A ARTE DE MANTER ACESA A LUZ DA VIDA

O SER MÉDICO

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Enquanto o espírito por si só é invisível, as ações humanas são visíveis e cada ação é motivada e permeada pelo espírito.

Ao se referir ao cuidado com o paciente estamos delegando ao médico apenas o cuidado do corpo? E ao se referir ao sacerdote estamos lhe imputando apenas o cuidado com a alma? E se os médicos fossem ousados no sentido de deixar-se fluir o dom que o próprio Deus o infundiu quando o chamou na sua palavra ( Eclo 38 ).
Sem a exata demarcação entre o campo humano e o espiritual o ser humano acabou sendo compartimentalizado entre o físico e psíquico na mão dos médicos e no espiritual para a igreja, sinagogas ou mesquitas.
Ciência e fé, religião e medicina, não tinham ressonância.
O Papa João Paulo II na Constituição Conciliar Gaudium et Spes – Certas atitudes decorreram de uma visão estreita de ramos da Igreja em não reconhecer o direito autônomo da ciência: Eles têm ocasionado conflitos e controvérsias e têm levado muitos a pensar que fé e ciência são opostas.” Eu espero, disse o Santo Padre, que teólogos, decanos e historiadores, animados por um espírito de sincera colaboração… dirimirão a confusão que ainda se opõe, em muitas mentes, um acordo frutífero entre ciência e fé, ou melhor, entre a Igreja e o mundo!”.
Quando a Igreja se abre a uma nova colaboração com a ciência, a ciência por sua vez se abre cada vez à importância do cuidado espiritual como parte integrante e fundamental na realização de um pleno exercício médico humanizado.
Em Janeiro de 2004 a Universidade de Aberdeen ( Inglaterra) realizou um congresso sobre: Papel da Espiritualidade nas Práticas de Saúde.
A mesma Universidade patrocinou um estudo sério científico através de seu mentor, Professor Sharma, concluindo ser o cuidado espiritual do paciente uma ferramenta fundamental no cuidado médico, após ter-se submetido ao crivo equivalente a qualquer outro procedimento médico cientifico.
Na Escócia, outro país do Reino Unido, a próprio Conselho Nacional de Saúde publicou um documento de orientação sobre a política de acompanhamento espiritual para pacientes internados, baseado na definição estabelecida pela 52nd Assembléia Mundial de Saúde em 1999. Saúde é um estado dinâmico de bem estar físico, mental, espiritual e social e não meramente uma ausência de doença ou enfermidade.
Cabe aqui a distinção entre Cuidado Espiritual e Cuidado Religioso. Cuidado espiritual é normalmente uma relação individual e não leva em conta convicções pessoais ou orientação de vida. Já o Cuidado Religioso é dado no contexto das diversas religiões. O Cuidado espiritual não é necessariamente religioso. Já o religioso é sempre espiritual.
O cuidado espiritual não só é reconhecido, mas também é mandatório a sua aplicação.
Em sua vida, Victor Frankel, experimentando o campo de concentração e vendo todos os seus sendo executados e ele não, concluiu que o que nos manterá sempre vivos é a nossa esperança. E a esperança é uma dimensão teológica, ou seja, espiritual.
John Swinton em seu livro Espiritualidade e Cuidado de Saúde Mental: Redescobrindo uma dimensão esquecida, escreve: “O espírito humano é uma força vital essencial que reveste, motiva e vitaliza a existência humana. Espiritualidade é o caminho específico nos quais indivíduos e comunidades respondem a experiência do espírito. Cumpre-se ressaltar que espírito não é algo impessoal. Como  Adrian van Kaan disse:”O espírito humano é uma força dinâmica (dínamus) que mantem uma pessoa crescendo e mudando, continuamente envolvido em um processo superficialização, tornando-se transcendente.
C.W.Ellison que escreve: É o espírito dos seres humanos que capacita e motiva-os a procurar por significados e sentidos na vida, de buscar o sobrenatural ou algum significado que os transcende, sobre suas origens e  identidade.
A dimensão espiritual não existe isolada do psyche ou do soma, isto da mente e do corpo, mas promove uma força integradora. É afetado e afeta pelo nosso estado físico, sentimentos, pensamentos e relacionamentos. Se nós estivéssemos espiritualmente saudáveis nos sentiríamos cheios de vida, preenchidos de vida. Mas para isto seria necessário estarmos psicologicamente saudáveis também. Esta relação ela é bidimensional, pois ambas estão intimamente relacionadas no mesmo ser humano. Não há como separá-las.
 O mesmo autor afirma que o espírito não é somente uma parte entre outras da pessoa, mas ele é responsável pela integração desta pessoa por completo, corpo, mente e emoções.
 Como diz Ashbrook: Nós somos totalmente presentes em cada célula do nosso corpo. Você não pode ter uma alma sem um corpo. A pessoa é um organismo vivo e é o espírito que da vida ao organismo.
 Nosso entendimento sobre espiritualidade está diretamente relacionado com nosso conceito de espírito humano. Espiritualidade é o espírito humano expressando por si mesmo na vida através da ação e resposta a cada situação. O espírito pode ser visto como a essência do nosso ser, nossa natureza mais íntima, ou o espírito da vida, nossa alma, nos dada por Deus nosso Criador. Enquanto o espírito por si só é invisível, as ações humanas são visíveis e cada ação é motivada e permeada pelo espírito.