Orfa e Rute: dois caminhos diferentes na carreira cristã

Orfa e Rute - YouTube

Tive a graça de estudar Letras, em especial Literatura que é uma disciplina que particularmente eu amo, ao estudar a Literatura Inglesa me deparei com um clássico poema do Robert Frost, The Road Not Taken. É um poema que está presente no filme Sociedade dos Poetas Mortos. Eu particularmente sempre procurei tê-lo em mente em minhas decisões importantes. O poema fala o seguinte:

The Road Not Taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry i could not travel both
And be one traveler, long i stood
And looked down one as far as i could

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and i and i-
I took the one less traveled by,
And that has made, has made all the difference.

Oh, i, i kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if i should ever come back.
Yet knowing how way leads on to way
Shall i come back?

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and i, and i-
I took the one less traveled by,
And that has made,has made all the difference.

 

O caminho que não tomei

Dois caminhos se divergem em um bosque de outono
Me desculpe, mas não poderia seguir pelos dois
Sendo um só viajante, então me detive
E olhei abaixo até onde minha visão se perdia

Estarei contando isto com um suspiro
Em algum lugar tempos e tempos mais tarde:
Dois caminhos se divergiam em um bosque, e eu e eu-
Eu tomei aquele menos trilhado,
E foi isto o que fez – o que fez toda a diferença.

Ah, eu deixei o outro caminho para outro dia!
Porém sabendo que um caminho conduzia ao outro,
Me perguntei se eu deveria mesmo voltar
Porém sabendo que um caminho conduzia ao outro
Eu iria voltar?

Estarei contando isto com um suspiro
Em algum lugar tempos e tempos mais tarde:
Dois caminhos se divergiam em um bosque, e eu e eu-
Eu tomei aquele menos trilhado,
E foi isto o que fez – o que fez toda a diferença.

 

Entre duas possibilidades, que caminho tomar? Um dos poemas mais conhecidos da literatura norte-americana foi escrito por Robert Frost (1874-1963). É o famoso “The road not taken”, e foi traduzido pelo poeta português Antônio Simões com o título “O caminho que não tomei”. Entre duas possibilidades, que caminho tomar? Pode ser entre dois amores, dois empregos, duas ruas, dois países… Pode ser uma encruzilhada qualquer. O fato é que a escolha é às vezes algo complicado.

Tão complicado que uns psicólogos norte-americanos criaram a “teoria da dissonância cognitiva” baseada nesse drama. Como escolhemos as coisas, seja uma geladeira, uma proposta, uma roupa, e que racionalizações fazemos para justificar a direção tomada, tudo isso pode ser refletido a partir deste poema.

O poema do Robert Frost é simples, mas muito profundo. Robert Frost foi um poeta que escrevia simples, e de tão popular que era foi chamado para ler um poema na posse do presidente Kennedy, em 1961. Diz o poeta que duas estradas divergentes surgiram-lhe num bosque amarelado, e infelizmente ele não podia viajar ao mesmo tempo pelas duas.

Eram duas estradas e ele era uma pessoa só. Ele estendeu os olhos sobre a primeira delas tão longe quanto podia até que ela se perdesse na folhagem. No entanto, mesmo diante dessa sedução, ele tomou a outra via, que tinha uma agreste vegetação, dificultando-lhe o caminho.

Fazer tal escolha foi, ao mesmo tempo, obter e perder alguma coisa. Na última estrofe, ele resume a perplexidade da situação: “Suspirando, estarei contando a ti, Daqui a mil anos, o que aconteceu: Dois caminhos bifurcam, e eu – O menos pisado tomei como meu E a diferença está toda aí”. I shall be telling this with a sigh Somewhere ages and ages hence: Two roads diverged in a wood, and I – I took the one less traveled by, And that has made all the difference. Ou seja, em minha vida eu tomei a estrada mais difícil, menos usada, e isto fez toda a diferença.

Depois dessa introdução, vamos, agora, voltar e dar uma rápida olhada na viúva Orfa, a segunda viúva nesse contexto de dor e sofrimento. Quando Noemi, no início, mandou suas noras voltarem para suas mães, note no versículo 10 que tanto Rute como Orfa se recusaram a voltar. Ambas disseram: …Não! Iremos contigo ao teu povo. Contudo, depois Noemi explica para elas a realidade daquilo que elas perderão, caso a seguissem para Belém, Orfa entende bem a mensagem e começou a refletir o preço da sua escolha caso escolhesse seguir Noemi.

Orfa possivelmente começou a refletiu algumas realidades acerca de suas escolhas:
• Como uma viúva moabita, sua vida será difícil;
• A perspectiva de um marido será mínima;
• Ela será rejeitada pela comunidade judaica —moabitas e judeus não se davam muito bem; na verdade, eles se odiavam;
• Ela deixará sua nação com todos os seus costumes e condições confortáveis em troca de uma nova nação;
• Ela estará abandonando seus direitos como uma cidadã;
• Ela não recebe perspectivas ou promessas.

