Correção Fraterna

Intervenção por ocasião do Ângelus

Apresentamos, a seguir, a intervenção que Bento XVI pronunciou hoje, ao rezar a oração mariana do Ângelus junto a milhares de peregrinos reunidos no pátio da residência pontifícia de Castel Gandolfo.
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Queridos irmãos e irmãs:
As leituras bíblicas da Missa deste domingo convergem no tema da caridade fraterna na comunidade dos crentes, que tem sua fonte na comunhão da Trindade. O apóstolo Paulo afirma que toda a Lei de Deus encontra sua plenitude no amor, de maneira que, nas nossas relações com os outros, os dez mandamentos e qualquer outro preceito se resumem em “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (cf. Romanos 13, 8-10). O texto do Evangelho, tirado do capítulo 18 de Mateus, dedicado à vida da comunidade cristã, nos diz que o amor fraterno comporta também um sentido de responsabilidade recíproca, razão pela qual, se meu irmão comete uma culpa contra mim, eu devo ser caridoso e, antes de mais nada, falar com ele pessoalmente, dando-lhe a conhecer que o que ele disse ou fez não é bom. Essa maneira de agir se chama correção fraterna: não é uma reação à ofensa sofrida, mas surge do amor pelo irmão. Santo Agostinho comenta: “Aquele que te ofendeu, ofendendo-te, inferiu a si mesmo uma grande ferida; e tu não te preocupas pela ferida de um irmão teu? (…) Tu deves esquecer a ofensa que recebeste, não a ferida do teu irmão” (Sermões 82, 7).

E se o irmão não me escutar? Jesus, no Evangelho de hoje, indica uns passos: primeiro, é preciso voltar a falar-lhe com outras duas ou três pessoas, para ajudá-lo a perceber o que fez; se, apesar disso, ele rejeitar ainda a observação, é necessário dizê-lo à comunidade; e se ele não escutar nem sequer a comunidade, é preciso fazer-lhe perceber a separação que ele mesmo provocou, separando-se da comunhão da Igreja. Tudo isso indica que há uma corresponsabilidade no caminho da vida cristã: cada um, consciente dos seus próprios limites e defeitos, está chamado a receber a correção fraterna e a ajudar os outros com este serviço particular.

Outro fruto da caridade na comunidade é a oração conjunta. Jesus diz: “Eu vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (Mateus 18,19-20). A oração pessoal certamente é importante, e mais ainda, indispensável, mas o Senhor garante sua presença à comunidade que – ainda que seja muito pequena – está unida e unânime, porque reflete a realidade de Deus Uno e Trino, perfeita comunhão de amor. Orígenes diz que “devemos nos exercitar nesta sinfonia” (Comentário ao Evangelho de Mateus 14, 1), ou seja, nesta concórdia na comunidade cristã. Devemos nos exercitar tanto na correção fraterna, que requer muita humildade e simplicidade de coração, como na oração, para que se eleve a Deus a partir de uma comunidade verdadeiramente unida a Cristo. Peçamos tudo isso por intercessão de Maria Santíssima, Mãe da Igreja, e de São Gregório Magno, papa e doutor, a quem ontem recordamos na liturgia.

Fonte: Zenit