Neste mês de setembro entramos na Primavera, estação do ano que marca, na história da Canção Nova, um tempo de graças especiais. No dia quatorze comemoramos o dia da Exaltação da Santa Cruz.
Veio-me à lembrança algumas palavras do Frei Raniero Cantalamessa, pregador do Papa, quando, ao falar da vida de Jesus, faz referência de forma especial às mulheres: “Junto da cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas e Maria de Magdala” (Jo 19,25).
Desta vez, não falemos de Maria, a mãe de Jesus, pois sua presença no Calvário não requer explicações. Era “mãe d’Ele” e isto explica tudo; as mães não abandonam um filho, embora tenha sido condenado à morte. Mas por que estavam ali as outras mulheres? Quem e quantas eram?
Os Evangelhos fazem referência ao nome de algumas delas: Maria de Magdala, Maria mãe de Tiago o menor e de José, Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu, uma certa Joana e uma tal Susana (Lc 8,3). Elas seguiram Jesus desde a Galiléia; ficaram ao seu lado, chorando, durante a viagem ao Calvário (Lc 23,27-28), no Gólgota ficaram a observar “de longe”, à distância mínima permitida e, depois, o acompanharam, tristemente, ao sepulcro com José de Arimateia (Lc 23,55).
Vamos chamá-las de “as piedosas mulheres”, mas elas são muito mais do que “piedosas mulheres”, são “Mães-Coragem!” Desafiaram o perigo que existia em mostrar-se tão abertamente em favor de um condenado à morte. Estas mulheres são as únicas que não se escandalizaram por Ele na cruz.
Devemos nos perguntar o porquê deste fato: por que as mulheres resistiram ao escândalo da cruz?Por que permaneceram próximas quando tudo parecia acabado e também os seus discípulos mais íntimos o tinham abandonado e já estavam organizando o regresso à casa? Jesus deu antecipadamente esta resposta, quando, ao responder a Simão, disse sobre a pecadora que lhe tinha lavado e beijado os pés: “Muito amou!” (Lc 7,47).
As mulheres seguiram Jesus por Ele mesmo, por gratidão ao bem que d’Ele receberam. Seguiam-no, está escrito “para o servir” (Lc 8,3; Mt 27,55); eram as únicas, depois de Maria, a Mãe, a ter assimilado o espírito do Evangelho. Tinham seguido as razões do coração e estas não as tinham enganado.
Neste ponto, a sua presença ao lado do Crucificado e do Ressuscitado possui um ensinamento vital para nós hoje. A nossa civilização, dominada pela técnica, precisa de um coração para que o homem possa sobreviver nela, sem se desumanizar inteiramente. Devemos dar mais espaço às “razões do coração”, se quisermos evitar que, enquanto se superaquece fisicamente, o nosso planeta recaia espiritualmente numa era glacial. A grande crise de fé no mundo de hoje deve-se ao fato de que não se ouvem as razões do coração, mas somente aquelas contorcidas da mente.
Não é difícil entender porque somos tão ansiosos para aumentar os nossos conhecimentos e tão pouco para aumentar a nossa capacidade de amar: o conhecimento traduz-se automaticamente em poder, o amor em serviço.
Uma das modernas idolatrias é a do “QI”, “coeficiente de inteligência”. Foram aperfeiçoados numerosos métodos para a sua medição. Mas quem se preocupa em medir também o “coeficiente de coração”? Hoje, é preciso finalmente abrir-se para a humanidade, uma era da mulher: uma era do coração, da compaixão.
A experiência quotidiana demonstra que a mulher pode “elevar-nos”, mas pode também fazer-nos precipitar. Ela precisa ser salva por Cristo, mas certamente, uma vez redimida por Ele e “libertada”, no plano humano, de antigas submissões, ela contribui para salvar a nossa sociedade de males arraigados que a ameaçam: violência, vontade de poder, aridez espiritual, desprezo da vida… Como devemos ser gratos às “mulheres piedosas”! Ao longo da viagem ao Calvário, o seu soluçar foi o único som amigo que alcançou os ouvidos do Salvador; enquanto ele estava na cruz, os seus “olhares” foram os únicos a pousar sobre Ele com amor e compaixão. À primeira “piedosa mulher” e modelo incomparável, à mãe de Jesus, repitamos uma antiga oração da Igreja: “Santa Maria, socorrei os pobres, sustentai os débeis, confortai os fracos: rogai pelo povo, intercedei pelo clero e por todas as mulheres”.
Juntamente com todas as mulheres de boa vontade, vós sois a esperança de um mundo mais humano.
Luzia Santiago