Aquele que me envia é maior que eu...Terceira Parte

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Nossos momentos de partilha

 

Romanos 15, 16 : De ser ministro de Jesus Cristo entre os pagãos, exercendo a função sagrada do Evangelho de Deus.  E isso para que os pagãos, santificados pelo Espirito Santo, lhe sejam uma oferta agradável.

 

Como todos os amigos, tínhamos muitos momentos de partilha, pois viajávamos muito juntos. Guido gostava de contar as histórias  dos  Padre do Deserto, da Patrística, enfim, eram sempre muito cheias de hipérboles, mas o leitor ávido por estas delícias da fé por favor me acompanhe.

A primeira ele me contava que havia um monginho que chegava para seu formador e dizia ele: –          Mestre, tenho obedecido a regra monástica, o que devo fazer para receber o fogo?  E o mestre dos monges respondeu: – Se queres ser do fogo receba o fogo! E imediatamente as mãos do monginho ser tornaram chamas vivas.

Quantas vezes buscávamos saber mais sobre os monges dendríticos, aqueles que viviam sobre as árvores e que recusaram ter São João Crisóstomo como um deles.

Que tal, as histórias de São Doroteu de Gaza, que vivia sobre uma pedra e as pessoas vinham de todas as partes ter com ele, pela sua Sabedoria. Ilustro com uma meditação deste maravilhoso Abade Sérido da Palestina : – «Imaginai que o mundo é um círculo, que o centro é Deus, e que os raios são as diferentes maneiras de viver dos homens. Quando estes, desejando aproximar-se de Deus, caminham para o interior do círculo, aproximam-se uns dos outros ao mesmo tempo que se aproximam de Deus. Quanto mais se aproximam de Deus, mais se aproximam uns dos outros. E quanto mais se aproximam uns dos outros, mais se aproximam de Deus. (Doroteu de Gaza, Instruções VI)»

 

Mas a grande preocupação do Guido era sobre a secularização das coisas sagradas. As pessoas sendo indiferentes ao Sagrado. Como estas coisas aconteciam ao nossos olhos. Ele dizia que o Anjo da Guarda das meninas do Rio de Janeiro cobriam as áreas desnudas, os seios das mulheres aqui no Rio quando iam para a Eucaristia.

Quantas pessoas passavam indiferentes a uma Igreja, onde está na Capela do Santíssimo o próprio Jesus, O Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Quanto desrespeito ao Sagrado. Como são importantes as vestes que os religiosos usam. Como  o Inimigo aproveita do fato de não se reconhecer o Religioso como tal. Quantas vezes fomos parados na rua porque trazemos o crucifixo a frente, para pedir uma oração. Quantas vezes estávamos caminhando com um Padre usando o Clégima e  o fiel vinha correndo implorar uma Confissão!

Tinhamos o hábito de vez em quando ouvir uma Pregação juntos ou assistir um filme. O nosso favorito era Pedro ( Omar Sharif), no ato da tríplice confissão), que benção.

Guido me ensinou a ter por hábito e por amor a leitura diária das Laudes e das Vésperas, e quando viajámos fazíamos quase todo o Oficio juntos. Que riqueza poder orar com a Palavra, e em cada tempo uma riqueza.

Um dos nossos últimos encontros se deu num convite que ele me fez a mim e a Leticia e os nosso filhos para irmos juntos para Friburgo passar um final de semana. Eu me lembro de cada detalhe, de cada segundo daqueles dias. Suas sobrinhas tem a mesma idade dos meus, então foi um lazer completo.

Ficamos juntos o tempo todo, e a toda hora subíamos à sala de leitura para fazermos as leituras do Ofício. Aqueles momentos foram abençoados, pelas leituras, pela partilha tão rica em discernimentos, em sabedoria. Assistimos o filme Pedro com a palavra na mão para partilharmos melhor, enquanto todos tinham ido a outro lugar. Foi então que Guido me revelou que naqueles dias ele tinha sentido muito forte a presença de Deus nele, pois foi num dia chuvoso que ele perguntou ao Senhor que ele gostaria muito de ir fazer como de costume uma adoração na Igreja de São Cristovão.  Porém ao sair se deparou com uma chuva que se aproximava dele, e proclamando a palavra ordenou: Chuvas e orvalhos bendizei ao Senhor e Ele a glória e ou louvor eternamente. Ele vinha caminhando e a chuva atrás sem chegar nele até a Igreja. Pois bem, entrou na Igreja e água desceu forte. Quanto terminou suas três horas repetiu a Palavra de (Daniel 3) e retornou para casa a pé enxuto.

Amo contar esta história, pois representa o que sempre o povo de Deus fez e deveria fazer até hoje. Não é palavra mágica mas a Palavra de Deus tem poder. Quantas vezes proclamamos a Palavra de Deus e vemos estas maravilhas, eu aprendi com o Monsenhor Jonas isso e jamais deixo de praticar pois a Palavra de Deus é viva e eficaz.

