A apresentação de Maria e a consagração

A celeste menina Maria, que se apresenta no Templo, é modelo por excelência de consagração, de entrega total a Deus.

Ao celebramos a festa da Apresentação da Santíssima Virgem Maria, é significativo que meditemos sobre a sua consagração total a Deus, Uno de Trino. A princípio, a apresentação da menina Maria no templo de Jerusalém pode não parecer um evento extraordinário. Pois, a consagração de uma menina era algo comum na tradição judaica. No entanto, há alguns fatos transmitidos a nós pela Tradição da Igreja que nos ajudam a compreender a apresentação de Maria no Templo como um desígnio especialíssimo de Deus.

A celeste menina Maria, que se apresenta no Templo, é modelo por excelência de consagração, de entrega total a Deus.

A Apresentação da menima Maria no Templo

Podemos dizer que o primeiro milagre do Filho de Deus foi a Imaculada Conceição de sua Mãe, Maria Santíssima. Pois, a celeste Menina foi preparada pelo Verbo de Deus para ser a sua Mãe, para dar a Ele a sua humanidade. Nascida sem a mancha do pecado original, a menina Maria foi consagrada a Deus para que nela se realizasse o mistério da Encarnação do Verbo Eterno. Esta entrega radical de Maria ao Senhor, de certo modo, diz respeito ao chamado divino de também nos consagrar inteiramente a Ele.

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A Menina consagrada desde o ventre materno

Segundo a Tradição da Igreja, os pais da Virgem Maria, São Joaquim e Sant’Ana, não podiam ter filhos, pois eram estéreis. Sendo judeus, os pais de Nossa Senhora sofriam com o preconceito por parte de seu povo. Pois, no judaísmo, um casal sem filhos é considerado amaldiçoado. Joaquim e Ana eram piedosos e queriam dar filhos para Deus. Por isso, fizeram uma promessa: se tivessem um filho, seria consagrado ao Senhor. Depois de algum tempo, Santa Ana engravidou e deu à luz a Santíssima Virgem, a quem deram o nome de Maria.

Ainda no ventre de sua mãe, a Virgem de Nazaré foi consagrada inteiramente a Deus. Esta era uma prática comum para os judeus daquela época. Para cumprir a promessa de seus pais, com apenas três anos de idade, a menina Maria apresentou-se livremente no Templo de Jerusalém. Lá ela permaneceu até os doze anos, pois estava prometida em casamento a São José. Entretanto, Nossa Senhora era uma virgem consagrada e não pretendia quebrar a promessa feita pelos seus pais. O glorioso São José seria o guardião da Santíssima Virgem, o que também era uma prática comum para os judeus. Sendo assim, ela hesitou diante do anúncio do Anjo de que conceberia Jesus: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” (Lc 1, 34).

Por uma graça ainda maior que a sua Imaculada Conceição, a Virgem de Nazaré concebeu por obra do Espírito Santo e deu à luz o Filho do Altíssimo, permanecendo intacta, totalmente consagrada a Deus. Aquela que, desde a sua mais tenra idade, foi consagrada no Templo de Jerusalém tornou-se o primeiro templo vivo de Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado.

A Virgem Maria como modelo de consagração a Deus

Por disposição divina, Nossa Senhora nos precedeu enquanto membros da Igreja de Cristo, para mostrar-nos como devemos entregar as nossas vidas a Deus. Santo Afonso Maria de Ligório afirma que “uma oferta maior e mais perfeita do que a de Maria, ainda menina de três anos, nunca foi e nunca será feita a Deus por uma mera criatura”[1]. Por conseguinte, temos na Mãe de Jesus o modelo mais perfeito de consagração, de entrega total a Deus.

A Santíssima Virgem é a primeira Igreja e o novo Templo de Deus, no qual o Filho do Altíssimo veio habitar, fazer Sua morada. Com a vinda do Verbo de Deus ao mundo, teve início um novo tempo, pois n’Ele realizou-se o mistério da Redenção. Pelo Batismo, nos tornamos filhos de Deus e consequentemente somos, à semelhança de Maria, templos de Deus.

