Médicos para Curar

O SER MÉDICO

drnasseremonsegnior1.jpgEnquanto o espírito por si só é invisível, as ações humanas são visíveis e cada ação é motivada e permeada pelo espírito. Como chamar a atenção dos médicos para os cuidados espirituais se a maioria desconhece o que vem a ser Espiritualidade, também chamada de transcendência? Sim antes de dar seqüência a todo este projeto de formação e aprofundamento este conceito precisa ser lapidado em cada profissional da área de saúde, que alcançar estas  palavras. Pois se aquilo que Jesus fez e continua fazendo hoje no meio dos doentes e sofredores pode ser perfeitamente entendido e experenciado, que a Ciência e a Fé se complementam em todos os campos mas especialmente neste, o da Cura Verdadeira, nós precisamos ter coragem e ousadia para entrar em todos os hospitais, clínicas e consultórios do mundo e anunciar: “O Reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede na Boa Nova”. Com está no livro da Sabedoria 16-12: “Não foi a erva nem o unguento que te curou, mas a Palavra de Deus que cura todas as coisas”!Ao se referir ao cuidado com o paciente estamos delegando ao médico apenas o cuidado do corpo? E ao se referir ao sacerdote estamos lhe imputando apenas o cuidado com a alma? E se os médicos fossem ousados no sentido de deixar-se fluir o dom que o próprio Deus o infundiu quando o chamou na sua palavra ( Eclo 38 ).
Sem a exata demarcação entre o campo humano e o espiritual o ser humano acabou sendo compartimentalizado entre o físico e psíquico na mão dos médicos e no espiritual para a igreja, sinagogas ou mesquitas.
Ciência e fé, religião e medicina, não tinham ressonância.
O Papa João Paulo II na Constituição Conciliar Gaudium et Spes – Certas atitudes decorreram de uma visão estreita de ramos da Igreja em não reconhecer o direito autônomo da ciência: Eles têm ocasionado conflitos e controvérsias e têm levado muitos a pensar que fé e ciência são opostas.” Eu espero, disse o Santo Padre, que teólogos, decanos e historiadores, animados por um espírito de sincera colaboração… dirimirão a confusão que ainda se opõe, em muitas mentes, um acordo frutífero entre ciência e fé, ou melhor, entre a Igreja e o mundo!”.
Quando a Igreja se abre a uma nova colaboração com a ciência, a ciência por sua vez se abre cada vez à importância do cuidado espiritual como parte integrante e fundamental na realização de um pleno exercício médico humanizado.
Em Janeiro de 2004 a Universidade de Aberdeen ( Inglaterra) realizou um congresso sobre: Papel da Espiritualidade nas Práticas de Saúde.
A mesma Universidade patrocinou um estudo sério científico através de seu mentor, Professor Sharma, concluindo ser o cuidado espiritual do paciente uma ferramenta fundamental no cuidado médico, após ter-se submetido ao crivo equivalente a qualquer outro procedimento médico cientifico.
Na Escócia, outro país do Reino Unido, a próprio Conselho Nacional de Saúde publicou um documento de orientação sobre a política de acompanhamento espiritual para pacientes internados, baseado na definição estabelecida pela 52nd Assembléia Mundial de Saúde em 1999. Saúde é um estado dinâmico de bem estar físico, mental, espiritual e social e não meramente uma ausência de doença ou enfermidade.
Cabe aqui a distinção entre Cuidado Espiritual e Cuidado Religioso. Cuidado espiritual é normalmente uma relação individual e não leva em conta convicções pessoais ou orientação de vida. Já o Cuidado Religioso é dado no contexto das diversas religiões. O Cuidado espiritual não é necessariamente religioso. Já o religioso é sempre espiritual.
O cuidado espiritual não só é reconhecido, mas também é mandatório a sua aplicação.
Em sua vida, Victor Frankel, experimentando o campo de concentração e vendo todos os seus sendo executados e ele não, concluiu que o que nos manterá sempre vivos é a nossa esperança. E a esperança é uma dimensão teológica, ou seja, espiritual.
John Swinton em seu livro Espiritualidade e Cuidado de Saúde Mental: Redescobrindo uma dimensão esquecida, escreve: “O espírito humano é uma força vital essencial que reveste, motiva e vitaliza a existência humana. Espiritualidade é o caminho específico nos quais indivíduos e comunidades respondem a experiência do espírito. Cumpre-se ressaltar que espírito não é algo impessoal. Como  Adrian van Kaan disse:”O espírito humano é uma força dinâmica (dínamus) que mantem uma pessoa crescendo e mudando, continuamente envolvido em um processo superficialização, tornando-se transcendente.
