Parte I
Queridos Irmãos e irmãs!
O Papa Francisco publicou, no dia 29 de junho, a sua primeira Carta Encíclica, Lumen fidei (A luz da fé), dirigida aos bispos, aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos, sobre a fé, grande dom trazido por Jesus (n. 1). Uma primeira encíclica é sempre um texto programático do novo Papa, onde ele apresenta os propósitos do seu Pontificado. Mas, esta carta é especial, pois além de ser uma encíclica no contexto do Ano da Fé, proclamado pelo Papa emérito Bento XVI, traz “considerações sobre a fé – em continuidade com tudo o que o magistério da Igreja pronunciou acerca desta virtude teologal – e pretendem juntar-se a tudo aquilo que Bento XVI escreveu nas cartas encíclicas sobre a caridade e a esperança”. O Papa Francisco assume um primeiro esboço da carta feito por Bento XVI, acrescentando ao texto “qualquer nova contribuição” (n. 7).
A Encíclica está dividida em 4 capítulos, com uma introdução e uma conclusão em que o Papa faz uma exortação sobre a Virgem Maria, “feliz porque acreditou” (n.58-59) e uma prece à Mãe da Igreja e Mãe da nossa fé (n. 60). No primeiro capítulo, intitulado “Acreditamos no amor”, o Papa afirma que a fé desvenda-nos o caminho e acompanha os nossos passos na história (n. 8), fazendo uma meditação sobre o caminho dos homens crentes, com os primeiros testemunhos já no Antigo Testamento: Abraão, nosso pai na fé, a experiência de fé do povo de Israel, com o cumprimento da promessa feita a Abraão, com a tentação da incredulidade em que o povo caiu várias vezes, a figura de Moisés, o mediador do povo.
A fé de Abraão conduz a Cristo, pois estava orientada para Ele, de certo modo era visão antecipada do seu mistério (n. 15). A fé cristã está centrada em Cristo, manifestação plena da fiabilidade de Deus, cuja maior prova está no seu amor pelo homem, amor que chega à doação de sua própria vida na cruz, desvendando a total fiabilidade do amor de Deus à luz da ressurreição. No número 18 o Papa apresenta um aspecto decisivo da fé: “Cristo, não é apenas Aquele em quem acreditamos, a maior manifestação do amor de Deus, mas é também Aquele a quem nos unimos para poder acreditar.
A fé não só olha para Jesus, mas olha também a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos: é uma participação no seu modo de ver”. Analisando os vários usos do verbo crer no Evangelho de são João o Papa traz uma síntese do que a teologia da fé apresentava desde Santo Agostinho: nós não só “cremos que” é verdade o que Jesus nos diz, mas também “cremos a Jesus”, isto é, damos crédito a Jesus, quando aceitamos sua palavra, o seu testemunho e “cremos em Jesus”, quando o acolhemos pessoalmente na nossa vida e nos confiamos a Ele, aderindo a Ele no amor e seguindo-o ao longo do caminho. É preciso ter fé em Jesus e ter também a fé de Jesus.
Dom Jaime Vieira Rocha- Arcebispo Metropolitano de Natal- RN