CAÇADORES DE COLUMBINAS

Um dia desses arrisquei um flagrante a caminho do trabalho, e olha no que deu. Uma pequena ave, de nome científico Columbina e popularmente chamada de “Rolinha”. É uma espécie de pombo de pequeno porte, que pode ser encontrada em várias partes do mundo. Do sul dos Estados Unidos à América Central e em grande parte da América do Sul.  Uma das características dessa pequena beleza é a de que ela raramente é vista sozinha. Está sempre em pequenos bandos e no mínimo em dupla, macho e fêmea. Ao ser vista sozinha, pode ter certeza de que a companheira está no ninho chocando os filhotes que virão aumentar a família. Decidi falar rapidamente das “Rolinhas”, justamente pra entrar numa frase que normalmente se aprende muito rápido, ao se tornar um membro da Comunidade Católica Canção Nova. Temos sempre a necessidade de estarmos juntos para partilharmos nossas vitórias, nossas lutas e nossos desafios. Ainda recordo bem da minha pré-adolescência, onde eu e um amigo decidimos criar “Rolinhas”. Fizemos um pequeno viveiro improvisado e preparamos uma “arapuca” para capturar a pequena ave.  Só para os desavisados, a “arapuca” era um pequeno caixote, escorado com uma forquilha amarrada a um longo barbante. Colocávamos um pouco de alpiste entre a forquilha e o fundo do caixote. Esticávamos o barbante até um pequeno esconderijo e ficávamos de “tocaia” esperando as Columbinas aparecerem. A ponta desse barbante ficava na mão de um e o outro dava o sinal para que a forquilha fosse puxada e o caixote tombasse no terreno e prendesse a “Rolinha”.  Fizemos isso repetidas vezes em uma manhã inteira. E na hora do almoço já estávamos com umas dez em nosso cárcere privado.  Cheio de orgulho pela proeza, já pensávamos em empreender. Algumas pessoas dizem que “Rolinha” com arroz é uma delícia. Mas na real, vendo as Columbinas aprisionadas e apavoradas naquele pequeno recinto, ficamos olhando um para o outro e repensamos o nosso “negócio”. Estávamos tirando a liberdade e condenando a morte uma dezena de aves, que perderiam a chance de dar continuidade a sua espécie. É claro que com 13, 14 anos, não teríamos uma consciência ambiental tão apurada assim. O que mudou o rumo do negócio, foi mesmo a bondade que havia em nossos corações. E a bondade é um dom maravilhoso de Deus. Arreganhamos a portinhola daquela “espelunca” chamada de  viveiro e vibramos com a revoada de Columbinas respirando aliviadas e batendo as asas feito metralhadoras, tamanha pressa de sair daquele lugar.  Foi divertido e inesquecível para mim. E hoje, quase 50 anos depois, tenho a certeza de que naquela época eu já aprendia a recitar a frase: “Ninguém É Bom Sozinho!”  É claro que sozinho eu não teria capturado “rolinha” nenhuma e nem feito um viveiro pra ela. Sozinho também eu não teria essa história pra contar. Precisei de um amigo de infância, tão criativo como eu, para bolarmos um plano, que chegou a dar certo por algumas horas. Mas que no fim se tornou uma grande diversão e uma grande lição de respeito e carinho pelas criaturas de Nosso Senhor. Hoje o que se vê por aí assuta. A falta de respeito com as criaturas é imensa. Matas queimadas, rios poluídos e animais em extinção. Acredito que esse tipo de reações contra o sagrado da vida, tem ligação direta com o avesso da frase, que pode ser descrita como,”Todos são ruins sozinhos”. A solidão momentânea ou duradoura, pode levar a dois caminhos. Um que faz a imaginação maquinar maldades e atrocidades e outro que faz a criatividade vir pra fora e cativar alguém que se tornará um grande amigo. E se você ainda não encontrou um grande amigo pra montar arapucas e pegar algumas “Rolinhas”, acredite,  Ele está por perto e não te deixa sozinho, um minuto sequer.  A partir desse grande amigo, conhecerás a verdade e a verdade te libertará da solidão e da falta de amigos. Estou rezando por você! 

Deus Abençoe!

Wallace Manhães de Andrade
Comunidade Canção Nova
Missionário e Jornalista  
Autor dos Livros: Mãe de Milagres – Nossa Senhora Aparecida
                                 Mãe de Milagres – Experiências de carinho e amor de mãe vivenciadas nos santuários da Mãe Rainha

 

Foto: Wallace Andrade


Jornalista, missionário da Comunidade Canção Nova, escritor, casado com Valeria Martins Andrade e pai de Davi Andrade, natural de Campos dos Goytacazes-RJ.