C.W.Ellison que escreve: É o espírito dos seres humanos que capacita e motiva-os a procurar por significados e sentidos na vida, de buscar o sobrenatural ou algum significado que os transcende, sobre suas origens e  identidade.
A dimensão espiritual não existe isolada do psyche ou do soma, isto da mente e do corpo, mas promove uma força integradora. É afetado e afeta pelo nosso estado físico, sentimentos, pensamentos e relacionamentos. Se nós estivéssemos espiritualmente saudáveis nos sentiríamos cheios de vida, preenchidos de vida. Mas para isto seria necessário estarmos psicologicamente saudáveis também. Esta relação ela é bidimensional, pois ambas estão intimamente relacionadas no mesmo ser humano. Não há como separá-las.
 O mesmo autor afirma que o espírito não é somente uma parte entre outras da pessoa, mas ele é responsável pela integração desta pessoa por completo, corpo, mente e emoções.
 Como diz Ashbrook: Nós somos totalmente presentes em cada célula do nosso corpo. Você não pode ter uma alma sem um corpo. A pessoa é um organismo vivo e é o espírito que da vida ao organismo.
 Nosso entendimento sobre espiritualidade está diretamente relacionado com nosso conceito de espírito humano. Espiritualidade é o espírito humano expressando por si mesmo na vida através da ação e resposta a cada situação. O espírito pode ser visto como a essência do nosso ser, nossa natureza mais íntima, ou o espírito da vida, nossa alma, nos dada por Deus nosso Criador. Enquanto o espírito por si só é invisível, as ações humanas são visíveis e cada ação é motivada e permeada pelo espírito.
 Capacidade do Espírito de TranscendênciaEsta é uma das características mais importantes do espírito. Transcender, muito usado em Psicologia para determinar algo que se eleva e está acima de todas as coisas. Este é um dos aspectos divinos, ou seja Deus transcende a tudo, Ele está fora e acima de todas as coisas entendidas, além do mistério. Assim chamados aqueles que pela Fé atingem de certa forma o sobrenatural, além da barreira do mistério, o dito além, mas de uma forma Santa e orante. Assim São Pio, São Francisco, Santa Teresa D’Ávila, Santo Inácio e tantos outros venceram as barreiras  do natural. Sem este dom da transcedência o homem ficaria isolado em seu corpo e a este mundo e não teria este relacionamento mais profundo com seu Criador. Sem esta capacidade, nenhum de nós tornaríamos a verdadeira pessoa que nós somos chamados a ser.A dimensão espiritual da pessoa que faz com a transcendência seja possível. Para alguns teólogos esta dimensão que é chamada de Espiritualidade. Para estudiosos como Nareen Cannon e Wilkie Au, os efeitos da transcendência leva as pessoas a terem uma profunda experiência de serem preciosos, aceitos, amados; sentir-se madura, em harmonia consigo mesmo, sem conflitos interiores e divisões. Sentir-se de uma forma impressionantemente funcionante, sente-se um com Deus e desta forma sua perfeita criatura, integrando-se completamente a todo ser humano criado do mundo sem marcas ou preconceitos.Na autotranscendência o espírito vem na sua total expressão. A experiência conscientemente plenificada faz com a vida se integre não de uma maneira a isolar ou auto absorção mas de uma auto transcendência em direção ao valor maior que nós denominamos de espiritualidade. Espiritualidade é um caminho de força motriz conscientemente que integra toda uma vida através do conhecimento autotranscendente, liberdade, e amor na luz dos valores mais altos buscados e obtidos. Para se fazer entender, é a capacidade mais profunda do ser humano. Sem a transcendência nós não caminharíamos em direção ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado e não haveria atitutes de busca em direção  a integração pessoal.Viktor Frankl afirma que a transcendência é o caminho para a busca dos sentidos humanos. Para encontrar os significados a pessoa tem que ir além de si mesmo para alcançar os outros e conectar com os outros e entrar num relacionamento com os outros. Os seres humanos são incompletos por si mesmos.Espiritualidade genérica e específica:

