais “partirem” primeiro.  Lembrei de outra mãe, que viu seu filho nascer e crescer, na simplicidade de um curral e uma carpintaria, correr no quintal, visitar e rezar nos templos de oração, realizar milagres incontáveis, e depois ser traído por um “amigo”, ser levado ao tribunal, ser chicoteado, humilhado, pregado numa cruz, viver horas de agonia e sangue. E no final de todo o sofrimento, pede a mãe dele que seja a mãe de todos nós. Inclusive daqueles que o maltrataram.
Você pode ter uma “Tia” Ruth em casa! É a resposta que dá, como filho ou filha,  aos apelos do mundo, é que farão a diferença e mudarão o final de histórias assim.
Deus abençoe!


Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.