Não sei o quanto as pessoas experimentaram estarem na presença do Guido, mas para mim sempre significou algo que Deus tinha muita pressa. Deus queria muito nosso caminho unidos, pois estes dons e carismas que o Senhor nos tinha confiado era como um rocha e como um dínamo incandescente no vigor e na disposição. Isto se dava pois éramos Ungidos pelo Espirito Santo. Assim como nos atos dos Apóstolos as coisas aconteciam tão rapidamente e de forma profusa, também assim nós nos sentíamos. Tínhamos muita sede de almas. Quando estávamos separados jogávamos as redes ao nosso redor, daí não vínhamos a hora de estarmos juntos para partilharmos o que Deus havia feito naquele dia ou naqueles dias em que ficávamos distantes. O Espírito Santo de Deus nos conduzia a lugares onde Jesus queira visitar. Quantas vezes no meio do caminho tínhamos nossas fraquezas, bem honestas perguntando ao Senhor se não era um pouco nossa impulsividade que nos remetia aqueles lugares, Guetos, favelas, Grupos de oração distantes e lugares considerados perigosos. Mas era vir esta tentação em nossas mentes que em seguida Deus nos respondia com muita clareza que estávamos ali por ele e não por nós, e que nada de mal poderia nos acontecer. Estas palavras eram sempre como  um grande refrigério em nossos corações. Quando estávamos juntos, estávamos prontos para obedecer ao chamado de Jesus ( Lucas 5, 1-5) e jogar as redes em águas mais profundas. Estes eram os dias onde jejuávamos quase o dia inteiro porque a Missão exigia que fosse assim. Chegávamos onde era a Missão e o Ministério ia acontecendo naturalmente, desde nossa oração um pelo outro e depois na Pregação kerigmática do Guido, da minha complementação, das nossas orações de poder, de cura e libertação e finalmente  o momento onde impúnhamos as mãos sobre os irmãos e orávamos um por um pedindo o Batismo do Espírito Santo. Muitos se perguntam, mas vocês faziam isto mesmo nos batizados! Nossa resposta era que  as pessoas são batizadas e guardam este Sacramento no fundo do coração, comparando a um copo seria no fundo do mesmo, enquanto o sobrenadante seria liquido em repouso. Quando pedimos o Batismo de Espirito Santo, este mesmo Batismo que os irmãos haviam recebido no inicio de suas vidas, como que renascia tempestuosamente, de tanta efusão chegava a transbordar, e a sensação que se segue a esta efusão é uma Sóbria Embriaguez do Espirito, como nos Atos dos Apóstolos. Muitos se manifestavam em alegria crescente, outros num repouso profundo, outros num choro incontido, outros  numa Paz que nunca haviam experimentado antes.  Como diz São João no seu Evangelho capítulo terceiro, no diálogo com Nicodemos ( Joao 3, 5) “ Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. Necessário vos é nascer de novo”! Para mim este o Rema de toda nossa Missão. Levar os irmãos a uma experiência concreta com o Espirito Santo e buscar o Reino de Deus. Esta sóbria conversão não tem outro jeito se não levar o irmão a mudar de Vida. Um grande filósofo ateu deste tempo dizia que: – Eu não sei o que acontece com este povo que está experimentando o novo derramamento do Espírito, mas o que eu sei é que eles verdadeiramente mudam de vida!

Como começávamos nossas missões! Sempre iniciávamos pregando que Deus é Amor! Vivemos um tempo do neopaganismo. As pessoas foram excluindo Deus do mundo e de si mesmo. Talvez em toda a história do homem nunca as pessoas tenham valorizado tanto riqueza, prazer, poder e honra ( Sto. Tomas de Aquino) como agora. Substituíram Deus com estes ídolos. Vivemos uma sociedade deísta, ou seja, são Deus de si mesmos. Carpe Diem, tudo pelo prazer. Mas o homem não tem vocação para outra coisa se não para o Ágape, para o Amor que somente Deus pode dar. Assim por este Amor incondicional de Deus ser impedido de entrar nas casas, nas famílias, nos relacionamentos, no trabalho, na sociedade e nos que governam, e pior, excluindo símbolos da Fé verdadeira dos locais públicos e dos lares, o povo vai ficando sem vida, pela escassez do elemento vital que somente o Cristianismo traz, a Alegria, quando Jesus diz: – Que a Minha alegria seja vossa  para que a vossa seja completa. O ser humano sem Deus é um povo carente, muito carente, excessivamente carente e busca nos ídolos razões para preencher este imenso vazio.