 

 Elizabeth Mackinlay, escreve em a Dimensão Espiritual do Amadurecimento a distinção entre espiritualidade específica e genérica. Que o componente genérico é mais amplo e mais vago e está no interior, na alma de cada ser humano e que busca e anseia para uma relação de vida e significado para sua existência. Os seres humanos podem encontrar esta necessidade correspondida em várias situações na vida, no amor, na alegria, no sofrimento, na dor e na perda.

O componente específico é entendido com o caminho que cada ser humano executa em direção a espiritulidade na sua vida. Este caminho pode ser a prática de uma determinada religião, e pode ser através de relação com outras pessoas e comunidades, através do trabalho ou através de centros de interesse e sentido da sua própria vida. Para esta autora, Espiritualidade é, o que está no interior, na alma, no âmago de cada pesssoa, é a sua dimensão essencial que traz os sentidos para sua vida. É sabido que espiritualidade não é constituída apenas por prática religiosa, mas deve ser entendido com espectro maior, no relacionamento com Deus, contudo Deus é compreendido por uma pessoa nas suas relações com o próximo.

Espiritualidade e Espírito Saudável: A espiritualidade não está confinada ao lado intelectual da vida. Rolheiser comenta que espiritualidade é o que fazemos com nosso fogo interior, como nós canalizamos o nosso eros. E como nós canalizamos e disciplinamos nossos atos de forma a dirigirmos nossa vida, promovendo uma integração ou desintegração dos nosso corpo, mente e espírito e uma maior integração com Deus, com os outros  e com o Universo.

Uma espiritualidade saudável leva a integração e nos protege contra nossas tendências difusas em direção a fragmentação e despersonalização. Uma espiritualidade saudável mantém a alma saudável. Uma alma saudável nos dá energia e fogo, assim nós não perdemos vitalidade e todo o senso de beleza e alegria de viver. O oposto de uma pessoa espiritualizada não é um ateu ou alguém que rejeita Deus e vive como uma pagão. O oposto de um ser espiritual é uma pessoa sem energia e que tenha perdido todo o sabor de viver.

Rolheiser determina que uma alma saudável deve conter certas coisas:

– Deve colocar fogo em suas veias. Ser  vibrante com sabor, e cheio de esperança. Ter absoluta certeza de que a vida é bela e vale a pena viver. Onde isto estiver roto dentro de nós, lá estará errado em nossa alma. Quando o cinismo, desespero, amargura ou a depressão paralisa nossa energia interior, um pedaço considerável da nossa alma estará ferida.

Saúde Espiritual:

Desde que tem sido amplamente reconhecido que o ser humano é um ser espiritual ou tem uma dimensão espiritual no mundo, mais e mais cuidados profissionais, sejam igrejas ou pastorais de saúde, são solicitados para atender o bem estar espiritual com parte do cuidado médico hospitalar. Bem estar não é somente o bem estar físico, mental e emocional. Atualmente faz parte nos melhores centros do mundo civilizado o cuidado espiritual. AssEm im não há apenas apoio físico e mental aos doentes mais espiritual.

Na Grã-Bretanha, uma lista de cuidados espirituais foi criada para atender os enfermos:

– Necessidade para dar e receber amor

– Necessidade de ser compreendido.

– Necessidade de ser valioso como ser humano.

– Necessidade para o perdão, esperança e confiança.

– Necessidade para praticar crenças e valores.

– Necessidade para expressar seus verdadeiros sentimentos.

– Necessidade de sentido e propósito para a vida.

 Todo o ser humano independentemente da crença ou cultura têm essas necessidades. Elas surgem de nossa natureza espiritual. Assim seria fácil iniciar o encontro dessas necessidades espirituais no nível puramente psicológico ou psicosocial. Também seria fácil assumir que essas necessidades são entendidas da mesma maneira por todos. Como nós entendemos e encontramos as necessidades espirituais dependerão certamente da fé e da cultura. O modo Cristão de encontrar essas necessidades difere muitíssimo dos hindus ou agnósticos. Este é o ponto que Mackinlay chama de “espiritualidade específica”. As necessidades espirituais dos pacientes Católicos normalmente envolverão da celebração dos Sacramentos, a saber, reconciliação, unção dos enfermos e Eucaristia. O Capelão em um hospital é o representante da comunidade Católica para cuidar dos enfermos. Muitos se queixam que não são informados pelos hospitais de não os informarem quem é Católico e está internado onde. Isto faz com que muitos Católicos se sintam privados de receber os Sacramentos e seus cuidados espirituais da sua própria Igreja. Quanto mais os direitos dos pacientes católicos são obedecidos mais e mais enfermos são tratados de forma adequada, e mais curas total são observadas.

Uma necessidade de sentido é universal. Como Frankl disse:”Seres humanos não podem viver sem sentido”. A vida se torna vazia, apática em grave perigo de ser findada. Sem uma proposta de vida a pessoa morrerá. O dar e receber amor é visivelmente uma necessidade espiritual das mais importantes. O Papa João Paulo II, o Grande, em sua primeira encíclica, Redemptor Hominis, ratifica as anotações dos enfermeiros… “Os seres humanos não podem viver sem amor. Eles se tornam seres que são incompreensíveis para eles mesmos, suas vidas ficam sem sentido, se o Amor não for revelado para eles, se eles não encontrarem o Amor, se eles não experimentarem e darem, se eles não participarem em seus íntimos o poder do Amor”.

