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4. O prisioneiro, organizador das comunidades:
dos 53 anos até a morte
Ao final de sua terceira viagem, Paulo chega a Jerusalém e participa de uma reunião em casa de Tiago (At 21,17-24). Assim começa o quarto período de sua vida, amargando 4 anos de prisão. É tempo de olhar para trás, fazer revisão.
a) Paulo, o homem da transição.
Durante os treze anos de sua vida itinerante, Paulo viveu e provocou transição: * Do mundo hebraico para o grego; * Do rural para o urbano; * De uma Igreja monocultural judaica à uma Igreja multicultural e multiétnica; * Da liderança única de Jerusalém para as múltiplas lideranças na gentilidade; * Da herança litúrgica, doutrinária e disciplinar judaica para as novas expressões de fé; * Da religião ligada a um povo para uma religião universal.
Quando Paulo foi preso em Jerusalém, esse “Novo Êxodo” estava em andamento. Os conservadores e reacionários ao Êxodo se opunham a ele e quiseram liquidá-lo.
b) O aprendizado de Paulo na prática.
Paulo foi atento e perspicaz no aprender. Aprendeu com a vida. Foi bom missionário porque bom discípulo.
Aprendizado com os judeus. Paulo nunca negou nem desconsiderou a eleição do povo judeu. Aprendeu a vê-la não como privilégio, mas como sinal e missão, na linha do Dêutero-Isaías e de Gn 12,3b. O que Deus realizou em Israel é uma amostra do que será benefício para todos os povos. O Criador de todos é também o Salvador de todos. Para isso é que foram escritos os livros sagrados (Rm 15,4; 1Cor 10,16).
Aprendizado com os gentios. No encontro com as gentes Paulo descobre e aprofunda o mistério (o termo aparece 14 vezes em Paulo, num total de 18 no NT): Ef 1,4; 3,9; 4,6; Cl 1,15-16; 2Cor 3,14-15.
Aprendizado com os adversários. Os adversários fazem Paulo viver a realidade da cruz, como acontecera com Jesus. Daí que seu anúncio enaltece e valoriza tanto a cruz (Rm 5,8; 6,5-6; Fl 2,7-8). Pela “Palavra da Cruz anuncia o Evangelho” e por ela comunica a energia da salvação.
Aprendizado consigo mesmo. Embora tenha tido um momentâneo momento alto, no caminho de Damasco, a conversão de Paulo foi um processo longo, penoso e, ao mesmo tempo, alegre: At 9,1-22; Rm 7,22-23.
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Chaves de leitura para compreender Paulo e suas cartas
1-O perfil de Paulo
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Ao começar sua missão cristã, Paulo tinha uns 40 anos (longa preparação, como o Mestre). Para conhecer uma pessoa o melhor é saber dela própria, o que faz e pensa.
Somos privilegiados pelo acesso às cartas autênticas de Paulo, expressões extraordinárias de uma personalidade excepcional.
Paulo foi uma irrupção imprevisível na Igreja:
Ninguém pensou nele, ninguém o preparou e ninguém se preparou para acolhê-lo;
Quando se tornou cristão, não sabiam o que fazer com ele e mandaram-no de volta a Tarso;
Viveu e trabalhou fora dos quadros estabelecidos;
Não foi escolhido pela hierarquia nem recebeu “ordenação”;
Foi um leigo (como o Mestre), precursor de tantos leigos que depois mudariam os rumos da Igreja (os monges, Bento, Francisco de Assis, Teresa d’Ávila…).
Reivindicou apaixonadamente o título de “Apóstolo” que sempre lhe foi contestado (até por seu grande admirador Lucas que o reserva aos Doze). Depois a Igreja de Roma fez-lhe justiça concedendo-lhe tal título.
Celebrado como Coluna da Igreja de Roma, junto com Pedro, embora na “cidade eterna” fosse recebido e tratado mal. Lucas, em At, procura reabilitar Paulo diante dos preconceitos:
Atenua sua radicalidade de pensamento e personalidade;
Procura mostrar que nunca houve oposição entre Pedro e Paulo. Pelo contrário, Pedro fez antes o que Paulo faria, legitimando sua prática;
Os encontros entre os dois são apresentados como momentos de harmonia e sintonia (Lucas seleciona os fatos…)
Lucas faz a idealização de pessoas já santificadas pelo martírio;
Mesmo que Paulo, em suas cartas, mostre-se fraco, Lucas apresenta-o forte, com poderes milagrosos (como o Mestre).
NB. Em polêmica com os missionários judeu-cristãos, Paulo apresenta sete títulos de “vanglória segundo a carne” (Fl 3,5-6).