Portanto quanto anunciamos ao batizados e não batizados que Deus caritas est, ou seja Deus é Amor! Quem Ama conhece a Deus e quem não ama não conhece a Deus porque Deus é Amor ( 1 Joao ). A alma dos irmãos parece que desperta de um sono profundo. De uma vida escura, escurecida pelas tentativas frustradas de buscar preencher o íntimo da alma com coisas de fora, donde surge a falsa alegria, melhor dizendo a Euforia. Que no inicio parece que ameniza a situação, mas que traz consequências desastrosas ao coração, levando o ser humano a depressão, angustia , opressão, inquietação, distimia, tristeza, remorso, mágoa, perda da estima, perda do valor do seu sagrado, perda da vontade de viver, pensamentos suicidas. Voltando ao ponto, quando esta alma enganada pelas teorias mundanas de felicidade, ouve falar de que o importante não acreditar em Deus, mas Crer que Ele te ama, um turbilhão renasce de dentro para fora, se projetando na direção daquelas palavras de Vida Eterna que estão sendo proferidas, e o que antes parecia tão distante, tão irreal, tão impossível, torna-se palpável, visível aos olhos, sensível ao coração…Assim acontece com aqueles que nasceram do Espirito…Assim acontece com aqueles que contemplam o Deus de Israel face a face, e que diz: – És precioso para Mim! Ainda mais contundente: – Não foi para isto que Eu te criei!

Assim os personagens do Evangelho começavam a aparecer novamente, pois sempre estão e estarão perto de nós. Doentes, inválidos, desvalidos, prisioneiros, drogados, embriagados, prostitutos, adúlteros, salteadores, ladrões, assassinos, dependentes de remédios, de pessoas ou de coisas, perturbados mentais, mal humorados, avarentos, corruptos, consagrados a outros deuses, cegos, surdos, coxos, mutilados e toda espécie de produto da ação do Inimigo de Deus no mundo. Ao se proclamar a Palavra de Deus as cadeias iam se abrindo, os cativeiros eram desfeitos, as chagas iam desaparecendo, as deformidades iam se reajustando, as transgressões iam se dissipando, pois iam se afastando os condutores do Mal, como São Paulo nos adverte em sua Carta aos Efésios ( 6;10), mas também em outro momento vai nos provocar: – Quem poderá nos afastar do Amor de Deus!

O povo cativo buscava este encontro, como o salmista clamava, como terra sedenta e sem água…Ou ainda no Evangelho do Bom Pastor, dizemos com Cristo, não conhecemos outra voz, somente a sua Senhor! O Kírios! Acima de tudo e de todos, o Reis dos Reis, Senhor dos Senhores. Não há nada acima de ti Senhor, alfa e ômega principio e fim.

Eram tantos os que seguiam o Guido e que nos seguia, e de novo, a imagem que mais me ardia no peito era: – Tenho sede de almas!

Levávamos os irmãos a contemplar a Cruz e nela o Amor de Jesus por nós. Os ignorante na fé tem uma série de dificuldades com a Cruz, como se dissessem, Ele Ressuscitou, não está mais na Cruz, então vamos ficar apenas com esta imagem mais leve. E de novo fitando a Cruz, respondemos como  Paulo, nós pregamos Cristo e Cristo Ressuscitado. Muita arte Sacra mundo a fora, mostra a face sóbria e amorosa de Jesus no alto da Cruz. Toda a nossa vida está escondida no mistério da Cruz. Temos uma festa no ano própria para Exaltar a Santa Cruz. Na cruz estão sepultadas com Cristo tudo aquilo que nos impede de chegar a Deus. Este é o grande Mistério, e não Segredo, que nos dá Rumo, direção, conteúdo, forma, altura, largura e profundida como seres criados para Amar e comunicarmos Amor! Ali Ele , o Kírios faz nova todas as coisas( 2 Cor 5).

Amados durante todo este tempo em que fomos Paulo e Barnabé guiados pelos dedos de Deus, adestrados para luta e ungidos para Guerra, deixamos com Cristo um pouco do nosso perfume nas mãos de todos aqueles e aquelas que participavam dos nossos momentos de Oração. Tenho certeza que aquilo que o Senhor nos pediu e pede nós sempre demos tudo de nós para chegar ao fim. Na nossa imperfeição contávamos com a perfeição do Kírios, Senhor Jesus Cristo ( 2 Cor 12,10).

Clamávamos ao final que todos não se acomodassem aquele momento. Mas que como resposta a grande Misericórdia de Deus derramada nos corações naquele dia, que buscássemos servir a Deus de alguma maneira, evangelizando com atos concretos, indo aos lugares onde Jesus gostaria de ir, sermos dóceis ao chamado amoroso do Senhor que bate a porta ( Apo 3). Como nosso grupo de voluntários, engajados crescia e se espalhava pela região onde aconteciam estes encontros, seja aqui no Rio como em outras regiões.

Esta passagem o Guido gostava de proclamar ao final, no momento do envio: – Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros. Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos no espírito. Servi ao Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade. Abençoai os que vos perseguem; e não os praguejeis ( Romanos 12, 9-14).

Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espirito Santo e anunciavam com intrepidez a palavra de Deus ( Atos 4,31).