Diante desse contexto, Orfa ergue sua voz e chora, beija sua sogra e diz adeus. Rute e Orfa revelam dois tipos de caminhos diante da caminhada de fé: os que professam fé e os que possuem fé de fato. Orfa fez uma profissão de fé, mas Rute possuía fé. Então, nessa encruzilhada da vida, Orfa toma uma decisão que determinará seu destino eterno.

Ela se parece com muitos que conheço que dizem que Cristo se intrometerá em suas vidas mais do que elas desejam; que acreditam que Deus atrapalhará suas relações sociais e sua reputação; que pensam que terão que deixar um ou dois ídolos; que pensam que seguir a Cristo pode significar ter que carregar uma cruz. Orfa calcula os custos e decide retornar à escuridão, aos deuses, a vida antiga, a mulher velha. Ela ficou triste com isso e até derrama lágrimas verdadeiras; mas, nessa encruzilhada da vida, ela escolhe voltar ao paganismo; voltar a Moabe; voltar aos seus deuses e, dessa vez, talvez, voltar a um bom homem moabita. Daí, Orfa desaparece do horizonte e a Bíblia nunca mais faz menção a ela, pois ela fez a sua escolha livremente de retornar a um caminho já trilhado com resultados previstos. Noemi, então, diz no versículo 15: “Bom, Rute, e você, está esperando o que? Veja aí…” …Eis que tua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses; também tu, volta após a tua cunhada. “Vá também…”. O que ocorre em seguida é nada menos que uma das maiores confissões de fé que encontramos nas Escrituras. Rute escolheu ficar, trilhar o caminho da fé, o caminho mais improvável e que ela não tinha trilhado e tão pouco fácil, porém sabendo que sua escolha comportaria estradas difíceis, Rute escolheu caminhar pela fé. Orfa e Rute representam dois caminhos na carreira cristã.

Orfa escolheu voltar para o seu povo e para seus deuses. Rute, porém, escolheu acompanhar sua sogra que, aqui, representa o povo de Deus. Ela foi atraída à Cristo pelas palavras e pelo cuidado de Noemi. A você mulher eu tenho uma pergunta a fazer: Quais têm sido as suas escolhas no seu caminhar pela fé?

Quero ressaltar que Orfa toma a decisão de permanecer em Moab, para o que era mais seguro e certo, aos olhos do homem. Mesmo que para ela seria sofrimento a perda do cuidado carinhoso de sua sogra e de sua cunhada. Ela decidiu voltar para a sua família e para os seus deuses, preferiu permanecer nas terras de Moab. Podemos projetar a imagem de Orfa que viu a sogra Noemi e a cunhada Rute se afastando pelo caminho arenoso.

Elas estavam numa estrada deserta, perto da fronteira de Israel, não muito longe do Rio Jordão. A partir da decisão de permanecer em Moab, Orfa torna-se uma figura solitária. Olhando no horizonte, viu Noemi e Rute que se afastavam em direção a terra de Israel. Aos poucos foram desaparecendo e sumiram na linha do horizonte. Noemi e Rute se separaram para sempre de Orfa. Em sua decisão Orfa escolheu os deuses de sua nação.

O deus quemos com cabeça de touro, que exigia sacrifício de animais e pessoas. Ela preferiu este deus ao Deus de Israel. Assim o livro narra como Orfa não acompanhou para Belém Rute e Noemi: “ Elas choraram novamente em alta voz: depois Orfa abraçou sua sogra e voltou para junto de seu povo, mas Rute ficou em sua companhia.” Orfa voltou ao seu povo e aos seus deuses”. Com estas palavras de Noemi, Orfa caiu no esquecimento. O seu nome desapareceu dos escritos bíblicos. O que a literatura judaica fala de Orfa.

A literatura judaica comentando o episódio do livro de Rute falando de Orfa, diz que ela casou e teve uma filha que mais tarde foi a mãe do Gigante Golias. Assim, Orfa foi avó de Golias, morto por Davi, conforme narrativa bíblica. Davi por sua vez foi bisneto de Rute. Confirmando: Rute casou com Boaz, que gerou Obede, que gerou Jessé, que gerou o Rei Davi.

Verificamos nestes escritos judaicos que a escolha de cada uma comportou em resultados diferentes. Por isso, precisamos ter sempre em mente que saboreamos os frutos e consequências das nossas escolhas. A você mulher desejo que você faça escolhas acertadas em sua vida iluminada pelo Espírito Santo.

Com a escolha de Rute, aprendemos que, em tempos de crise, não devemos fugir mas buscar socorro no Deus grande e tremendo que é refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia (Salmo 46). E esse Deus, que é o teu e o meu socorro está te dizendo: Filho meu, filha minha, eu estou contigo !


 

Missionária da Comunidade Canção Nova

Huanna Cruz