“É muito importante renovar diariamente o nosso propósito, porque o caminho é sempre difícil, sendo necessário ter bem claro o idea
l que nos guia, momento a momento na experiência de comunhão de fé que nestes dias estamos a viver”
1) Ler a história de vocação de São Paulo em At, 26 (depois comparar com At 9 e 22): Qual a intenção a que Paulo faz alusão? No vers
ículo 11 ele diz: “em todas as sinagogas eu procurava obrigá-los a blasfemar por meio de torturas e, no auge do furor, eu perseguia-os até nas cidades estrangeiras”. Trata-se, portanto, de uma intenção de hostilidade, uma intenção negativa que certamente não conduziam a um novo caminho, por isso, mostram a gratuidade do dom de Deus a Paulo, dom que é, antes de tudo, como que uma luz que ilumina as coisas, uma l
uz que permite um olhar totalmente diferente da realidade (Importante isso). Depois, a luz torna-se voz: “Todos nós caímos por terra. Então ouvi uma voz que me dizia em hebraico: ‘Saulo, Saulo porque Me persegues? É difícil recalcitrares contra o aguilhão’. Eu respondi: ‘Quem és Tu, Senhor’”. (At 26,14-15a). A voz censura e, ao mesmo tempo, mostra um desígnio, um projeto a que Paulo vai resistindo, embora na pergunta que faz já haja uma abertura, um desejo de compreender, uma necessidade de orientação, até mesmo uma disp
onibilidade.
E a resposta é ampla, porque engloba todo o conjunto da vocação de Paulo – At 26,15b-18 – A resposta coloca a pessoa de Jesus no centro e, por isso, com a sua pessoa, também a Igreja, o Corpo de Cristo. Depois é largamente exposta a missão a que Paulo é chamado: a) O objetivo da missão: “Eu constituí-te para seres servo e testemunha desta visão, na qual me vistes, e também de outras visões, nas quais Eu te aparecerei”; b) A certeza de que Jesus o ajudará na missão: “Eu vou livrar-te deste povo e dos pagãos…”; c) os destinatários do mandato: os pagãos “aos quais te envio”; d) O Claro fim da missão: “envio-te aos pagãos para que se convertam das trevas para a luz, da autoridade de Satanás para Deus e, deste modo, pela fé em Mim, receberão o perdão e a herança entre os santificados”. Aqui lemos todo o elemento negativo de que as pessoas devem ser libertadas, e todo o elemento positivo, isto é, a remissão dos pecados e a herança dos ilhós de Deus.
2) Comparar o texto do capítulo 22 com o texto do capítulo 26 e colher as características da vocação de Paulo. Eis algumas elencadas para que possamos perceber melhor, o nosso próprio chamado; de fato, as vocações, embora muito diferentes entre si, têm algo de comum: a) A fundamental característica é que a vocação do apóstolo Paulo está centrada em Jesus vivo ressuscitado, mas no coração da Igreja, porque Jesus é a cabeça do Corpo que é a Igreja;
b) Uma característica especial, que não é específica de todas as vocações, é a de estar intimamente ligada à conversão; isto é, precisamente no mesmo momento em há um chamamento, acontece uma inversão total de direção, uma conversão. Entendo por conversão não só a mudança moral de direção da vida, mas também a mudança intelectual de horizonte. Na verdade, Paulo não somente se transforma de perseguidor em apóstolo, mas também agora muda o seu horizonte que passa a ser Jesus ressuscitado e a sua missão universal, e já não a comunidade que tinha que defender a todo custo, a comunidade que o aprisionava tornando-o cruel, inquieto e insatisfeito. Este novo horizonte (Deus nos dá novas missões) permite-lhe um olhar mais longe, à medida da eternidade e da intimidade, possibilitando a compreensão de si mesmo (“quanto mais eu descubro o seu rosto, mais ele revela o meu”), em primeiro lugar (Rm 09); deste modo, pode também ver o caminho anterior numa síntese muito elevada e apaziguadora, e intuir a razão de ser do desígnio de Deus, o porquê do chamamento <!– @page { margin: 2cm } P { margin-bottom: 0.21cm } –>dos pagãos e a relação desse chamamento com as profecias ( caminho da nossa história de salvação). Portanto, são dois grandes momentos de conversão paulina: a inversão da direção, mesmo de tipo moral, e a conversão do tipo intelectual, cognitiva, que nos faz sentir parte de um infinito desígnio positivo do Altíssimo acerca de toda a humanidade, para tirar do mal o bem, para fazer passar do mal ao bem. Paulo experimenta a inserção neste movimento que o entusiasma, que vê que é verdadeiro, que corresponde àquele pelo qual sempre se tinha querido bater com todas as suas forças;
c) Uma terceira característica de sua vocação-conversão é a de sentir-se apoiado pelo poder de Deus (V. 17). Paulo nunca se cansará de o repetir nas suas cartas: não sou eu, mas a graça de Deus que está em mim. Uma vocação fundada na certeza de que a força de Deus nunca diminuirá.
d) Por fim, trata-se de uma vocação benéfica para os outros. Ajudará muitas pessoas cegas ou presas em cadeias tenebrosas a verem e a experimentarem a alegria da liberdade de Cristo: por-se-á ao serviço daqueles que estão sujeitos ao poder de Satanás, para conduzi-los à alegria de Deus, viverá o mandato pastoral e apostólico no desejo imperioso de conduzir todos à plenitude da autenticidade.
(Dos Escritos do Cardeal Carlo Maria Martini)