Pesquisas Científicas:

 Pesquisas médicas recentes nos Estados Unidos tem acumulado evidências nos últimos vinte anos no poder de Cura da oração de intercessão. Herbert Benson, um Catedrático Médico da Universidade de Harvard, Boston, publicou um livro entitulado Timeless Healing onde ele desenvolve a tese de que o ser humano é “ligado a Deus”.  Ele escreve:

“A pouca ciência afasta o homem de Deus enquanto que a muita ciência o faz aproximar de Deus” usando a frase de Pasteur. Nos últimos 30 anos o Dr. Benson tem estudado a interface entre medicina e espiritualidade, de tratamento médico e oração de intercessão. Ele escreve com humildade e simplicidade:

“Meus pacientes tem me ensinado muitíssimo sobre a oportunidade que surge quando barreiras artificais são quebradas, e como elementos físicos inspiram a busca na alma de um reavivamento do sentido da vida, e como o espírito humano aviva e tranforma o corpo”.

O Ministério de Cura, o qual tem até recentemente, muito pouco suportado no mundo médico e infelizmente na própria Igreja, agora tem fortes argumentos que sustentam em muitas universidades e hospitais universitários. Além disto Dr Larry Dossey nos diz que: “Vários cursos e seminários, bem como prática com Ministros de Cura tem sido aplicado em mais de cinquenta Faculdades de Medicina dos Estados Unidos”. Isto é verdadeiramente histórico, pois durante todo o século Vinte o ensino religiosos e as práticas de intercessão foram banidas do meio universitário, pelo cientificismo. E agora revive com toda a força de algo que a ciência reconhece como relevante no cuidado de todo paciente que o deseja receber. 

Não seria suprema ironia se doravante os médicos se sentissem muito mais a vontade para ministeriar orações de Cura nos pacientes do que os próprios sacerdotes?

Dr . Harold Koenig da Faculdade de Medicina de Universidade Duke – EUA, aponta:

– “A falta de compromisso religioso na vida de uma pessoa tem o mesmo efeito na mortalidade ao equivalente a quarenta anos de uso de um maço de cigarro por dia “.

Dois cientista renomados, Andrew Newberg e Eugene D’Aquili escreve:

“Até 1994, por exemplo, a Associação Americana de Psquiatria oficialmente classificava “fortes convicções religiosas” como transtorno mental, contudo publicações nos últimos 3 anos, pelas mesma entidade considera que práticas religiosas e crenças  pode melhorar a saúde mental e emocional em diversas maneiras”. Por exemplo, o índice de suicídio, alcoolismo, dependência química em geral, divórcio, são muito menos evidentes entre os religiosos do que entre os não religiosos. Isto infere diretamente mostrando que pessoas religiosas sofrem muito menos de ansiedade e depressão do que o restante da população e que eles se recuperam muito mais rapidamente quando apresentam tais doenças.

O mundo científico e médico tem agora reconhecido a legitimidade do cuidado espiritual e pastoral para os doentes. Dra. Elizabeth McSherry, uma Professora Titular da Cátedra de Pediatria da Universidade da Califórnia, São Francisco, tem pesquisado os efeitos do cuidado pastoral em pacientes nos hospitais e concluiu:

– A maioria dos pacientes com cirurgia cardíaca que recebeu visita do Capelão tiveram em média dois dias a menos de internação hospitalar, comparado com os que não receberam intervenção pastoral especializada. E em pacientes que receberão cuidados extra pastoral sofriam de menos depressão pós cirúrgica, desta forma inferindo a importância da relação entre doença coronariana e depressão, e como o cuidado pastoral interfere suavizando esta relação.”

O mundo científico agora está levando muito mais a sério o mundo espiritual. Fé e ciência pode agora entrar num diálogo construtivo no cuidado de uma pessoa por inteiro. Por muito tempo o domínio da fé era restrito a dimensão da alma enquanto que o corpo era visto como parte exclusiva da ciência. Enquanto fé se traduzia por salve a alma, e ciência salve o corpo. Isto se baseava na falsa dicotomia que dividia o corpo da alma, mas não mais lugar para isto. Medicina moderna se preocupa por inteiro com o bem estar do paciente, visando reintegrá-lo ao bem viver por completo.

Assim Medicina e Espitualidade tomam um papel mais holístico abrangendo o ser humano em toda a sua totalidade e nas relações pessoais também. Nós somente podemos nos dirigir a alma se levarmos o corpo de forma séria. A relação entre nossa realidade material, nosso corpo, e nossa realidade espiritual, nossa alma e nosso espírito, tem sido objeto de intenso debate filosófico e teológico através da história. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina:

– “A unidade da alma e do corpo é tão profunda que deveríamos considerar o corpo como a forma da alma. Pela alma espiritual que o corpo faz-se matéria e se torna com ser vivo, espírito e matéria, no homem, não são duas naturezas unidas, mas ao contrário, a união delas forma uma única natureza”.