Certamente que a graça recebida pela Mãe de Deus é incomparável. “A graça que adornou a Santíssima Virgem sobrepujou não só a de cada um em particular, mas a de todos os santos reunidos”[2]. No entanto, recebemos uma graça que ela não recebeu. Pelo Batismo, nos tornamos filhos de Deus e templos da Santíssima Trindade. Além dessa graça extraordinária, que foi recebida primeiramente por Nossa Senhora, podemos ter em nosso espírito, em nosso organismo espiritual, a presença materna de Maria.

Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “Apresentação de Nossa Senhora”:

A consagração e a presença de Nossa Senhora

A Virgem Maria é Rainha do Céu e da Terra por graça e Jesus Cristo é Rei por natureza e conquista. O Reino de Jesus Cristo se faz presente principalmente em nosso coração, em nosso interior, segundo estas palavras de São Lucas: “O Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17, 21) e, da mesma forma, o Reino da Santíssima Virgem está principalmente em nosso interior, em nossas almas. “É sobretudo nas almas que Ela é mais glorificada com seu Filho do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la, com os santos, Rainha dos corações”[3].

São Luís Maria Grignion de Montfort ensina que Nossa Senhora recebeu de Deus um grande poder sobre as nossas almas: “Por singularíssima graça, o Altíssimo, tendo-lhe dado o poder sobre o seu Filho Único e natural, lhe deu também sobre os Seus filhos adotivos, e isto não somente quanto ao corpo, o que seria pouco, mas também quanto à alma”[4].

Apesar de ter recebido de Deus esse grande poder sobre nossos corpos e nossas almas, a Santíssima Virgem não pode fazer em nós sua morada, como Deus Pai lhe ordenou; formar-nos, alimentar-nos e gerar-nos para a vida eterna como nossa Mãe; receber-nos por sua herança e propriedade; formar-nos em Jesus Cristo e Jesus Cristo em nós; lançar em nossos corações a raiz das suas virtudes e ser a companheira inseparável do Espírito Santo nas obras de sua graça; não pode fazer tudo isto se não tiver direito e poder sobre as nossas almas[5]. Sendo assim, consagremo-nos inteiramente a Virgem Maria, para que ela se faça presente em nós e possa gerar-nos em Jesus Cristo e Jesus Cristo em nós.

Oração de Santo Afonso Maria de Ligório a Menina celeste

Ó santa e celeste menina, vós que sois a Mãe destinada ao meu Redentor, e a grande medianeira dos míseros pecadores, tende piedade de mim. Eis aqui aos vossos pés outro ingrato, que a vós recorre e implora compaixão. É certo que eu, por minhas ingratidões para com Deus e para convosco, mereceria ser abandonado por Deus e por vós. Mas eu ouço dizer, e assim creio, que vós não recusais ajudar quem com confiança a vós se recomenda. Assim o creio por saber quanto é grande a vossa misericórdia. Ó criatura, a mais sublime do mundo, já que acima de vós não há senão Deus, e diante de vós são mui pequenos os grandes céus; ó santa dos santos, ó Maria, abismo de graça e cheia de graça, socorrei um miserável, que a perdeu por sua culpa. Sei que sois tão cara a Deus que ele nada vos nega. Sei também que gostais de empregar vossa grandeza em aliviar os miseráveis pecadores. Eia, pois, mostrai quanto é grande o crédito que tendes junto a Deus, e impetrai-me uma luz, uma chama divina tão poderosa, que de pecador me mude em Santo. Desprendei-me de todo afeto terreno para que eu me abrase todo no divino amor. Fazei-o, Senhora, que bem podeis fazê-lo. Fazei-o pelo amor daquele Deus que vos fez tão grande, tão cheia de poder e de piedade. Assim espero. Amém[6].

Nossa Senhora da Apresentação, rogai por nós!

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A Apresentação de Nossa Senhora e a consagração.

TODO DE MARIA. A 7ª Campanha de Consagrações a Virgem Maria.

TODO DE MARIA. Como fazer a consagração passo a passo?.

Referências:


[1]  SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria, p. 272.

[2]  Idem, p. 259.

[3]  SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 37.

[4]  Idem, 38.

[5]  Cf. idem, 37.

[6]  SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit., p. 271.

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